Georgia O’Keeffe, Sem título - Abstração com onda vermelha e círculo, 1979
O Amrita Bindu Upanishad é mais um dos cinco Upanishads que levam no título a palavra “bindu”, que no sânscrito significa ponto ou gota, e indica um ponto de início e fim da manifestação cósmica. Este presente texto é conhecido como o Upanishad da gota (bindu) do néctar da imortalidade (amrita) e oferece caminhos para chegar ao objetivo do Yoga: a superação da morte através da distinção entre o que se é e não é, e o reconhecimento da importância de dominar a mente e dirigi-la para o Atma. Há duas versões deste manuscrito, esta aqui traduzida com 22 versos e outra mais estendida, com 38 versos. Tal é a importância do Amrita Bindu que ele é considerado por alguns escolásticos como o manuscrito que precede os Yoga Sutras de Patanjali por propor primeiramente seis componentes para a prática do iogue - a saber: pratyahara [retenção dos sentidos], dhyana [meditação], pranayama [respiração correta], dharana [concentração], tarka [reflexão e raciocínio interno entre a mente e a alma; este ponto não faz parte da listagem de Patanjali] e samadhi [transcendência] -, e por isso teria servido de base para a proposta com oito componentes que Patanjali deu a seu Ashtanga Yoga mais tarde.
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Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.
Que possamos trabalhar juntos com grande energia.
Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.
Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).
Om,
Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
1. A mente é descrita principalmente como sendo de dois tipos: pura e impura. A mente impura é aquela que fica possuída pelo desejo; a mente pura é aquela desprovida de desejo.
2. De fato, é a mente que causa a servidão dos homens e a liberação. A mente que está atrelada aos objetos dos sentidos leva à servidão, e quando ela dissocia dos objetos dos sentidos, tende a conduzir à liberação. Assim é dito.
3. Como a liberação se baseia na mente desprovida de desejo pelos objetos dos sentidos, ela deve estar sempre livre de tais desejos por aquele que busca a liberação.
4. Quando a mente, cujo apego pelos objetos dos sentidos foi aniquilado, está totalmente controlada dentro do coração e assim percebe sua própria essência, aquele Estado Supremo é alcançado.
5. A mente deve ser controlada até o ponto em que se funde ao coração. Isto é Jnana (realização) e também é Dhyana (meditação), tudo o mais é argumentação e verborragia.
6. O Estado Supremo não deve ser considerado como algo externo e que satisfaça à mente, nem deve ser considerado como algo desagradável à mente, nem deve ser considerado como sendo da forma do prazer sensório, mas deve ser considerado como sendo a essência da verdadeira Bem-Aventurança Suprema, sempre manifesta e eterna. Aquele Brahman que está livre de toda parcialidade [indivisível] é atingido neste estado.
7. Deve-se praticar devidamente a concentração em Om, primeiramente através das letras, depois meditar em Om sem as letras. Finalmente, após a realização com este segundo tipo de meditação em Om, a ideia de não-entidade é atingida como entidade.
8. Isto é verdadeiramente Brahman, sem partes componentes, sem dúvida ou mácula. Ao realizar “Eu sou Brahman”, torna-se o imutável Brahman.
9. Brahman é infinito, além da razão e da analogia, além de todas as provas e do conhecimento sem causa dos quais o sábio se liberta.
10. A Verdade mais elevada é aquela consciência pura que percebe: “Não existe controle da mente, nem sua entrada em ação”, “Eu não estou preso, nem sou um adorador, nem um buscador da liberação, nem alguém que tenha atingido a liberação”.
11. De fato, o Atma deve ser conhecido como sendo o mesmo em seus estados de vigília, sonho e sono sem sonhos [sonho profundo]. Para aquele que transcender os três estados não haverá mais nascimentos.
12. Por ser o Um, a Alma universal está presente em todos os seres. Embora apenas Um, Ela é vista como muitas, como a lua na água.
13. Assim como um jarro que é levado de um local para o outro muda de lugar e não o akasha [o espaço] contido no jarro, do mesmo modo é a Jiva [alma individual] que se assemelha a este akasha.
14. Quando as formas, por exemplo o jarro, se quebram, o espaço não sabe que elas quebraram, mas Ele sabe perfeitamente.
15. Envolto em Maya, que é um mero som, Ele não conhece, através da escuridão, o Akasa (o Bem-aventurado). Quando a ignorância é dissipada, Ele, em Si mesmo, só vê a unidade.
16. O Om, enquanto palavra, é primeiramente visto como o Brahman Supremo. Após esta palavra-ideia se esvair, aquele Brahman imperecível permanece. O sábio deve meditar naquele Brahman imperecível se deseja a paz de sua alma.
17. Dois tipos de conhecimento devem ser considerados: a palavra Brahman e o Brahman Supremo. Aquele que domina a palavra Brahman alcança o Brahman Mais Elevado.
18. Após estudar os Vedas, aquele que é inteligente e tem como única intenção atingir o conhecimento e a realização, deve descartar os Vedas, da mesma maneira como uma pessoa que consegue arroz descarta a casca.
19. Mesmo com vacas de cores variadas, o leite tem a mesma cor. O inteligente reconhece Jnana [conhecimento] como o leite e os Vedas de muitas ramificações como as vacas.
20. Assim como a manteiga escondida no leite, a Consciência Pura reside em cada ser. Ela deve ser constantemente despertada pela força da mente.
21. Segurando-se à corda do conhecimento, deve-se trazer à tona, como um fogo, o Brahman Supremo. Eu sou aquele Brahman indivisível, imutável e calmo.
22. Aquele onde residem os seres, e Aquele que reside em todos os seres, devido à virtude de que Ele é o concessor da graça a todos - Eu sou aquela Alma do Universo, o Ser Supremo, Eu sou aquela Alma do Universo, o Ser Supremo.
Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.
Que possamos trabalhar juntos com grande energia.
Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.
Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).
Om,
Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
Aqui termina o Amrita Bindu Upanishad, como contido no Krishna Yajur Veda.
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Publicado pelo Advaita Ashrama, Calcutá
Traduzido para o inglês por Swami Madhavananda
Traduzido para o português por Mariângela Carvalho
[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]
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