Edvard Munch, O Sol, 1909
Sendo o mais curto dos Upanishads, o Mandukya, embora conciso em doze versos, traz a verdade última - Brahman - como a entidade que permeia nossos estados de consciência - e além. Neste manuscrito, aparece a denominação “O Quarto”, muito usada para tratar do estado de consciência que transcende a cognição. Os poucos versos têm profundidade abissal e são melhor compreendidos com a leitura de comentários (os bhashyas) e de outros Upanishads que elaboram melhor os quatro aspectos abordados, como o Paramahamsa Parivrajaka Upanishad e Yoga Chudamani Upanishad.
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Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.
Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!
Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,
Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!
Que o glorioso Indra nos abençoe!
Que o onisciente Sol nos abençoe!
Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!
Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!
Om! Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
1. Tudo é a letra Om. Passado, presente e futuro nada são além de Om. Tudo que transcende esses três períodos do tempo também é Om.
2. Tudo é, de fato, Brahman. Este Eu é Brahman. Este Eu, assim sendo, possui quatro aspectos.
3. O Eu alocado no estado de vigília é chamado de Vaishvanara, possui consciência do exterior, tem sete membros e dezenove bocas*, desfruta dos objetos densos [dos prazeres dos sentidos] - este é o primeiro quarto.
* Os sete membros se referem a: cabeça (céu), olhos (sol), o ar (prana), o coração (fogo), o ventre/estômago (água), os pés (terra) e o corpo (espaço). As dezenove bocas se referem aos instrumentos de conhecimento: cinco órgãos dos sentidos (indriyas), cinco órgãos de ação (bahya karana), cinco funções da respiração, junto com a mente, o intelecto, o coração e o ego (antah karana).
4. O Eu alocado no estado de sonho é chamado de Taijasa, possui consciência do interior, tem sete membros e dezenove bocas, desfruta dos objetos sutis [como os sonhos] - este é o segundo quarto.
5. Quando quem dorme não deseja nada para desfrutar e não tem sonhos, este estado é o sono profundo. O Eu alocado no estado de sono profundo é chamado Prajna, no qual tudo é unificado, tem a consciência densa, é repleto de bem-aventurança e que é, de fato, um desfrutador da felicidade e uma porta para o conhecimento (dos dois estados prévios) - este é o terceiro quarto.
6. Prajna é o Senhor de tudo, onisciente, o controlador interno de tudo, a fonte, a origem e dissolução de todos os seres.
7. O quarto aspecto é conhecido como aquilo que não é consciente do mundo exterior, nem consciente do mundo exterior, nem consciente de ambos os mundos, nem denso devido à consciência, nem de uma consciência simplória, nem de inconsciência, aquilo que não é visível, que não tem movimento, que é incompreensível, inferível, impensável, indescritível, cuja prova consiste na identidade do Eu (em todos os estados), no qual todos os fenômenos cessam, que é imutável, auspicioso e não dual. Este é o Eu, isso deve ser compreendido.
8. Este mesmo Eu, compreendido como a sílaba Om, quando visto do ponto de vista das letras [que formam o Om, ou seja: a, u, m e silêncio], está dividido em quatro partes devido a suas quatro letras.
9. Vaishvanara, alocado no estado de vigília, é a primeira letra, a, devido à sua completa pervasividade [o Um pervade tudo]. Aquele que sabe disso, certamente realiza todos os desejos e se torna também o primeiro.
10. Taijasa, alocado no estado de sonho, é a letra u, a segunda em Om, devido a ser similar [ao primeiro estado] em termos de excelência e também por sua posição intermediária. Aquele que sabe disso, certamente avança as barreiras de seu próprio conhecimento e se torna equânime com todos, e ninguém que não seja um conhecedor de Brahman nascerá em sua família.
11. Prajna alocado no estado de sono profundo é m, a terceira letra, porque ele é a medida, a entidade, em que tudo é absorvido. Aquele que sabe disso, mede tudo e absorve tudo.
12. Aquele que não tem letras (partes) é o Quarto, além da compreensão através de meios comuns, da cessação do mundo fenomênico, o auspicioso e o não-dual. Assim, o Om é certamente o Eu. Aquele que sabe disso, adentra o Eu pelo Eu.
Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.
Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!
Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,
Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!
Que o glorioso Indra nos abençoe!
Que o onisciente Sol nos abençoe!
Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!
Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!
Om! Que haja Paz em mim!
Que haja Paz no ambiente!
Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!
Aqui termina o Mandukya Upanishad, como contido no Atharva Veda.
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Traduzido para o inglês por Vidyavachaspati V. Panoli
Traduzido para o portugues por Mariângela Carvalho
[N. do T.: As informações em parênteses são adendos do tradutor.]