Monday, December 16, 2024

Bhaja Govinda: Shelter (show em São Paulo)

 


Eu estava esperando chegar o show do Shelter para dar início a esta seção, Bhaja Govinda, com artistas musicais que foram inspirados diretamente pelas ideias da Vedanta e/ou influenciados pelo movimento bhakti de adoração a Krishna.

Bhaja Govinda quer dizer “cante/saúde a Govinda”, um dos muitos nomes de Sri Krishna, além de ser um adorado texto - por parte dos monistas (advaitins) e dos dualistas (dvaitins) de Adi Shankaracharya sobre a devoção.

O Shelter, na ativa desde 1991, praticamente dispensa apresentações quando se trata de punk/hardcore e a intersecção com a devoção a Hari. Reconhecidos como “fundadores” do estilo Krishna Core, a banda instituiu um estilo único que juntou a fúria consciente do punk/hardcore e da cultura straight-edge com a adoração de Krishna. Se George Harrison espalhou o movimento Hare Krishna para o mundo nos anos 1970, o Shelter deu continuidade nos anos 1990, atingindo uma nova geração de jovens interessados em rock e contraculturas. Não é exagero dizer que a banda contribuiu muito para dar uma roupagem diferente aos novos devotos de Krishna nos Estados Unidos - e além, como no Brasil - 20 anos depois da passagem de Srila Prabhupada por lá, uma nova geração de quase adultos que já se viam sufocados pelo consumismo, pela cultura de rivalidades e que buscavam um outro sentido para a vida - tudo isso ouvindo pesados acordes de guitarra e o típico vocal de Ray Cappo, com suas letras sobre adoração, reverências, reflexões vedanticas e sobre a vida cotidiana.


Após duas décadas sem se apresentar no Brasil, o quarteto retornou ao país para um show em Curitiba e outro em São Paulo, no domingo, 15 de dezembro, quando foi recebido com calor e roda de pogo pelo público. Animados com o show, os integrantes demonstraram muito daquela energia juvenil que tornou a banda um expoente do hardcore de Nova York. No setlist, músicas como “Appreciation”, “Better Way”, “Hated to Love”, “Empathy”, “Here We Go Again” e outras não deram descanso para o público. Particularmente, senti falta de ter “Busy Doing Nothing” no repertório. Na plateia era possível perceber as diferentes gerações de pessoas que acompanhavam o show: os mais velhos, que acompanham a banda há anos, uma molecada nova - muitos deles ostentando o emblemático X straight-edge na mão -, e devotos de Krishna, com seus kanti [cordão em volta do pescoço], shikha [tufo de cabelo] e tocando manjira entre uma música e outra. Que cena para se presenciar: Deus está mesmo em todos os lugares, até num show de hardcore. 


Eu aguardava especialmente o momento em que eles cantassem o Mahamantra Hare Krishna, que aconteceu já perto do final. Foi uma sensação única poder entoar os versos daquela maneira, num ambiente pouco propício para tal. A verdade é que o Mahamantra é tão poderoso que está acima dessa dualidade de ter um local propício para ser cantado ou não. Mas presenciar tal momento já é um dos meus itens de memorabilia devocional preferidos. 


O final não poderia ter sido melhor: ouvir ao vivo a recitação da invocação que abre a música “Shelter” e cantar em coro “I need your shelter”. No encerramento, para minha surpresa, tocou “Govinda”, na belíssima versão do álbum Radha Krishna Temple, certamente um dos meus discos preferidos desta vida. Uma experiência de devoção combinada com som pesado: gostamos. 



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