Sunday, February 23, 2025

Desvendando o Místico Ponto Entre As Sobrancelhas - Parte 2

 


[Continuação]

Mandala Brahmana Upanishad

2. O corpo tem cinco manchas: paixão, raiva, expiração, medo e sono. A remoção destas pode ser afetada respectivamente pela ausência de sankalpa [intenção], perdão, alimentação moderada, cuidado e uma visão espiritual dos tattvas [princípios cósmicos]. Para cruzar o oceano de samsara, onde o sono e o medo são as serpentes, a injúria e outras emoções correlatas são as ondas, trishna (sede) é o redemoinho e a esposa é a lama, deve-se aderir ao caminho sutil e ultrapassar tattvas e outros gunas para buscar por taraka. Taraka é Brahman, que, estando no meio das duas sobrancelhas, é da natureza da refulgência espiritual de Sat Chit Ananda. 


3. Saiba que o Yoga é duplo através de sua divisão em purva (anterior) e uttara (posterior). O anterior é Taraka e o posterior é Amanaska (o sem mente). Taraka é dividido em murti (com limitação) e amurti (sem limitação). O Murti Taraka vai até o fim dos sentidos (ou existe até os sentidos serem conquistados). O Amurti Taraka vai além das duas sobrancelhas (acima dos sentidos). Ambos devem ser realizados através da mente. Antar-drishti (visão interna) associada com manas vêm para ajudar Taraka. Tejas (luz espiritual) aparece no buraco entre as duas sobrancelhas. Este Taraka é o anterior. O posterior é amanaska. A grande jyoti (luz espiritual) está acima da raiz do palato. Ao vê-la, obtém-se os oito siddhis. Sambhavi-mudra ocorre quando lakshya (visão espiritual) é interna, enquanto os olhos (físicos) estão vendo externamente sem piscar. Esta é a grande ciência que está oculta em todos os Tantras. Quando isso é conhecido, não se permanece em samsara. Sua adoração (ou prática) traz a salvação. 


Sandilya Upanishad


9. O Siddha [o praticante que possui siddhis] deve sentar-se confortavelmente com o corpo ereto, pressionar o períneo com o calcanhar esquerdo e colocar o calcanhar do pé direito acima do órgão genital, concentrando a mente entre as duas sobrancelhas.


16. Ao ter a exposição da Vedanta, deve-se começar a praticar Yoga. No começo, faça adoração a Vinayaka (Ganesha), saúde seu Ishta-Devata (divindade escolhida) e sente-se em qualquer uma das posturas acima mencionadas em um assento macio, voltado para o leste ou o norte e, tendo praticado-as com êxito, o homem erudito, mantendo sua cabeça e pescoço eretos e fixando seu olhar na ponta do nariz, deve ver a esfera da lua entre suas sobrancelhas e beber o néctar (fluindo dela através de seus olhos).


48-50. Quando a consciência (samvit) é fundida em prana e quando, através da prática o prana passa pelo buraco superior para o dvadasanta (o décimo segundo centro) acima do palato, então as flutuações de prana são interrompidas. Quando o olho da consciência (ou seja, o espiritual ou terceiro olho) se torna calmo e claro de modo a ser capaz de ver distintamente no akasa transparente, a uma distância de doze dígitos da ponta do nariz, então as flutuações de prana são interrompidas. Quando os pensamentos que surgem na mente são vinculados à contemplação calma do mundo de taraka (estrela ou olho) entre as sobrancelhas e são (assim) destruídos, então as flutuações cessam.


60-61. Quando a língua tiver sido alongada até o comprimento de um kala (dígito) através da incisão do frênulo, esfregando e umedecendo-o (ou seja, a língua), fixe o olhar entre as duas sobrancelhas e feche o buraco do crânio [a cavidade nasal] com a língua invertida. Este é Khechari-mudra. A língua e chitta (mente) se movem no akasa (khechari), então a pessoa com sua língua levantada se torna imortal. 


Yoga Kundalini Upanishad


Capítulo 1


7. Shakti é Kundalini. Um homem sábio deve levá-la de sua morada (ou seja, o umbigo) para cima até o meio das sobrancelhas. Isso é chamado Sakti-Chala.


68-69(a). Então, ela sobe imediatamente através de Vishnugranthi [o “nó de Vishnu”, que é uma obstrução de energia no caminho percorrido pela kundalini; encontra-se na região do chakra cardíaco e impede o avanço da devoção e amor incondicionais] até o coração. Ela então sobe através de Rudragranthi [o “nó de Rudra”, outra obstrução, ou nó, que a kundalini deve superar em seu caminho do umbigo até a cabeça; este nó compromete a elevação espiritual; está localizado na região do chakra ajna]  e acima dele até o meio das sobrancelhas; tendo perfurado este lugar, ela sobe até a mandala (esfera) da lua.


Saubhagya Lakshmi Upanishad


III-9: A nona é a roda do espaço. Há o lótus com dezesseis pétalas, voltado para cima. Seu pericarpo no meio tem o formato dos "picos ondulados" (o centro das sobrancelhas). Em seu centro, deve-se meditar sobre o poder ascendente, o vazio supremo. De fato, este é o assento do "monte completo", o instrumento de realização de todos os desejos.

Monday, February 17, 2025

Sri Ramakrishna - Instrutor do Mundo

 


Mais um aniversário de Sri Ramakrishna é comemorado neste 18 de fevereiro. O advento de Thakur só pode ser explicado através da Graça Divina, que fez descer à Terra mais um jagat guru, o instrutor do mundo, epíteto dado a Ramakrishna e também a Krishna. Krishna instrui os homens através de Seus passatempos no campo de batalha e no campo do amor supremo, e Ramakrishna instrui como se chega a Krishna e como se tornar um com Ele. Sri Ramakrishna, chamado de “o louco de Deus”, afirmou aquilo que apenas um avatar poderia: que Deus é tanto pessoal quanto impessoal, tanto Brahman quanto Sua energia, tanto o espírito quanto a matéria - uma sanidade capaz de abalar muitas mentes daquela época e do contemporâneo. Uma instrução primordial que Ele deixou foi: “Tudo isso [referindo-Se às conversas filosóficas] não leva a nada. Apenas Deus pode dizer o que Ele é”, afinal, apesar dos constantes debates entre os distintos ramos da Vedanta, no fim, apenas o próprio Deus poderia concluir quem ou o que Ele realmente é, se com forma ou sem forma, se dualista ou monista, se é pai ou se é mãe. Sri Ramakrishna é o paradoxo de um pandit quase iletrado, tudo que sabe vem de dentro, não é livresco, é real, dotado com uma força e conhecimento inatos, uma renúncia sem igual, um verdadeiro Paramahamsa. Sri Ramakrishna instruiu discípulos monásticos, chefes de família e muitas mulheres. Sua adoração à Mãe Divina colocava a energia feminina de Deus em primeiro plano, assim Ele instruiu para que o aspecto Shakti de Deus fosse adorado e levado em consideração. Para praticarem o amor à Mãe Divina, Ele trouxe Sri Sarada Devi, a personificação de Shakti, para perto dos devotos de então e para outros inúmeros que tomaram refúgio aos pés Dela futuramente. As instruções Dele ecoam até hoje, 189 anos após Sua vinda, porque com elas é possível decifrar Deus e Seus poderes, Sua ilusão, Seus jogos. O que Ramakrishna deixou ao mundo foram instruções de como se tornar o açúcar, não apenas experimentá-lo, ou: ser como Deus, não apenas idealizá-Lo.

Wednesday, February 12, 2025

Desvendando O Místico Ponto Entre As Sobrancelhas - Parte 1

 


O ponto entre as sobrancelhas é um lugar místico para os yogues e sábios, indo além das tradições hindus e budistas para ser um ensinamento também no taoismo e cristianismo. Este ponto é uma intersecção entre mundo material e mundo espiritual, e dotado de imensa força psíquica. Há diversas meditações prescritas focando neste ponto e preceitos que instruem este ponto em específico como um dos focos do praticante - além do ponto de concentração no coração. 


Localizado entre as sobrancelhas, este ponto místico é reconhecido como uma porta entreaberta para a consciência plena e elevada, sendo que abrir completamente tal porta depende da prática de purificação do aspirante. Este ponto marca o centro do encontro entre uma linha horizontal (que simboliza o mundo físico) e uma vertical (que simboliza o divino). Tal intersecção é fonte de expansão psíquica e introspecção.


A este ponto são atribuídas denominações como chakra ajna, terceiro olho e/ou glândula pineal, mas independente de se tentar categorizar este ponto de energia, ele é um centro para a força da intuição, da inspiração e das sugestão espirituais (no sentido mediúnico do termo). 


Muito tratado como o “olho espiritual”, este ponto é mencionado no Evangelho de Mateus, quando é dito: “A luz do corpo é o olho. Se, portanto, seu olho for bom, todo o seu corpo se encherá de luz”, o que tutela este ponto como a residência da chispa divina, o “local” onde nosso espírito “reside” no corpo. Este ponto deve ser meditado e é indicado por tradições taoistas como o melhor ponto para que o espírito deixe o corpo no momento da morte. Para eles, há vários pontos por onde o espírito deixa o corpo quando este morre, dentre eles estão os olhos, ouvidos, boca, nariz, moleira e órgãos genitais, além do ponto entre as sobrancelhas, indicado como “a melhor saída do espírito”.


Nos hinduísmos (o que agrega todas as denominações, como shaktas, shaivas, vaishnavas, etc.), a região do ponto está sempre belamente adornada com joias, bindhis, kumkum, tilaka e demais adereços. É neste ponto que devemos focar (além do coração) quando fazemos reverências tocando a cabeça no chão diante das deidades. 


Há inúmeras passagens nos Upanishads que referenciam este ponto como uma chave na vida e na sadhana do aspirante, dada a importância de que o praticante “descubra” a função deste ponto em sua purificação espiritual. 


º º º

Nada Bindu Upanishad

4. Em seu coração [do aspirante], está situado Janoloka [dimensão do conhecimento]; Tapoloka em sua garganta [dimensão da austeridade, meditação e presença divina]; e Satyaloka [ou Brahmaloka, dimensão de Brahma, o criador] no centro da testa, entre as sobrancelhas. 


Dhyana Bindu Upanishad

32-34(a). Então, através da expiração, deve-se meditar sobre o Shiva de três olhos entre as duas sobrancelhas, brilhando como um cristal puro, imaculado, destruindo todos os pecados, sendo como um lótus voltado para baixo, com sua flor (ou face) para baixo e o caule para cima, ou como a flor de uma bananeira, sendo da forma de todos os Vedas, contendo cem pétalas e cem folhas e tendo o pericarpo totalmente expandido.


39. Tendo feito a posição de lótus da forma de Ardha-Matra [o estado espiritual mais elevado, sem qualidades] deve-se puxar a respiração através do caule (dos canais susumna, ida e pingala) e absorvê-la no meio das sobrancelhas.


40. Ele [o praticante] deve saber que o meio das sobrancelhas na testa, que também é a raiz do nariz, é a sede do néctar. Essa é a grande morada de Brahman.


Yoga Tattva Upanishad

24(b)-25. Agora ouça sobre Hatha Yoga. É dito que esta Yoga possui os seguintes oito preceitos: yama (tolerância), niyama (observância religiosa), asana (postura), pranayama (supressão da respiração), pratyahara (subjugação dos sentidos), dharana (concentração), dhyana, a meditação e contemplação em Hari no meio das sobrancelhas, e samadhi, que é o estado de igualdade.


94(b)-96. Do coração até o meio das sobrancelhas é conhecido como a região de vayu [o elemento ar]. Vayu tem formato hexagonal, cor preta e brilha com a letra “ya”. Levando a respiração ao longo da região de vayu, deve-se contemplar Ishvara, o Onisciente, como possuindo faces em todos os lados; e praticando Dharana ali por duas horas, entra-se em vayu e então em akasha [o elemento espaço].


97-98(a). O Yogi não encontra sua morte por medo de vayu. Do centro das sobrancelhas até o topo da cabeça é dito ser a região de akasha, que é circular no formato, tem cor esfumaçada e brilha com a letra “ha”.


117(b)-118(a). Com a língua enfiada na cavidade interna da cabeça (ou garganta) e com os olhos fixos no ponto entre as sobrancelhas, isso é chamado Khechari-Mudra.


Yoga Chudamani

82. O Hamsa Mantra (mantra do cisne) brilha no entremeio dos dois olhos; a letra “sa” [em hamsa] é conhecida como kechari, que significa “aquilo que viaja pelo céu”. É consentido que “sa” equivale à palavra “tvam” (tu) no famoso dizer védico “Tat Tvam Assi”, “você é Aquilo”.


Tripura Tapini Upanishad

1.1: Agora, nesta esfera de ignorância, o Senhor Sadashiva, assumindo os disfarces de Prajapati, Vishnu e Rudra, vem a ser denominado Deusa Tripura. Por Seu Poder primordial são moldadas as três moradas – a terra, a atmosfera e os céus, ou os céus, a terra e o mundo inferior. Na forma da sílaba-semente “hrim”, idêntica à ilusão de Hara [Shiva], a divina Hrillekha permeia, com Seu terrível poder, o cume dos três picos, acima da junção das duas sobrancelhas, o assento de equilíbrio dos três gunas, e a região onde o mundo dos objetos é dissolvido. Esta mesma divindade é chamada Tripura.


[Continua]

Sunday, February 9, 2025

Bhaja Govinda: Willow Smith


Alçada à fama com a epítome pop de “Whip my hair” aos 9 anos, Willow Smith tem muito mais a oferecer musicalmente do que hits comerciais. A cantora (e também atriz e musicista) é devota convicta de Krishna, seguidora da ISKCON e não esconde sua inclinação espiritual vaishnava, trazendo temas da Consciência de Krishna para seu repertório e ostentando símbolos devocionais, como a tilaka, como seu adereço mais marcante esteticamente.

No recente pocket show que fez no Tiny Desk da NPR, Willow deixa clara sua devoção a Krishna não somente por estar adornada com a tilaka, mas principalmente porque sua voz emana uma certa bem-aventurança que os devotados desenvolvem e demonstram naturalmente. 



Um repertório que abrange músicas de sucesso, como “Wait a minute!”, e novas (até então) - que integram seu álbum de 2024, o sexto de carreira, Empathogen -, como “Big Feelings”, a apresentação é carregada de bhava (emoção espiritual) e rasa (de sabor doce). Dotada de uma voz macia e forte, Willow brinca com diferentes timbres vocais enquanto conduz as melodias que vão do alt-jazz e art-pop ao R’n’B e soul.


Seus laços com a Consciência de Krishna permeiam toda sua discografia, a exemplo de composições como “And Contentment”, “Female Energy”, “Transparent Soul”, “Hover like a Goddess”, “False Self” e outros temas, além de lançamentos especiais como ao lado de Jahnavi Harrison (que não tem qualquer parentesco com George Harrison), com quem lançou o EP Rise, inspirado por kirtans, mantras e bhakti-yoga. 




Jagannath Ashtakam

  Atribuído a Sri Adi Shankaracharya, o Jagannath Ashtakam , ou Oito Versos a Jagannath , é uma ode de louvor a Sri Jagannath, literalmente ...