Saturday, September 20, 2025

Leituras para o Navaratri: Devi Suktam e Durga Suktam em português

 

Os nove aspectos da Mãe Divina, ou Navadurgas, cultuados durante o Navaratri:

Shailaputri, Brahmacharini, Chandraghanta, Kushmanda, Skandamata, 

Katyayani, Kalaratri, Mahagauri e Siddhidatri.


A celebração hindu de nove dias em glória à Mãe Divina Durga, o Navaratri, está para começar. Em 2025, a novena vai de 22 de setembro a 2 de outubro, e é uma observância auspiciosa que suscita grande força interior para o praticante. 


O Navaratri invoca nove formas diferentes da Mãe Divina e a vitória de Durga sobre os demônios, história contada no épico Devi Mahatmyam e recitada durante o período. A sadhana da recitação e da leitura de escrituras recomendadas durante o Navaratri é uma das melhores formas de se conectar com o espírito da Adi Shakti (a energia suprema ou a Deusa suprema; Durga é um aspecto de Adi Shakti) que permeia os nove dias, além de ser uma ponte entre o praticante contemporâneo e os antigos rishis da era védica, quando surgiram tais manuscritos e rituais, e de onde foram retirados estes compilados, em especial o Devi Suktam e Durga Suktam, aqui apresentados em português. 


Estes dois suktams fazem parte da “liturgia” Shakta durante o Navaratri e invocam a Mãe Divina de duas maneiras: a Devi que se revela através de suas próprias palavras no Devi Suktam (recitado no início do Navaratri para saudar a chegada da Deusa); e a exaltação de Durga sob o aspecto do fogo da ação (Kriya Shakti) no Durga Suktam, sendo referida no texto como Agni (o Senhor do Fogo), que provê o praticante com a energia e o dinamismo para executar as ações corretas.


Considerando que ambos suktams são milenares e já atribuídos com incontáveis versões e traduções, optamos por utilizar as traduções em inglês disponíveis em shlokam.org, um database bem completo e com versões acuradas de textos sagrados. 


Baixe em PDF: Academia.edu


 º º º

Devi Suktam


Devi

O Devi Suktam, ou Vaak Suktam, ocorre na décima mandala do Rig Veda Samhita, como o suktam [hino] de número 125. A vidente do mantra é Vak [é dito que os Vedas foram compostos a partir de visões transcendentais recebidas por sábios e sábias], a filha do rishi Ambharnaa, o que resulta no nome completo Vagambharni [este é o nome completo da vidente do mantra, Rishika Vagambharni, que obteve como fruto de sua sadhana a total identificação com a Devi, tendo recebido tais mantras em estado de êxtase divino em Brahman; o Devi Suktam também pode levar o nome de Vakamabharni Suktam]. O devata que preside o mantra também é Vagambharni, o que quer dizer que o vidente se identifica completamente com aquilo que é visto. Muitas interpretações foram atribuídas ao Vak Suktam na literatura hindu devido ao fato de que verbos ou substantivos presentes poderiam ter múltiplos significados. Nesta exposição do texto, tentamos aderir a regras gramaticais rigorosas para restringir um pouco a escolha dos significados. (Fonte: shlokam.org)


º º º 


1. Eu me movo com os Rudras, com os Vasus, com os Adityas e também com os Vishvadevas. Eu possuo tanto Mitra quanto Varuna, Indra e Agni, e também os irmãos Ashvin.


2. Eu carrego o Soma prensado, e também Tvashtri, Pushan e Bhaga. Concedo riqueza ao possuidor de oblação, ao zeloso instituidor de sacrifício e ao praticante do sacrifício de Soma.


3. Eu sou a Rainha, a coletora de vasus (tesouros), conhecedora de  Brahman, a primeira chefe do objeto de yagna (a adoração). Os deuses me dispersaram em diversos locais. Por ter muitas moradas, permeio (ou domino) muito[a]s [muitos seres e muitas moradas].


4. Aquele que come, que vê, que respira, que ouve as palavras faladas, o faz somente através de mim. Mesmo aqueles que não Te percebem (Vishnu) habitam perto de mim. Ouçam-me, aqueles que são capazes de me ouvir! Eu falo com vocês, os que creem. 


5. Eu mesma digo, eu que sou apreciada tanto por deuses quanto por homens: a quem eu desejar, eu o torno poderoso, bem versado no conhecimento e um sábio.


6. O arco que estendo em direção à flecha de Rudra é com o propósito de aniquilar o detrator de Brahman. Eu luto pelas pessoas. Eu permeio o céu e a terra.


7. Eu gero o pai no cume deste céu. Minha fonte está nas águas, no oceano interior. A partir dali, eu me espalho entre todas as criaturas junto ao onipenetrante, e com o vértice [da flecha], toco aquele céu [Vishnuloka].


8. Eu apenas respiro, como o vento, enquanto mantenho todas as criaturas vivas. Tão vasta me tornei, possuo tanta grandeza que estou além do céu e desta terra. 


Om

Paz, paz, paz. 


º º º

Durga Suktam


Durga

Esta é uma prece ao deus do fogo, Agni, que está contida na seção dois do Maha Narayana Upanishad. Agni, o deus do fogo, simboliza o poder da ação. A Deusa Durga simboliza dinamismo, energia, diligência e o poder da ação com propósito (Kriya Shakti). Os versos se dirigem a Agni, e há indícios de que também sejam endereçados à Mãe Durga. O Durga Suktam é uma parte importante do Sri Vidya Suktam. (Fonte: shlokam.org)


º º º 


1. Oferecemos oblações de Soma a Agni. Que Agni queime aqueles que são contra nós. Que ele nos guie pelas dificuldades, como um barqueiro que atravessa o rio em seu barco.


2. Eu tomo refúgio na Deusa, que tem o brilho do fogo, que é radiante devido a sua penitência, que concede o fruto de todas as ações e a quem é difícil de obter. Ó Durga, reverenciamos a ti, que é hábil em nos fazer superar todas as dificuldades.


3. Ó Agni! Tu és digno de todos os louvores. Guia-nos em segurança para além de todas as dificuldades. Que nossa terra e nosso solo sejam abundantes. Abençoe nossos filhos e os filhos deles com felicidade.


4. Ó destruidor de todas as dificuldades! Resgate-nos das dificuldades, assim como alguém que atravessa o rio em um barco. Ó Agni! Proteja nossos corpos com diligência como Atri, que se preocupa com o bem-estar de todos os seres. 


5. Da assembleia suprema, invocamos Agni, que ataca e derrota todos os inimigos e é temível. Que este Agni nos proteja e nos guie para além de tudo que é transitório, de todas as dificuldades e de todos os pecados. 


6. Ó Agni! Tu que és adorado em sacrifícios, multiplique nossa alegria. Tu estás presente nos sacrifícios e és sempre louvável. Conceda-nos alegria ao nos considerar como seu próprio corpo. Traga-nos boa fortuna de todos os cantos. 


7. Ó Indra onipenetrante, tu que és desapegado. Nós te seguiremos, abençoados com gado e felicidade. Que aqueles que vivem nas alturas do céu me abençoem com o mundo de Vishnu nesta mesma vida.


Conhecendo a filha de Katyayana [a filha do sacerdote védico Katyayana é a deusa que leva o mesmo nome e uma das nove divindades cultuadas durante o Navaratri], meditamos nesta jovem virgem. Que Durga nos inspire a atingir o objetivo.


Om

Paz, paz, paz.


º º º


Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

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