O ponto entre as sobrancelhas é um lugar místico para os yogues e sábios, indo além das tradições hindus e budistas para ser um ensinamento também no taoismo e cristianismo. Este ponto é uma intersecção entre mundo material e mundo espiritual, e dotado de imensa força psíquica. Há diversas meditações prescritas focando neste ponto e preceitos que instruem este ponto em específico como um dos focos do praticante - além do ponto de concentração no coração.
Localizado entre as sobrancelhas, este ponto místico é reconhecido como uma porta entreaberta para a consciência plena e elevada, sendo que abrir completamente tal porta depende da prática de purificação do aspirante. Este ponto marca o centro do encontro entre uma linha horizontal (que simboliza o mundo físico) e uma vertical (que simboliza o divino). Tal intersecção é fonte de expansão psíquica e introspecção.
A este ponto são atribuídas denominações como chakra ajna, terceiro olho e/ou glândula pineal, mas independente de se tentar categorizar este ponto de energia, ele é um centro para a força da intuição, da inspiração e das sugestão espirituais (no sentido mediúnico do termo).
Muito tratado como o “olho espiritual”, este ponto é mencionado no Evangelho de Mateus, quando é dito: “A luz do corpo é o olho. Se, portanto, seu olho for bom, todo o seu corpo se encherá de luz”, o que tutela este ponto como a residência da chispa divina, o “local” onde nosso espírito “reside” no corpo. Este ponto deve ser meditado e é indicado por tradições taoistas como o melhor ponto para que o espírito deixe o corpo no momento da morte. Para eles, há vários pontos por onde o espírito deixa o corpo quando este morre, dentre eles estão os olhos, ouvidos, boca, nariz, moleira e órgãos genitais, além do ponto entre as sobrancelhas, indicado como “a melhor saída do espírito”.
Nos hinduísmos (o que agrega todas as denominações, como shaktas, shaivas, vaishnavas, etc.), a região do ponto está sempre belamente adornada com joias, bindhis, kumkum, tilaka e demais adereços. É neste ponto que devemos focar (além do coração) quando fazemos reverências tocando a cabeça no chão diante das deidades.
Há inúmeras passagens nos Upanishads que referenciam este ponto como uma chave na vida e na sadhana do aspirante, dada a importância de que o praticante “descubra” a função deste ponto em sua purificação espiritual.
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Nada Bindu Upanishad
4. Em seu coração [do aspirante], está situado Janoloka [dimensão do conhecimento]; Tapoloka em sua garganta [dimensão da austeridade, meditação e presença divina]; e Satyaloka [ou Brahmaloka, dimensão de Brahma, o criador] no centro da testa, entre as sobrancelhas.
Dhyana Bindu Upanishad
32-34(a). Então, através da expiração, deve-se meditar sobre o Shiva de três olhos entre as duas sobrancelhas, brilhando como um cristal puro, imaculado, destruindo todos os pecados, sendo como um lótus voltado para baixo, com sua flor (ou face) para baixo e o caule para cima, ou como a flor de uma bananeira, sendo da forma de todos os Vedas, contendo cem pétalas e cem folhas e tendo o pericarpo totalmente expandido.
39. Tendo feito a posição de lótus da forma de Ardha-Matra [o estado espiritual mais elevado, sem qualidades] deve-se puxar a respiração através do caule (dos canais susumna, ida e pingala) e absorvê-la no meio das sobrancelhas.
40. Ele [o praticante] deve saber que o meio das sobrancelhas na testa, que também é a raiz do nariz, é a sede do néctar. Essa é a grande morada de Brahman.
Yoga Tattva Upanishad
24(b)-25. Agora ouça sobre Hatha Yoga. É dito que esta Yoga possui os seguintes oito preceitos: yama (tolerância), niyama (observância religiosa), asana (postura), pranayama (supressão da respiração), pratyahara (subjugação dos sentidos), dharana (concentração), dhyana, a meditação e contemplação em Hari no meio das sobrancelhas, e samadhi, que é o estado de igualdade.
94(b)-96. Do coração até o meio das sobrancelhas é conhecido como a região de vayu [o elemento ar]. Vayu tem formato hexagonal, cor preta e brilha com a letra “ya”. Levando a respiração ao longo da região de vayu, deve-se contemplar Ishvara, o Onisciente, como possuindo faces em todos os lados; e praticando Dharana ali por duas horas, entra-se em vayu e então em akasha [o elemento espaço].
97-98(a). O Yogi não encontra sua morte por medo de vayu. Do centro das sobrancelhas até o topo da cabeça é dito ser a região de akasha, que é circular no formato, tem cor esfumaçada e brilha com a letra “ha”.
117(b)-118(a). Com a língua enfiada na cavidade interna da cabeça (ou garganta) e com os olhos fixos no ponto entre as sobrancelhas, isso é chamado Khechari-Mudra.
Yoga Chudamani
82. O Hamsa Mantra (mantra do cisne) brilha no entremeio dos dois olhos; a letra “sa” [em hamsa] é conhecida como kechari, que significa “aquilo que viaja pelo céu”. É consentido que “sa” equivale à palavra “tvam” (tu) no famoso dizer védico “Tat Tvam Assi”, “você é Aquilo”.
Tripura Tapini Upanishad
1.1: Agora, nesta esfera de ignorância, o Senhor Sadashiva, assumindo os disfarces de Prajapati, Vishnu e Rudra, vem a ser denominado Deusa Tripura. Por Seu Poder primordial são moldadas as três moradas – a terra, a atmosfera e os céus, ou os céus, a terra e o mundo inferior. Na forma da sílaba-semente “hrim”, idêntica à ilusão de Hara [Shiva], a divina Hrillekha permeia, com Seu terrível poder, o cume dos três picos, acima da junção das duas sobrancelhas, o assento de equilíbrio dos três gunas, e a região onde o mundo dos objetos é dissolvido. Esta mesma divindade é chamada Tripura.
[Continua]
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