Sunday, October 27, 2024

Kaivalya Upanishad

 


Kaivalya é um dos nomes dados ao estágio em que se atinge a liberação. É dito que o estado de Kaivalya-mukti seja o ideal mais elevado em termos de liberação. Mas o que isso significa? Kaivalya é um processo no qual o praticante vai se afastando de todos os objetos dos sentidos e materialidades para constatar que ele e Brahman são um. Kaivalya também é o objetivo final da Ashtanga Yoga, significando solitude, isolamento e desapego. Este Upanishad repete e reafirma o Mahavakya mais importante, "Tat Tvam Asi", ou "Tu és Aquilo", uma maneira de dizer que Atma e Paramatma são um e o mesmo. 

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Kaivalya Upanishad

Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!

1. Então, Ashvalayana se aproximou do Senhor Paramesthi (Brahma) e disse: Ensine-me, ó Senhor, o conhecimento de Brahman, o mais elevado, sempre cutlivado pelos bons, escondido e através do qual um sábio se afasta instantaneamente de todos os pecados e alcança o Purusha [espírito supremo] mais elevado que o mais elevado.

2. A Ashvalayana, o Senhor Paramesthi respondeu: Saiba que através da fé, da devoção e da meditação, não pelo trabalho, nem pela progênie, nem pela riqueza, mas pela renúncia, é que alguns atingem a imortalidade.

3. Mais alto que o céu, sentado na caverna (Buddhi) [na caverna do coração], aquilo brilha - aquilo que é alcançado pelos autocontrolados. Os autocontrolados, possuidores da mente pura, certamente já verificaram a Realidade através do conhecimento da Vedanta e através de Sannyasa, ou renúncia. Na esfera de Brahma, no momento da dissolução cósmica, todos eles serão liberados da mais alta imortalidade aparente do universo manifestado.

4-5. Em um local recluso, sentado em postura confortável, puro, com o pescoço, cabeça e corpo eretos, vivendo na última das ordens da vida religiosa [i.e. no último dos quatro estágios de ashrama, o estágio do renunciante], tendo controlado todos os sentidos, saudando seu preceptor com reverência, meditando no lótus do coração (meditando em Brahman), imaculado, puro, claro e sem tristezas.

6. Ele que é o inconcebível, imanifesto, de infinitas formas, o bem, o pacífico, imortal, a origem dos mundos, sem começo, meio e fim, o único, que permeia tudo, Consciência, Bem-Aventurança, sem forma e maravilhoso.

7. Meditando no mais elevado Deus, aliado à Uma [Parvati, consorte de Shiva], poderoso, com três olhos, de pescoço azulado e sereno, o sábio chega a Ele, que é a fonte de tudo, a testemunha de tudo e que está além da escuridão [avidya, ignorância].

8. Ele é Brahman, Ele é Shiva, Ele é Indra, Ele é o Imutável, o Supremo, o Autorresplandecente. 

9. Apenas Ele é tudo que já foi e tudo que será, o Eterno. Por conhecê-Lo, transcende-se a morte. Não há outro caminho para a liberdade.

10. Por ver o Atma em todos os seres, e todos os seres no Atma, atinge-se o mais elevado Brahman - não de outras maneiras.

11. Ao tornar o Atma o arani inferior e o OM o arani superior, pela repetida fricção do conhecimento, um sábio queima todas as amarras. [arani é o pequeno pedaço de madeira usado para acender o fogo em rituais.]

12. Com seu eu iludido por Maya, é este eu que se identifica com o corpo e faz todos os tipos de coisas. Em estado de vigília, é ele (a Jiva) que atinge a satisfação através dos variados objetos de prazer, como mulheres, comidas, bebidas, etc.

13. No estado de sonho, a Jiva sente prazer e dor numa esfera de existência criada por sua própria Maya, ou ignorância. Durante o estado de sono profundo, quando tudo se dissolve (em seu estado causal), ela é dominada por tamas, ou não-manifestação, e vem a existir em sua forma de Bem-Aventurança.

14. Novamente depois, devido à conexão com as ações das vidas passadas, aquela mesma Jiva retorna ao estado de sonho ou ao de vigília. Do ser que atua nas três cidades (os estados de vigília, sonho e sono profundo) surgiu toda a diversidade [o universo material]. Ele é o substrato, a Bem-Aventurança, a Consciência indivisível, onde as três cidades se dissolvem. 

15. A partir disso, surge o prana (vitalidade), a mente, todos os órgãos, o céu, o ar, o fogo, a água e a terra que sustenta tudo.

16. Aquilo que é o Brahman Supremo, a alma de todos, a grande sustentação do universo, mais sutil que o sutil, e eterno: este és tu, e tu és Aquilo. 

17. Aquele que manifesta os fenômenos, como os estados de vigília, sonho e sono profundo, eu sou aquele Brahman: ao perceber isto, uma pessoa é liberada de toda a servidão.

18. O que constitui o desfrutar, o desfrutador e o desfrute nos três planos, diferente de todos eles, eu sou; a Testemunha, a Consciência Pura, o Bem Eterno.

19. Apenas em mim, tudo nasce; em mim, tudo repousa; e em mim, tudo é dissolvido. Eu sou aquele Brahman, o sem segundo. 

20. Eu sou menor do que o menor, assim também, sou o maior de todos. Eu sou o universo múltiplo. Eu sou o Ancestral, o Purusha e o Governante. Eu sou o Refulgente e o Todo-Bom. 

21. Eu sou sem braços e pernas, de poder inconcebível. Eu vejo sem olhos e ouço sem ouvidos. Eu conheço tudo e sou diferente de tudo. Ninguém pode conhecer a mim. Eu sou sempre a Inteligência.

22. Apenas eu sou versado nos vários Vedas, eu sou o revelador da Vedanta, ou Upanishads, e também sou o Conhecedor dos Vedas. Para mim, não há mérito nem demérito, não sofro qualquer destruição, não tenho nascimento e nem qualquer identidade com o corpo ou com os órgãos. 

23-24. Para mim, não há terra, nem água, nem fogo, nem ar, nem espaço. Ao conceber o Paramatman como aquele que reside na cavidade do coração [Chidakasha], que é sem partes [inteiro] e um sem um segundo, a Testemunha de tudo, além da existência e da não-existência, atinge-se o próprio Paramatman Puro.

25. Aquele que estuda o Shatarudriya [conjunto de mantras dedicados às cem formas e poderes do Senhor Rudra, ou Shiva] é purificado pelo fogo, e é purificado do pecado de beber, purificado do pecado de matar um Brahmana, dos atos feitos consciente ou inconscientemente. Por este conhecimento, ele obtém refúgio em Shiva, o Ser Supremo. Quem pertence à mais alta ordem da vida [o renunciante], deve repetir [os versos do Shatarudriya] sempre ou uma vez por dia.

26. Através de tais práticas, atinge-se o Conhecimento que destrói o oceano de Samsara e da repetida transmigração. Assim, conhecendo isso, atinge-se o fruto de Kaivalya, ou liberação. Atinge-se com certeza a liberação.

Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Kaivalya Upanishad, como contido no Krishna Yajur Veda

º º º

Traduzido para o inglês por Swami Madhavananda

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pelo Advaita Ashrama, Calcutá


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

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