Saturday, November 30, 2024

A Autorrefulgência do Atma | Atma Bodha

 


A autorrefulgência do Atma é mencionada em vários manuscritos e está sempre presente quando precisamos descrever as qualidades do mesmo, como neste trecho do Atma Bodha, de Sri Shankaracharya. 

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23. A natureza do atma é Eternidade, Pureza, Realidade, Consciência e Bem-Aventurança, assim como a luminosidade do sol, o frescor da água e o calor do fogo.

24. A noção de “eu sei” é produzida pela união, devido ao discernimento incorreto, de uma modificação da mente com dois aspectos do atma: a Existência e a Consciência.

25. O atma não sofre mudanças, e buddhi [a mente] nunca é dotado de consciência. Porém, as pessoas acreditam que o atma é idêntico ao buddhi e se iludem pensando que elas mesmas são o conhecedor ou aquele que percebe [o mundo].

26. A Alma que se reconhece como jiva [impermanente] é dominada pelo medo do mesmo jeito que um homem ao considerar uma corda como sendo uma cobra. A Alma recobra o destemor ao perceber que ela não é a jiva, mas a própria Alma Suprema.

27. A mente, os órgãos dos sentidos e etc. são iluminados apenas pelo atma, assim como um jarro ou tigela são iluminados por uma lamparina. Mas tais objetos não podem iluminar a si mesmos.

28. Assim como uma lamparina não precisa de outra lamparina para iluminar a si mesma, o Atma, sendo a própria Consciência, não precisa de outro instrumento de consciência para iluminar a si mesmo.

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Traduzido da versão em inglês de Swami Nikhilananda

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado por Sri Ramakrishna Math, Madras


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Monday, November 25, 2024

O Algoritmo da Sadhana

Rene Magritte, Meditation, 1937


A execução de sadhana é um princípio seminal no caminho de purificação espiritual e para a aquisição de fortitude, discernimento e convicção. O tipo de sadhana depende do tipo de praticante e suas inclinações, mas é possível dizer que não há limites para escolher algumas práticas espirituais e permanecer nelas. Tudo pode se tornar uma sadhana se a intenção for corretamente dirigida, todas as atividades diárias podem se tornar uma prática espiritual dependendo da intenção com que são executadas. Os estudos podem se tornar uma sadhana; o momento de oração e/ou de recitação de mantras é uma sadhana que pode ter horários específicos para acontecer, ou podem ser feitos mentalmente a qualquer momento - é uma ótima sadhana tentar pensar em Deus durante os afazeres para treinar a mente a sempre estar Nele; o serviço devocional é uma importante e renovadora sadhana. A prática espiritual deve ser constante e sempre bem nutrida de alimentos como devoção, estudos, ouvir os ensinamentos dos Gurus, contemplação, oração, meditação, repetição de mantra, conversas com Deus, serviço abnegado, esforço frequente, renúncia e tantos outros. Assim como passamos horas do dia alimentando nossos algoritmos virtuais, com aquilo que consumimos e procuramos na internet para que eles nos entreguem conteúdos que apreciamos, a sadhana tem também seu próprio algoritmo que funciona sendo alimentado por nossos atos visíveis e invisíveis, e a frequência deles. Quanto mais alimentamos este algoritmo divino, mais ele nos entregará aquilo que buscamos: quanto mais devoção você dispende ao seu algoritmo, mais devoção ele te entrega; quanto mais renúncia você emprega nele, mais renúncia recebe; quanto mais concentração você empenha, mais concentração terá. Alimentar e estimular este algoritmo vai resultar em muitas realizações pessoais e muitos véus da ilusão caindo, além de ser uma fonte de felicidade para o praticante. Nas palavras da Santa Mãe: "A mente se purifica após árduas práticas. Sem a prática regular, não se conquista nada".

Wednesday, November 20, 2024

Hamsa Upanishad

 


A relação entre a natureza do Hamsa e OM (e seus desdobramentos) é o tema do Hamsa Upanishad, um tratado essencial para compreender os estados de consciência e seu percurso até atingir o estado Supremo, onde tudo repousa e obtem-se a experiência direta de transcendência.


Baixe em PDF: Academia.edu.


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Hamsa Upanishad


Om! Brahman é o Absoluto, este universo é o Absoluto.

Do absoluto surge o absoluto.

Retirando o absoluto do (universo) absoluto,

Resta apenas aquele Brahman absoluto.

Om! Que haja paz em mim.

Que haja paz no ambiente.

Que haja paz nas forças que agem sobre mim.

1. Gautama se dirigiu a Sanatkumara assim: “Ó Senhor, tu és o conhecedor de todos os Dharmas e versado em todos os Shastras, diga-me de qual maneira posso obter o conhecimento de Brahmavidya, por favor”. 

2. Sanatkumara respondeu: “Ouça, ó Gautama, aquele tattva [princípio, verdade], como exposto por Parvati após investigar todos os Dharmas e verificar a opinião de Shiva, é o conhecimento correto”.

3. Este tratado sobre a natureza de Hamsa, que concede o fruto da bem-aventurança e da salvação, e que é como um tesouro para o Yogue, é uma ciência muito mística e não deve ser revelado ao público.

4. Agora, vamos explicar a verdadeira natureza de Hamsa e Paramahamsa para o benefício do Brahmacharin (um buscador de Brahman e celibatário), que tem seus desejos controlados, é devotado a seu Guru e sempre contempla Hamsa e realiza que:

O Hamsa permeia todos os corpos como o fogo (ou o calor) em todos os tipos de madeira, ou em todos os tipos de óleo de sementes. Conhecendo-o assim, não se encontra a morte.

Tendo contraído o anus (com os calcanhares pressionados contra eles), erguido vayu (a respiração) do muladhara chakra [chakra base] através de um circuito triplo em volta do svadhisthana chakra [chakra sacro], chegado ao manipura chakra [chakra do plexo solar], atravessado o anahata chakra [chakra cardíaco], mantido o prana no visuddhi chakra [chakra da garganta] e alcançado o ajna chakra [o “terceiro olho”, no meio das sobrancelhas], a pessoa entra em contemplação em brahmarandhra [chakra coronário] no topo da cabeça e, tendo sempre meditado neste lugar com “Eu sou feito dos três matras”, reconhece seu Ser e se torna sem forma. [Os três matras correspondem às três letras que formam o OM, AUM*] (...) Isto é aquele Paramahamsa (o Hamsa Supremo, ou Ser Superior), que possui a resplandecência de crores de sóis e quem permeia todo este mundo.


[*Está contido na sílaba OM: 1. Jagrat, estado de vigília; corresponde ao som A em OM; é a criação; 2. Svapna, estado de sonho, corresponde ao som de U em OM; é a conservação; 3. Sushupti, estado de sono profundo; corresponde ao som de M em OM; é a dissolução; 4. Turiya, transcendência; corresponde ao silêncio após o OM; 5. Turiyatita, além da transcendência.]

Este Hamsa, que tem o intelecto (buddhi) como veículo, possui oito atividades. Quando está na pétala [do lótus do chakra] leste, existe a inclinação de uma pessoa para as ações virtuosas; na pétala sudeste, existe sono, preguiça; na pétala sul, há inclinação para a crueldade; na pétala sudoeste, há inclinação aos pecados; na pétala oeste, há inclinação para atividades sensuais; na noroeste, surge o desejo de caminhar e outros; na norte, surge o desejo por luxúria; na noroeste, surge o desejo de acumular dinheiro; na do meio (ou nos entremeios entre as pétalas), há a indiferença aos prazeres materiais. No filamento do lótus, surge o estado de vigília; no pericarpo, surge o svapna, o estado de sonho; em bija (a semente do pericarpo) surge sushupti, o estado do sono sem sonho; ao sair do lótus, tem-se turiya, o quarto estado [estado de unidade]. Quando Hamsa está absorto em nada [o som místico], o estado além do quarto é alcançado. Nada, que se encontra no fim do som e além da fala e da mente, é como um cristal puro que se estende do muladhara até o brahmarandhra. Ele é conhecido também como Brahman e Paramatma.

Aqui é dada a execução do Ajapa Gayatri: 

Agora, Hamsa é o rishi [o sábio]; a métrica é a do Avyakta Gayatri; Paramahamsa é a Deidade que preside; ‘Ham’ é a sílaba-semente; ‘Sa’ é a Shakti; So’ham é kilaka [um pilar; o pilar onde o mantra está ancorado]. Assim sendo, há seis passos. Há 21.600 Hamsas (ou respirações) em um dia e uma noite. Saudações a Surya, Soma, Niranjana (o imaculado) e Nirabhasa (o sem universo) [i.e. o ilimitado]. Que o incorpóreo e sutil me guiem (ou iluminem minha compreensão). Saudações a Agni-Soma. Depois, tem-se os anganyasas e karanyasas [ambos referem-se ao processo de tocar partes específicas do corpo enquanto recita mantras], que devem ser executados depois dos mantras, mesmo que sejam feitos geralmente antes, dentro do coração e outros assentos [do Atma]. Tendo feito assim, deve-se contemplar Hamsa como o Atma em seu próprio coração. Agni e soma são suas asas, a direita e a esquerda; o Omkara é sua cabeça; ukara e bindu são os três olhos e a face, respectivamente; Rudra e sua esposa, Rudrani, são os pés de Kanthata (ou a realização da unidade de Jivatma e Hamsa, do eu menor com o Paramatma, ou Paramahamsa, o Eu Superior), que são de dois modos: Samprajnata e Asamprajnata [dois estilos distintos de meditação ou estados de consciência]. 

Após isso, Unmani [um dos três estados de consciência transcendental] é a culminação do Ajapa mantra. Tendo assim refletido sobre manas [a mente] através do Aquilo (Hamsa), ouve-se o som nada após recitar este japa um crore de vezes. O nada que começa a ser ouvido é de dez tipos. O primeiro é chini, que faz o som igual ao de sua escrita; o segundo é chini-chini; o terceiro é o som de um sino; o quarto é o da concha; o quinto é o do tantiri (alaúde); o sexto é o som de tala (pratos); o sétimo o da flauta; o oitavo o do bheri (tambor); o nono é o de mridanga (tambor duplo); o décimo é o das nuvens (os trovões). Pode-se experimentar o décimo sem os primeiros nove sons (através da iniciação de um Guru). No primeiro estado, o corpo se torna chini-chini; no segundo, surge a ruptura (bhanjana) do corpo; no terceiro, surge a perfuração (bhedana); no quarto, a cabeça treme; no quinto, o palato produz saliva; no sexto, o néctar é alcançado; no sétimo, o conhecimento daquilo que está escondido surge; no oitavo, para-vak [a voz Suprema] é ouvido; no nono, o corpo se torna invisível e o olho divino puro se desenvolve; no décimo, atinge-se Para-Brahman na presença (ou com o) do Atma, que é Brahman.

Na sequência, quando manas é destruída, quando ela, que é a fonte de sankalpa e vikalpa [pensamento e dúvida] desaparece, devido à destruição de ambos, e quando as virtudes e os pecados são queimados, ele brilha como Sadashiva, da natureza de Shakti que permeia tudo, sendo ele o OM, a refulgência em sua própria essência, o imaculado, o eterno, puro e mais quiescente. Assim é o ensinamento dos Vedas, e assim é o Upanishad.

Om! Brahman é o Absoluto, este universo é o Absoluto.

Do absoluto surge o absoluto.

Retirando o absoluto do (universo) absoluto,

Resta apenas aquele Brahman absoluto.

Om! Que haja paz em mim.

Que haja paz no ambiente.

Que haja paz nas forças que agem sobre mim.


Aqui termina o Hamsa Upanishad, como contido no Sukla-Yajur-Veda


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Traduzido para o inglês por K. Narayanaswami Aiyar

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Sunday, November 10, 2024

A Ciência do Hamsa III

 


A Ciência do Hamsa está explicada em diversos Upanishads e outras Escrituras. Nessa seção, vamos explorar alguns versos a respeito e seus significados.

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A metafísica do Mantra Hamsa está infundida em todas as almas individuais como o som feito pela respiração - a inalação faz ‘Ham’, a exalação faz ‘Sa’; e também pode ser ao contrário, a inalação faz “Sa” ou “So”, a exalação faz “Ham” -, mas o mistério maior deste que é o mantra mais inerente de todo ser vivo também reside para além do som e se encontra no silêncio.

O silêncio (ou espaço) entre a inalação e a expiração é o ponto onde devemos nos concentrar durante a prática (consciente) da repetição do Mantra Hamsa. Concentrar neste silêncio leva ao reconhecimento da Unidade com Deus. Este ponto não é um lugar físico, mas é a morada da Consciência Eterna. Quando, através da respiração, os espaços internos e externos se fundem, a consciência do corpo se dissipa e ficamos como que imóveis e livres das ondas mentais. 


Este silêncio entre a inalação e a expiração recebe o nome de Madhyadasha e refere-se ao espaço intermediário que conecta o eu material ao Eu Cósmico, o Atma ao Paramatma. No livro A Ciência do Hamsa - Eu Sou Aquilo, de Swami Muktananda, no prefácio, escrito por Swami Prajnanada, é dito:

O método de observar o processo é unir a mente à respiração. Então, sentindo-se uno com hamsa, entrar com a respiração que entra, “ham”, e sair com a respiração que sai, “sa”. Entre essas duas respirações há um momento de quietude total, como no instante em que um pêndulo que completou um arco fica imóvel antes de balançar de volta novamente. Esse é o lugar onde “ham” ou “sa” se fundem no espaço interno ou externo. Nesse ponto, a respiração é suspensa por um tempo antes de “sa” ou ‘ham” surgir novamente daquele local. Com a prática, o tempo durante o qual esse estado de quietude é mantido começa a aumentar, e a bem-aventurança do Eu é experimentada. Esse espaço é chamado de madhyadasha, o espaço intermediário, que é a morada do Eu, Deus, Verdade ou Consciência. Esse é o lugar de repouso. O mesmo espaço existe entre dois pensamentos. Quando um pensamento termina, antes que outro surja, há uma fração de momento em que nada acontece. A mente fica parada. Se alguém puder se aferrar a esse instante, todos os mistérios do mundo serão revelados, pois ele é a fonte de toda a criação. É por isso que Baba atribui tanta importância a esse estado de quietude. Esse, de fato, é o segredo do hamsa, a respiração, que é conhecido em todos os tempos pelos grandes santos. Recentemente aconteceu de eu ler o Evangelho Essênio da Paz, Livro Dois. Fiquei surpreso ao encontrar nele as seguintes palavras atribuídas a Jesus: “Nós adoramos a Respiração Sagrada que está colocada acima de todas as outras coisas criadas. Pois veja, o espaço soberano eterno e luminoso onde governam as estrelas incontáveis é o ar que inspiramos e o ar que expiramos. E no momento entre a inspiração e a expiração estão ocultos todos os mistérios do Jardim Infinito”.

A prática do Mantra Hamsa, além de promover a união com Deus, também altera a fisiologia do praticante. Segundo Paramahamsa Yogananda, este exercício acalma a respiração e resulta no desaceleramento do metabolismo, na redução da produção de dióxido de carbono na respiração celular (o que aumenta a guna sattva) e as atividades cardíacas diminuem.


Perceber aquele silêncio entre as duas sílabas é um dos grandes segredos dos Siddha Yogues. Como afirmado por Swami Muktananda no livro citado anteriormente: “Aquele que vem a conhecer aquele momento da fusão das duas sílabas experimenta a Verdade”.


[Trechos de A Ciência do Hamsa - Eu Sou Aquilo, de Swami Muktananda, traduzidos por Eleonora Meier.] 

Jagannath Ashtakam

  Atribuído a Sri Adi Shankaracharya, o Jagannath Ashtakam , ou Oito Versos a Jagannath , é uma ode de louvor a Sri Jagannath, literalmente ...