Talvez, o ensinamento mais conhecido da Santa Mãe Sri Sarada Devi seja o de não ver os defeitos alheios. Quando já estava acamada e pouco antes de deixar o corpo, a Mãe, em diálogo com a devota Annapurna Maa, disse: “Por que tem medo? Você viu o Mestre. Mas te digo uma coisa, se você quer paz mental, não encontre defeito nos outros. É melhor ver seus próprios defeitos. Aprenda a fazer do mundo todo seu próprio mundo. Ninguém é um estranho. Todo o mundo é seu”. Esta afirmação convicta da Mãe cabe sempre bem a qualquer situação, em qualquer lugar. O que Ela fazia ao ver os defeitos de um devoto ou sevaka? Ela ensinava. O que Ela faria ao nos ver presos aos nossos defeitos, mas tratando apenas dos defeitos alheios? Ela também ensinaria.
Porque não nascemos com manual de instrução, nada melhor do que encontrar um mestre para ajudar no caminho. Sabendo que é impossível não termos defeitos, a Mãe instruiu, como a grande Guru que era, que apontar defeitos corrompe a própria pessoa e não melhora as outras, assim, ensinou que se ater às falhas é prejudicial e inútil. Foram inúmeras as vezes que Ela tratou do assunto, como quando disse a uma devota em dada ocasião: “Ao sempre notar os defeitos dos outros, no final, a pessoa se tornará apenas uma encontradora de defeitos”.
Apesar de sua indiscutível santidade, os ambientes em que a Mãe habitava podiam se tornar por vezes hostis, principalmente nas relações familiares, o que era um desafio constante para Ela. Certa vez, Ela disse a um devoto: “Não consigo mais ouvir sobre os defeitos de ninguém, querido. Tudo acontece devido ao prarabdha karma da pessoa, o efeito das ações passadas. Eles falam sobre os defeitos de A–, mas onde todos estavam naquela época? O quanto ele me serviu! Naquele período, eu cozinhava o arroz nas casas de meus irmãos. Minhas cunhadas eram muito novas. Sem ligar para o frio ou a chuva, ele trabalhava comigo de manhã até de noite, tirando panelas enormes de arroz cozido dos fornos. Hoje, muitos chegam como devotos, mas naquela época, quem estava comigo? Vamos esquecer tudo que aconteceu naquele tempo? Além disso, que culpa ele tem? Antigamente, eu também reparava nos defeitos das pessoas. Mais tarde, eu chorava e chorava diante do Mestre rezando: ‘Ó Mestre! Não quero mais ver os defeitos de ninguém’, e finalmente me livrei daquele hábito. Você pode ter feito o bem para um homem mil vezes e ter feito o mal apenas uma, ele vai se afastar de você devido àquela única ofensa. As pessoas veem apenas os defeitos. Na verdade, deve-se notar os méritos”.
Ela dizia: “Todos podem destruir, mas quantos podem construir? Qualquer um pode criticar e insultar um homem, quantos podem melhorá-lo?”, um ensinamento que ressoa muito com nosso cotidiano e sermos apenas “encontradores” de defeitos. Ao tentar ajudar alguém a não cometer mais erros ou corrigir um defeito, estamos purificando também a nossa mente, muito acostumada a julgamentos. Ajudar com humildade e encorajar a mudança positiva no outro traz benefícios a longo prazo e muda os paradigmas da convivência humana. “Ver os defeitos dos outros! Ninguém deveria fazer isso. Eu nunca faço. O perdão é tapasya (austeridade)”, afirmava a Mãe, deixando um conselho precioso para todos os seus filhos.
[Trechos traduzidos de O Evangelho da Santa Mãe, compilado por Swami Nikhilananda, e de A Mãe do Mundo, de Swami Bhuteshananda.]
No comments:
Post a Comment