Hilma af Klint, Altarpieces - Group X, 1915
Este sucinto Upanishad versa sobre os três diferentes tipos de Ser (Self): o ser (o corpo denso), o Ser interno (o corpo sutil) e o Ser supremo (Brahman). O Ser supremo é a testemunha eterna e o criador da Realidade. Apenas por Seu brilho é que tudo mais brilha.
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Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.
Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!
Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,
Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!
Que o glorioso Indra nos abençoe!
Que o onisciente Sol nos abençoe!
Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!
Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!
Om! Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
Capítulo I
1. Agora, Angirah [o Rishi que ouvia o ensinamento]: o Espírito se manifesta de três maneiras: o ser, o Ser interno e o Ser supremo.
2. Há os órgãos, no lado externo e interno: pele, carne, cabelo, polegar, dedos, coluna, unhas, tornozelos, estômago, umbigo, pênis, quadril, coxas, bochechas, orelhas, sobrancelhas, testa, mãos, flancos, cabeça e olhos. Eles todos nascem e morrem, e são eles que constituem o ser.
3. Depois, há o Ser interno, que é indicado pelos elementos terra, água, fogo, ar e espaço; [junto aos elementos sutis de] desejo, aversão, prazer, dor, ilusão, dúvidas e memória; (marcado pelo) tom agudo e sem sotaque, com a pronúncia (das vogais) curtas e longas; aquele que ouve, aquele que cheira, aquele que degusta, aquele que lidera, o agente, o ser do conhecimento está de cara a cara com aquele que tropeça, grita, desfruta, dança, canta e toca instrumentos musicais. Ele é aquele espírito antigo que faz a distinção entre Nyaya e Mimamsa*, entre as leis instituídas [nas Escrituras] e o objeto específico da audição, do olfato e do toque. Este é o Ser interno.
[*Nyaya: onde a Realidade Suprema não pode ser compreendida diretamente devido aos desvios dos sentidos e ao conhecimento errôneo da realidade. Mimamsa: uma das filosofias de base do Hinduísmo que estabelece regras para a interpretação dos Vedas.]
4. Depois, vem o Ser supremo, o imperecível. Deve-se meditar Nele com a ajuda das etapas iogues de controle da respiração, recolhimento (dos órgãos dos sentidos), fixar a mente, contemplação e concentração. Ele deve ser compreendido por aqueles que pensam sobre o Eu como sendo a semente de uma figueira-da-bengala, ou como um grão de milheto, ou como a centésima parte de um fio de cabelo. Assim, Ele é conhecido e desconhecido. Ele não nasce, não morre, não seca, não se molha, não se queima, não treme, não se divide, não sua. Ele está além das gunas, é o espectador, é puro, sem partes, único, sutil, não possuindo nada, imaculado, imutável, desprovido de som, tato, cor, gosto, odor, é indubitável, não apegado, onipresente. Ele é impensável e invisível. Ele purifica o impuro, o profano. Ele não age. Ele não está sujeito à existência empírica.
Capítulo II
1. O bom, chamado de Atma, é puro, um e sempre não-dual, na forma de Brahman. Somente Brahman brilha.
2. Ainda que o mundo tenha suas distinções, como afirmação, negação, etc., somente Brahman brilha.
3. Com outras distinções, como professor e discípulos, somente Brahman aparece. Do ponto de vista da verdade, há somente o puro Brahman.
4. Nem o conhecimento, nem a ignorância, nem o mundo, nem nada mais existe. O que dá início à vida empírica é a aparência do mundo como real.
5. O que dá forma à vida empírica é sua aparência como irreal.
5(b)-6. Qual disciplina é necessária para saber que “isto é um jarro”, exceto aquela de adequação dos meios do conhecimento correto? Assim que é dado, o conhecimento do objeto surge. O sempre-presente Ser brilha quando os meios de Sua cognição estão presentes.
7. Nem local, nem tempo, nem pureza são necessários. O conhecimento de “Eu sou Devadatta” [aquele que foi dado por Deus] não depende de nada.
8. Do mesmo modo, o conhecimento de “Eu sou Brahman”, daquele que é o Conhecedor de Brahman, é independente. Assim como todo o mundo é iluminado pelo sol, pelo esplendor do Conhecimento de Brahman tudo é iluminado.
9-10(a). O que pode iluminar o não-existente e ilusório não-Ser? Aquele que dota de importância os Vedas, Shastras, Puranas e todos os outros seres, o que Ele não iluminaria?
10(b)-11. Uma criança ignora a fome e as dores do corpo quando brinca. Da mesma forma, o feliz Conhecedor de Brahman se deleita sem o sentido de “meu” e “eu”.
12. Existindo como o Ser de todos, ele (o Conhecedor) está sempre presente por permanecer em seu Ser. Livre de toda a riqueza, Ele se alegra sempre; embora sem companhia, Ele é poderoso.
13. Embora não coma, está sempre contente. Sem fazer comparações, ele olha para todos da mesma forma. Embora aja, ele não faz nada; embora coma frutas, ele não as experimenta.
14-17: Ainda que viva num corpo, ele não tem corpo; embora delimitado, ele é onipresente. O Conhecedor de Brahman, sem corpo e sempre existente, nunca é afetado pelo prazer ou desprazer do bem e do mal. Como parece estar envolto por Rahu (a escuridão), é dito que o inacobertável sol está coberto por homens iludidos, que não conhecem a verdade. Do mesmo modo, pessoas iludidas contemplam o melhor dos Conhecedores de Brahman, os liberados das amarras do corpo, como se eles estivessem num corpo, já que parecem estar. O corpo daquele que já está liberado [jivanmukta] se parece com a pele trocada de uma cobra.
18. Um pouco movido, aqui e ali, pelo ar vital, aquele corpo é levado como um pedaço de madeira para cima e para baixo por águas caudalosas.
19-20. Pelo destino, o corpo é levado pelos contextos das experiências nos momentos apropriados. Do contrário, aquele que abandona todas as migrações [de corpo em corpo], que abandona tanto o conhecimento quanto o incognoscível, que permanece como o Ser não-qualificado puro, é o próprio Shiva manifesto. Ele é o melhor dos Conhecedores de Brahman. Na mesma vida, o Conhecedor de Brahman é o sempre livre, ele realiza seu Fim.
21. Quando todos os adjuntos [os upadhis, ou fatores que criam a ilusão de separatividade entre o ser e o Ser] tiverem perecido, sendo ele (o Conhecedor) Brahman, ele é assimilado como o Brahman não-dual, assim como um homem que com as vestimentas apropriadas é um ator, e sem elas está em seu estado natural.
22(a). Da mesma forma, o melhor dos Conhecedores de Brahman é sempre o próprio Brahman e ninguém mais.
22(b)-23. Assim como o ar se torna novamente ar quando o jarro é destruído, quando determinadas cognições são dissolvidas, o próprio Conhecedor de Brahman se torna nada além de Brahman, assim como o leite derramado no próprio leite, o óleo no óleo, e a água na água se tornam leite, óleo e água.
24(a). Assim como quando combinados eles se tornam um, do mesmo modo, o sábio que conhece o Atma se torna o Atma.
24(b). Deste modo, a liberação do corpo é o estado infinito do Ser.
25. Tendo conquistado o estado de Brahman, o Yogui não renasce mais, porque seu corpo de ignorância foi completamente consumido pelo conhecimento experimental de ser como o Ser.
26-27(a). Já que o Yogui se tornou Brahman, como pode Brahman renascer? A servidão e a liberação construídas por Maya não são reais por si mesmas com relação ao Ser, assim como o aparecimento e desaparecimento da cobra não estão relacionados com a corda imóvel.
27(b). Servidão e liberação podem ser descritas como real e irreal, e acontecem devido à ignorância que oculta a verdade.
28-29. Mas Brahman não sofre tal ocultação. Ele é inacobertável, não havendo nada além Dele mesmo para cobrir Ele mesmo. Ideias como “isso é” e “isso não é”, no que se refere à Realidade, são apenas ideias no intelecto. Elas não pertencem a uma Realidade eterna. Por isso, a servidão e a liberação são arranjadas por Maya e não pertencem ao Ser.
30. Tanto na Verdade Suprema como no céu, imparcial, inativo, quiescente, sem defeitos, imaculado e não-dual, como poderá haver espaço para construções mentais?
31. Nem a supressão, nem a geração; nem o vínculo, nem o esforço; nem a busca pela liberdade, nem os liberados - esta é a verdade metafísica.
Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.
Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!
Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,
Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!
Que o glorioso Indra nos abençoe!
Que o onisciente Sol nos abençoe!
Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!
Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!
Om! Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
Aqui termina o Atma Upanishad, como contido no Atharva Veda.
º º º
Traduzido para o inglês por Prof. A. A. Ramanathan
Traduzido para o português por Mariângela Carvalho
Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai
[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]
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