Wednesday, January 29, 2025

Yoga Chudamani Upanishad

 


Este Upanishad sobre a Joia Suprema da Yoga ressalta algumas práticas para o aspirante atingir os frutos de yug, a união com o Supremo, como as práticas de contemplação do Hamsa Mantra e Pranayama. Na tradução para o inglês de P.R. Ramachander há muitos versos indisponíveis, mas é possível ler o Upanishad na íntegra na versão (em inglês) de Swami Satyadharma.


Baixe em PDF: Academia.edu.


º º º

Om! Que meus membros e minha fala, o prana, os olhos, ouvidos, a vitalidade

E todos os sentidos tornem-se fortes. 

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca renegue Brahman, nem que Brahman renegue e mim.

Que não haja negação alguma.

Que não haja negação alguma vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishad estejam em mim,

Que sou devotado ao Atma. 

Que elas estejam comigo.

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim! 

1. Eu narrarei o Yoga Chudamani Upanishad com a intenção de fazer bem aos yogues. Este Upanishad é muito apreciado pelos mais antigos conhecedores da Yoga. Ele é secreto e capaz de conceder a salvação.

(Versos 2-29 estão indisponíveis)

30. A Jivatma (a alma do indivíduo físico) está sob controle do prana, que sobe e desce, assim como de apana [outro tipo de ar vital]. O apana atrai o prana, o prana atrai o apana. Aquele que conhece e percebe esta atração mútua, que se move para cima e para baixo, compreende Yoga.

31. Este movimento [da respiração] vai para fora com o som de “ha” e volta para dentro com o som de “sa”. Os seres vivos entoam este mantra como “Hamsa, hamsa”.

32. Os seres estão sempre entoando este mantra, dia e noite, 21.600 vezes por dia.

33. Este mantra, chamado Ajapa Gayatri, traz a salvação para todos os yogues. Apenas um pensamento sobre este mantra já ajuda a livrar-se de todos os pecados.

34. Não há prática tão sagrada quanto esta, nenhuma entoação se equivale a esta, nenhuma sabedoria é equivalente, e, no futuro, é improvável que haja outra.

35. O Ajapa Gayatri que ascende da kundalini sustenta a alma. Esta é a maior dentre as ciências da alma. Quem souber disso, conhecerá os Vedas

36. O poder da kundalini está acima do muladhara em sua forma com oito pétalas [costumeiramente, o muladhara contém quatro pétalas; com oito pétalas, é sua versão transcendental] e está sempre cobrindo a boca de sushumna [o canal de energia mais importante que conecta os chakras], que é o portão de Brahman. 

37. É a Kundalini Parameshwari (a Deusa do Universo) que atravessa o portão de Brahman, fecha o portão com a boca e adormece.

38. Devido ao calor gerado pela prática da yoga, devido à velocidade do ar vital e devido ao poder mental dela, ela se levanta e, usando seu corpo em formato de agulha, sobe atravessando o canal sushumna. 

39. Assim como as portas de uma casa se abrem ao usar uma chave, o yogi deve abrir o portão da salvação usando a Kundalini. 

(Versos 40-71 estão indisponíveis)

72.1. Parabrahman é Om, é aquilo que existe, que é limpo, pleno de sabedoria, que não possui desvantagens, que é imaculado, indescritível, que não possui começo ou fim, que é um e apenas um, que é turiya, que existe em coisas do passado, do presente e do futuro, e que jamais será dividido. A partir deste Parabrahman emerge Parashakti, o aspecto feminino. Ela é a alma autorresplandecente. A partir desta alma surge o éter. Do éter surge o vento. Do vento surge o fogo. Do fogo surge a água, e da água, a terra. Estes cinco elementos são governados pelos cinco deuses: Sadashiva, Ishwara, Rudra, Vishnu e Brahma. Dentre eles, Brahma, Vishnu e Rudra fazem o trabalho da criação, manutenção e destruição, respectivamente. Brahma é rajásico, Vishnu é sátvico e Rudra é tamásico. Eles têm três propriedades distintas.

72.2. Dentre os deuses, Brahma foi o que primeiro surgiu. Dentre os que surgiram primeiro, Brahma se tornou o criador, Vishnu o mantenedor e Rudra o destruidor. De Brahma surgiram os mundos, os deuses, os homens e tudo aquilo entre eles. Dele nasceram coisas que não se movem. No caso do homem, o corpo é a forma unificada dos pancha bhutas (os cinco elementos). Os órgãos de conhecimento (jnanendriyas), os órgãos de ação (karmendriyas), as atividades relacionadas ao conhecimento e os cinco ares do corpo (prana, apana, etc.) estão na porção micro da mente; o intelecto, o poder de decisão e o sentimento de eu estão na porção macro e são chamados de sthula. Os órgãos de conhecimento, de ação, os cinco ares do corpo e o aspecto micro da mente e do intelecto são chamados de linga. O corpo tem três tipos de propriedades. Por isso, todos possuem três corpos. 

Há quatro estados do corpo: estado de vigília, sonho, sono e turiya (estado espiritual exaltado). Os Purushas [Mestres] que habitam em nosso corpo e que controlam esses estados são Viswa [o mestre do consciente; habita a dimensão física], Thaijasa [o mestre do subconsciente; habita a dimensão sutil], Prajna [o mestre do inconsciente; habita a dimensão da bem-aventurança (ananda)] e Atma [sarvasakshi, a testemunha de todos os estados simultaneamente e além deles]. Viswa detém as experiências macro. Diferente dele, Thaijasa detém as experiências micro. Prajna detém as experiências prazerosas. Atma é a testemunha de todos eles. 

73. O Atma, cuja forma é a de “Om”, está em todos os seres. 

74. Nas três letras, A, U e M, três Vedas, três mundos, três características, três letras e três sons brilham. Deste modo, Pranava [Om] brilha. Quando despertos, a letra A existe nos olhos de todos os seres; quando sonham, a letra U existe no pescoço [e garganta] de todos os seres; e a letra M existe no coração de todos os seres quando eles adormecem. 

75-78. A letra A existe em estado embrionário como Viswa, e no estado de pinda como Virat Purusha. A letra U existe como Thaijasa e Hiranyagarbha no estado micro. A letra M existe como estado causal e como Prajna. A letra A possui qualidades rajásicas, é vermelha e sua forma é a mesma do Senhor Brahma. A letra U possui qualidades sátvicas e sua forma é como a do Vishnu branco. A letra M possui qualidades tamásicas e sua forma é como a do Rudra negro. Brahma nasceu de Pranava. Vishnu também surgiu a partir dele, assim como Rudra. Pranava é o Parabrahman (Deus Supremo). Brahma se funde à letra A, Vishnu se funde à letra U e Rudra se funde à letra M. Em pessoas com sabedoria, Pranava está disposto para cima e entre os ignorantes está disposto para baixo. 

79. Pranava existe desta maneira. Aquele que sabe disso, conhece os Vedas. Na forma do som anahatha [o som do cosmos que é “ouvido” pelo chakra cardíaco], o Pranava se desenvolve verticalmente no caso das pessoas sábias.

80. O som de Pranava é contínuo como o fluxo do óleo e é longo como o som de um sino. Seu pico é Brahman.

81. Este pico se ilumina de maneira tão brilhante que não pode ser descrito com palavras. Os grandes sábios descobrem isso usando o intelecto afiado. Aquele que sabe disso é considerado como um conhecedor dos Vedas.

82. O Hamsa Mantra (mantra do cisne) brilha no entremeio dos dois olhos; a letra “sa” [em hamsa] é conhecida como kechari, que significa “aquilo que viaja pelo céu”. É consentido que “sa” equivale à palavra “tvam” (tu) no famoso dizer védico “Tat Tvam Assi”, “você é Aquilo”.

83. É consentido que a letra “ha”, que é o Senhor de todo o universo, é a palavra “tat” (“aquilo”), no dizer mencionado anteriormente. Temos que meditar que a letra “sa” é a alma viajando entre nascimento e morte, e a letra “ha” é o Deus estável.

84. A entidade viva está presa a seus órgãos, mas Paramatma não. A entidade viva é egoísta, mas a alma não está presa pelo egoísmo e é independente.

85. A luz etérea que é Om é também o Atma, em cujos aspectos surgem os três mundos: Bhu [plano terreno], Bhuva [plano intermediário] e Svah [plano celestial]. É também onde residem os três deuses das luzes: Agni (fogo), Soma (lua) e Surya (sol) [que residem nas três letras respectivamente].

86. A luz etérea que é o Om é também o Atma, em cujos aspectos surgem a “ação”, que é o poder de Brahma, a “vontade”, que é o poder de Rudra, e o “conhecimento”, que é o poder de Vishnu. 

87. Porque o Om é a luz etérea, ele deve ser pronunciado com palavras, praticado com o corpo e meditado com a mente. 

88. Aquele que recita Pranava, esteja ele limpo ou sujo, não ficará preso aos pecados que comete, como a folha de lótus que nunca se molha.

(Versos 89-102 estão indisponíveis)

103. Doze repetições de Om, que são chamadas de puraka, seguidas por dezesseis repetições de Om, que são chamadas de kumbhaka, e depois dez repetições de Om, que são chamadas de rechaka, é chamado de Pranayama.

104. A regra básica para fazer Pranayama é de, no mínimo, doze vezes, o que é considerado pouco; duas vezes essa quantidade (24) é considerada média; três vezes (36) é considerada uthama, a melhor.

105. No nível mais baixo, surge o suor; no nível médio, tremores; em uthama, a obtenção do objetivo. Após isso, surge o controle da respiração.

106. O Yogi deve, primeiramente, saudar seu Guru e o Senhor Shiva, e sentar-se na posição de lótus, concentrar a visão na ponta do nariz e praticar pranayama sozinho.

(Versos 107-108 estão indisponíveis)

109. Através da posição (de lótus), evitam-se as doenças; através de pranayama, evitam-se os pecados; através de pratyahara [retenção dos sentidos], controla-se a atividade mental.

110. Através da fé, a mente se fortalece e o Samadhi concede um conhecimento maravilhoso à entidade viva, e ela atinge a salvação, após serem destruídas as ações sagradas e as pecaminosas.

(Versos 111-112 estão indisponíveis)

113. Após [o yogi] ver o Paramjyothi [a luz de Parabrahman], que se espalha por toda parte, em Samadhi, os deveres e ações não permanecem nem passam.

(Versos 114-115 estão indisponíveis)

116. Se permanecermos firmes em pranayama, todas as doenças serão destruídas. As doenças se manifestam apenas para aqueles que são incapazes de fazer pranayama. 

(Versos 117-119 estão indisponíveis)

120. Pratyahara é o estado onde os órgãos dos sentidos, como os olhos, não se envolvem com os objetos externos, mas voltam-se para dentro de si mesmos. 

121. Assim como o sol retrai seus raios no terceiro período do crepúsculo [quando restam os últimos raios do sol], o yogi que está no terceiro estado [uthama] controla sua mente. 

Om! Que meus membros e minha fala, o prana, os olhos, ouvidos, a vitalidade

E todos os sentidos tornem-se fortes. 

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca renegue Brahman, nem que Brahman renegue e mim.

Que não haja negação alguma.

Que não haja negação alguma vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishad estejam em mim,

Que sou devotado ao Atma. 

Que elas estejam comigo.

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim! 

Aqui termina o Yoga Chudamani Upanishad, como contido no Sama Veda

º º º

Traduzido para o inglês por P. R. Ramachander

Traduzido para o Português por Mariângela Carvalho

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]


Tuesday, January 21, 2025

As flores são o sorriso de Krishna

 


Uma vez, ouvi do Swami Chandramukha que as flores são o sorriso de Krishna. Nunca esqueci dessas palavras. As flores desabrocham quando o Senhor abre Seu sorriso divino, além de serem uma das expressões mais belas da criação de Deus.


Prabhupada contou que quando vemos uma flor, estamos vendo o sorriso de Krishna, por isso, devemos utilizá-las em Seu serviço, uma vez que tudo é a energia Dele. “Uma flor que sentimos o perfume, que adoramos. Isso é gratificação dos sentidos. Igualmente, a mesma flor, se oferecida a Krishna em uma guirlanda, com a qual Ele sentirá o perfume e sentirá prazer, é bhakti”, disse Shrila em uma de suas conversas. 


A literatura vaishnava frequentemente descreve Krishna como sorridente e risonho. Aquele Seu sorriso de Gopala, que tanto enfeitiçou os moradores de Gokul por Sua graça de criança, é o mesmo que encorajou Arjuna quando este se encontrava prestes a desistir da guerra no campo de Kurukshetra. No Gita 2:10-12, temos: “Naquele momento, Krishna, no meio dos dois exércitos, sorriu e disse as seguintes palavras ao desconsolado Arjuna: ‘Ao falar palavras cultas, você está lamentando pelo que não é digno de pesar. Sábios são aqueles que não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos. Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem você, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir’”. Este trecho, muito comentado pelos acharyas, enfatiza que foi a partir do sorriso de Krishna que Arjuna se assegurou de que a guerra seria por um bem maior.




No Srimad Bhagavatam 2.1.31, o sorriso de flores de Krishna é retratado como “a energia material ilusória mais atraente”. É explicado que, no mundo espiritual, o sorriso de Krishna é a energia mais cativante, mas quando essa energia é refletida no mundo material, ela inverte e se torna maya, a energia que prende as entidades vivas à ilusão e à luxúria. Ainda no Bhagavatam (3.28.32), é dito: “Um iogue deve meditar no mais benevolente sorriso do Senhor Hari, um sorriso que, para todos aqueles que se curvam a Ele, enxuga o oceano de lágrimas causadas por intensa tristeza”. Em outro momento (3.8.27), é dito que os devotos não pedem nada ao Senhor em troca pelo serviço devocional a Ele. Até mesmo a mais alta liberação é recusada pelos devotos, embora seja oferecida pelo Senhor. Dessa maneira, o Senhor torna-Se um “devedor” do devoto e a única maneira de “pagar” pelos serviços devocionais é oferecendo Seu encantador sorriso. 



Embora existam milhares de nomes dados a Deus, destacam-se dois em especial que relacionam a beleza das flores ao fascinante sorriso de Krishna. O primeiro é a alcunha Mukunda, formada pelas palavras mukha (face) e kunda (a flor chamada jasmim-estrela), sendo assim conhecido como “Aquele cuja face é tão bela quanto a sempre sorridente flor de jasmim-estrela”. No Vishnu Sahasranama (Mil Nomes de Vishnu), o título nº 952 é Puspa Hasa, ou “aquele cuja manifestação como Universo se assemelha ao desabrochar de botões em flores” e “aquele que desabrocha como uma flor no momento da criação primordial”.


A energia do sorriso de flores de Krishna emana para e através do devoto, e faz com que o sorriso deste se torne poderoso. Prabhupada afirma que simplesmente ao sorrir, o devoto conquista muitos discípulos, admiradores e seguidores. 


Lembre-se sempre que vir uma flor: ali está o sorriso de Deus. 

Saturday, January 18, 2025

Swami Vivekananda Jayanti

 

Altar para o Puja de Swami Vivekananda em São Paulo, 2025

No domingo, amanhã, 19 de janeiro de 2025, será comemorado o jayanti de Swami Vivekananda em Ashramas do Brasil e de todo o planeta. Marcando os 162 anos de seu nascimento, é sempre bom lembrar que Vivekananda teve uma vida brevíssima, estando materialmente no mundo por apenas 39 anos. A força de sua vida e obra é tamanha que sua relevância é influente até hoje. Os ideias deixados por ele ultrapassaram sua mensagem religiosa - ainda que esta seja sua maior eloquência - para gerar comoção social e cultural nos Estados Unidos e Europa, e sócio-política na Índia. Sempre à frente de seu tempo, ele inspirou uma mudança no pensamento indiano: o de que a opressão do povo indiano não estava apenas atrelado à opressão do império britânico, mas sim à uma servidão mental, sem Deus e sem a consciência de Atma. Tal visão de Swamiji sobre a servidão mental foi força-motriz para a independência da Índia e o surgimento de movimentos como o Swadeshi e figuras como Mahatma Gandhi e Subhas Chandra Bose. 

Foi Vivekananda também que teve o olhar sobre o iminente poder feminino, a própria Shakti Divina, que se erguia no mundo na virada dos séculos XIX-XX, adiantando uma tendência que mexeu com o status quo ao longo dos séculos XX-XXI: o feminismo e o empoderamento feminino. É claro que Vivekananda não adiantou tais ideias da maneira como as conhecemos hoje, mas foi um dos precursores ao perceber que a mulher deveria receber mais educação e adquirir independência/autonomia - daí a fundação da Escola de Nivedita. Esta proposta que Swamiji via como uma chave para transformar a sociedade indiana - e mundial - estava intimamente ligada à presença da Santa Mãe Sarada Devi, Ela mesma a personificação de Shakti, uma vez que foi a Mãe e Seu imenso poder feminino (o de criar) que colocaram a Ordem Ramakrishna em movimento, e foi com as bênçãos Dela que ele partiu para o mundo para falar sobre Deus, a Vedanta, o Atma. É através dessa força divina da Santa Mãe que tudo se fez e prosperou. Vivekananda sempre soube e prezou imensamente por isso; ele sabia que a polaridade masculino-feminino estava mudando para feminino-masculino, e que isso traria alteração significativa para a sociedade no futuro (que é o dia de hoje). 

Este são apenas alguns de muitos exemplos do quanto Vivekananda é visionário e possuidor de uma mensagem-atitude que transforma mentalidades universalmente. Ele é o símbolo da juventude (no dia de seu aniversário propriamente dito, 12 de janeiro, é comemorado o Dia Nacional da Juventude, na Índia) porque suas ideias são frescas, vivas e estão prontas para sacudir o mundo, como manda a insígnia dos sempre jovens.   

Thursday, January 16, 2025

Paramahamsa Upanishad

 

Nicholas Roerich - Blessed Soul: Bhagavan Sri Ramakrishna Paramahamsa, 1924

O Upanishad do Grande Cisne (Paramahamsa) reforça mais uma vez a qualidade suprema das Grandes Almas: a renúncia. Atingir o estado de Paramahamsa é se despir de todos os conceitos e não-conceitos, das dualidades e da unidade, do “eu” e “tu” , da realidade (material e mental) fenomênica e até de Deus. 

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º º º

Om! Brahman é o Absoluto, este universo é o Absoluto.

Do absoluto surge o absoluto.

Retirando o absoluto do (universo) absoluto,

Resta apenas aquele Brahman absoluto.

Om! Que haja paz em mim.

Que haja paz no ambiente.

Que haja paz nas forças que agem sobre mim.


1. “Qual é o caminho dos Paramahamsa Yogues e quais são seus deveres?”, foi a pergunta que Narada fez ao se aproximar do Senhor Brahma (o Criador). A ele, o Senhor respondeu: “O caminho dos Paramahamsas que você indaga está acessível à duras penas para as pessoas; não há muitos expoentes dele [o Paramahamsa puro], e é o suficiente que exista apenas um. Em verdade, ele repousa no sempre-puro Brahman; ele é o próprio Brahman proposto nos Vedas. Assim os conhecedores da Verdade afirmam: ele [o Paramahamsa] é o maior porque repousa toda sua mente sempre em Mim, e Eu, também, por este motivo, resido nele”. 


Tendo renunciado aos seus filhos, amigos, esposa, amizades e etc., tendo se desfeito de shikha [o tufo de cabelo atrás da cabeça], do cordão sagrado, do estudo dos Vedas, de todos os trabalhos e também do universo, ele deve usar kaupina [peça de vestuário masculino como uma tanga], o cajado e apenas roupas o suficiente para a mínima manutenção de seu corpo, para o bem de todos. E isso não é tudo. Se for perguntado sobre o que é esse tudo, aqui está:


2. O Paramahamsa não carrega nem o cajado, nem o tufo de cabelo, nem o cordão sagrado, nem usa qualquer vestimenta. Ele não sente frio, nem calor, nem felicidade, nem miséria, nem honra, nem contentamento. É adequado que ele esteja além do alcance das seis ondas deste mundo-oceano. Tendo superado qualquer pensamento de calúnia, vaidade, ciúmes, ostentação, arrogância, apego ou antipatia aos objetos de alegria ou tristeza, luxúria, raiva, cobiça, autoilusão, exaltação, inveja, egoísmo e demais, ele considera seu corpo como um cadáver, já que destruiu de uma vez por todas a ideia de corpo. Sendo eternamente liberto da causa das dúvidas, e do conhecimento mal concebido e falso, percebendo o Eterno Brahman, ele reside aí, com a consciência de que “Eu mesmo sou Ele, eu sou Aquele que é sempre calmo, imutável, indivisível, a essência do conhecimento e bem-aventurança. Apenas Aquele é minha natureza verdadeira”.


Apenas o conhecimento (Jnana) é seu shikha. Apenas o conhecimento é seu cordão sagrado. Através do conhecimento da unidade de Jivatma com o Paramatma, a distinção entre eles se esvai totalmente. Tal unificação é sua cerimônia de Sandhya [as adorações oferecidas diariamente, no horário da injunção da noite com o dia e do dia com a noite]. 


3. Aquele que renuncia a todos os desejos obtém seu descanso supremo no Um sem um segundo. Aquele que segura o cajado do conhecimento é o verdadeiro Ekadandi [o monge renunciante]. Aquele que carrega um mero cajado de madeira, que se envolve com todos os tipos de objetos dos sentidos e que é desprovido de Jnana, vai para infernos terríveis, conhecidos como Maharauravas. Conhecendo a diferença entre ambos [os tipos de portadores do cajado], ele se torna um Paramahamsa. 


4. O ambiente é sua vestimenta, ele não se prostra diante de ninguém, não oferece oblações aos pitris [antepassados], não culpa e nem elogia ninguém - o sannyasin sempre tem força de vontade independente. Para ele não há invocação a Deus, nem qualquer cerimônia a Ele; não há mantra, não há meditação, não há adoração, já que ele não é nem o mundo fenomênico, nem Aquele que é o incognoscível. Ele não enxerga nem a dualidade e nem a unidade. Ele não vê nem “eu” nem “tu”, nem nada desse tipo. O sannyasin não tem lar. 


Ele não deve aceitar nada feito de ouro ou similares, não deve possuir discípulos ou aceitar riquezas. Ao se perguntar se há mal ao aceitá-los, a resposta é sim, há males em proceder dessa maneira. Porque se um sannyasin olhar para o ouro com desejo, ele se torna um assassino de Brahman; se um sannyasin toca o ouro com desejo, ele se degrada ao nível de um chandala [casta inferior], porque se ele detiver ouro com desejo, ele se torna um assassino do Atma. Logo, o sannyasin não deve nem olhar, tocar ou pegar ouro com desejo. Todos os desejos da mente deixam de existir e, por consequência, ela não fica agitada pela tristeza e não deseja a felicidade; surge a renúncia ao apego aos prazeres dos sentidos, ele se desapega do bem e do mal em todos os lugares, por consequência, ele nem odeia nem é exaltado.


A tendência de fluir para fora de todos os órgãos dos sentidos diminui naquele que repousa apenas no Atma. Ao realizar que “Eu sou aquele Brahman, que é Conhecimento e Bem-Aventurança infinitos”, ele chega ao fim de seus desejos, de fato, ele chega ao fim de seus desejos. 


Om! Brahman é o Absoluto, este universo é o Absoluto.

Do absoluto surge o absoluto.

Retirando o absoluto do (universo) absoluto,

Resta apenas aquele Brahman absoluto.

Om! Que haja paz em mim.

Que haja paz no ambiente.

Que haja paz nas forças que agem sobre mim.

Aqui termina o Paramahamsa Upanishad, como contido no Sukla-Yajur-Veda


º º º

Traduzido para o inglês por Swami Madhavananda 

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pelo Advaita Ashrama, de Calcutá

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]


Jagannath Ashtakam

  Atribuído a Sri Adi Shankaracharya, o Jagannath Ashtakam , ou Oito Versos a Jagannath , é uma ode de louvor a Sri Jagannath, literalmente ...