Friday, December 20, 2024

O Evangelho da Santa Mãe Sri Sarada Devi

 

Foto de Sri Sarada Devi em Baghbazar, em Calcutá, no ano bengali de 1311, 1905 d.C.


Na antevéspera de mais uma comemoração de aniversário da Santa Mãe, celebrado no próximo dia 22, nada mais propício e auspicioso do que experimentar o néctar da vida Dela através da leitura do Evangelho da Santa Mãe Sri Sarada Devi. O livro é um diário de memórias de discípulos monásticos e leigos que conviveram com a Santa Mãe e tem ensinamentos essenciais.

Evangelho da Santa Mãe Sri Sarada Devi é a tradução do Shri Shri Mayer Katha, em bengali, publicado pelo Ramakrishna Math de Chenai. O original foi ampliado com mais estórias, organizado e traduzido para a versão em inglês por Swami Nikhilananda (que recebeu iniciação com a própria Mãe), em 1984. 

Baixe O Evangelho da Santa Mãe Sri Sarada Devi em PDF: Academia.edu

Jay Maa. 

Wednesday, December 18, 2024

Kali Santarana Upanishad

 


Neste Upanishad é revelado o segredo para fazer a travessia correta (santarana) na época de ferro (Kali Yuga), através de um curto diálogo entre o eterno devoto Narada com Brahma. Como proceder nesse mar de ilusão e dualidades, que é a vida material, está ao alcance de todos, como explicado pelos sábios.


Baixe em PDF: Academia.edu 


º º º

Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Hari Om!


Ao final da Dwapara Yuga [quando Sri Krishna deixa o corpo, findando assim a Terceira Era], Narada foi até Brahma e se dirigiu a ele desta maneira: “Ó Senhor, como posso eu, que perambulo pela Terra, ser capaz de atravessar Kali?”. Brahma respondeu: “Bem perguntado. Ouça com atenção aquilo que todos os Shrutis (os Vedas) mantêm em segredo e guardado, com o qual pode se atravessar samsara (a existência terrena) de Kali. Livre-se (dos efeitos nocivos) de Kali através da mera repetição do nome do Senhor Narayana, que é o Purusha [alma suprema] primevo”.


Narada perguntou novamente: “Qual é o nome?”, ao que Hiranyagarbha (Brahma) respondeu:


Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare” 


“Esses dezesseis nomes (palavras) são destruidores de todos os efeitos nocivos de Kali. Não há melhor maneira do que essa em todos os Vedas. Esses dezesseis nomes destroem a avarana - ou a força centrípeta que produz o sentido de individualidade - da Jiva, que está rodeada pelos dezesseis kalas (raios). Então, assim como a esfera do sol brilha plenamente após as nuvens que o cobriam dissiparem, o Parabrahman [Paramatma] brilha.”


Narada perguntou: “Ó Senhor, quais são as regras que devem ser observadas referentes a isso?”. Brahma respondeu que não há regras. Quem, em estado puro ou impuro, profere estas palavras sempre, alcança o mesmo mundo, ou proximidade, ou a mesma forma, ou absorção em Brahman.


Quem proferir três crores e meio (trinta e cinco milhões) de vezes este Mantra composto por dezesseis nomes supera o pecado de assassinar um Brâmane. Ele se purifica do pecado de roubar ouro. Ele se purifica do pecado da coabitação com uma mulher de casta baixa. Ele se purifica dos erros cometidos com os pritis [antepassados], Devas [deuses] e homens. Libertando-se de todos os Dharmas, ele se liberta de todos seus pecados de uma vez por todas. Ele é liberado de toda a servidão de uma vez por todas. 


Que ele seja liberado de toda a escravidão. Assim é este Upanishad.


Hari Om Tat Sat.


Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Kali Santarana Upanishad, como contido no Krishna Yajur Veda


º º º

Traduzido para o inglês por K. Narayanaswami Aiyar

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

[N. do T.: as informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Monday, December 16, 2024

Bhaja Govinda: Shelter (show em São Paulo)

 


Eu estava esperando chegar o show do Shelter para dar início a esta seção, Bhaja Govinda, com artistas musicais que foram inspirados diretamente pelas ideias da Vedanta e/ou influenciados pelo movimento bhakti de adoração a Krishna.

Bhaja Govinda quer dizer “cante/saúde a Govinda”, um dos muitos nomes de Sri Krishna, além de ser um adorado texto - por parte dos monistas (advaitins) e dos dualistas (dvaitins) de Adi Shankaracharya sobre a devoção.

O Shelter, na ativa desde 1991, praticamente dispensa apresentações quando se trata de punk/hardcore e a intersecção com a devoção a Hari. Reconhecidos como “fundadores” do estilo Krishna Core, a banda instituiu um estilo único que juntou a fúria consciente do punk/hardcore e da cultura straight-edge com a adoração de Krishna. Se George Harrison espalhou o movimento Hare Krishna para o mundo nos anos 1970, o Shelter deu continuidade nos anos 1990, atingindo uma nova geração de jovens interessados em rock e contraculturas. Não é exagero dizer que a banda contribuiu muito para dar uma roupagem diferente aos novos devotos de Krishna nos Estados Unidos - e além, como no Brasil - 20 anos depois da passagem de Srila Prabhupada por lá, uma nova geração de quase adultos que já se viam sufocados pelo consumismo, pela cultura de rivalidades e que buscavam um outro sentido para a vida - tudo isso ouvindo pesados acordes de guitarra e o típico vocal de Ray Cappo, com suas letras sobre adoração, reverências, reflexões vedanticas e sobre a vida cotidiana.


Após duas décadas sem se apresentar no Brasil, o quarteto retornou ao país para um show em Curitiba e outro em São Paulo, no domingo, 15 de dezembro, quando foi recebido com calor e roda de pogo pelo público. Animados com o show, os integrantes demonstraram muito daquela energia juvenil que tornou a banda um expoente do hardcore de Nova York. No setlist, músicas como “Appreciation”, “Better Way”, “Hated to Love”, “Empathy”, “Here We Go Again” e outras não deram descanso para o público. Particularmente, senti falta de ter “Busy Doing Nothing” no repertório. Na plateia era possível perceber as diferentes gerações de pessoas que acompanhavam o show: os mais velhos, que acompanham a banda há anos, uma molecada nova - muitos deles ostentando o emblemático X straight-edge na mão -, e devotos de Krishna, com seus kanti [cordão em volta do pescoço], shikha [tufo de cabelo] e tocando manjira entre uma música e outra. Que cena para se presenciar: Deus está mesmo em todos os lugares, até num show de hardcore. 


Eu aguardava especialmente o momento em que eles cantassem o Mahamantra Hare Krishna, que aconteceu já perto do final. Foi uma sensação única poder entoar os versos daquela maneira, num ambiente pouco propício para tal. A verdade é que o Mahamantra é tão poderoso que está acima dessa dualidade de ter um local propício para ser cantado ou não. Mas presenciar tal momento já é um dos meus itens de memorabilia devocional preferidos. 


O final não poderia ter sido melhor: ouvir ao vivo a recitação da invocação que abre a música “Shelter” e cantar em coro “I need your shelter”. No encerramento, para minha surpresa, tocou “Govinda”, na belíssima versão do álbum Radha Krishna Temple, certamente um dos meus discos preferidos desta vida. Uma experiência de devoção combinada com som pesado: gostamos. 



Wednesday, December 11, 2024

Bhagavad Gita Jayanti

 


O aparecimento/aniversário (jayanti) do Bhagavad Gita está sendo  celebrado hoje, 11 de dezembro, em todos os corações tocados pela flauta de Krishna. O Gita “aparece” na Terra, há 5.161 anos, quando Sri Krishna instrui Arjuna sobre seus deveres perante o campo de Kurukshetra e dá instruções de como viver nesse mundo de dualidades e ilusões sem se amarrar às causas e efeitos das ações. Dentre tantos ensinamentos que transformam vidas, um especialmente tocante é quando o Senhor descreve as qualidades do devoto puro, aquele por quem o próprio Krishna tem muito afeto. O trecho, presente no capítulo 12, deve ser lido e relido de tempos em tempos para medirmos nosso avanço - ou retrocesso - no caminho para nos tornarmos o devoto perfeito. Este capítulo do Gita é tão imprescindível para quem almeja ser um verdadeiro devoto que nele contém uma das gemas do livro, o Amrita Ashtakam, ou oitos versos de néctar, que se referem ao excerto entre os versos 13 e 20.


º º º

Capítulo 12

Serviço Devocional 

Trecho do Bhagavad Gita Como Ele É, de Srila Prabhupada

VERSO 1: Arjuna perguntou: Quais são considerados os mais perfeitos, aqueles que sempre estão devidamente ocupados em Seu serviço devocional, ou aqueles que adoram o Brahman impessoal, o imanifesto?

VERSO 2: A Suprema Personalidade de Deus disse: Aqueles que fixam suas mentes na Minha forma pessoal e sempre se ocupam em Me adorar com uma fé forte e transcendental, são considerados por Mim como os mais perfeitos.

VERSOS 3-4: Mas aqueles que adoram plenamente o imanifesto, aquilo que está além da percepção dos sentidos, o onipenetrante, inconcebível, imutável, fixo e imóvel — a concepção impessoal da Verdade Absoluta — controlando os vários sentidos e sendo equânimes para com todos, tais pessoas, ocupadas em prol do bem-estar de todos, acabarão Me alcançando.

VERSO 5: Para aqueles cujas mentes estão apegadas ao aspecto impessoal e imanifesto do Supremo, o progresso é muito problemático. Progredir nesta disciplina é sempre difícil para aqueles que estão encarnados. 

VERSOS 6-7: Mas aqueles que Me adoram, dedicando todas as suas atividades a Mim e não se afastando de sua devoção a Mim, ocupando-se no serviço devocional e sempre meditando em Mim, tendo fixado suas mentes em Mim, ó filho de Pṛthā — para eles Eu sou o pronto salvador do oceano de nascimentos e mortes. 

VERSO 8: Fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda a sua inteligência em Mim. Assim, não haverá dúvida alguma de que você viverá sempre em Mim.

VERSO 9: Meu querido Arjuna, ó conquistador de riquezas, se você não pode fixar sua mente em Mim sem se desviar, então, siga os princípios reguladores que fazem parte da bhakti-yoga. Desenvolva deste modo um desejo de Me alcançar.

VERSO 10: Se você não pode praticar as regulações que fazem parte da bhakti-yoga, então, simplesmente tente trabalhar para Mim. Porque, trabalhando para Mim, você chegará à fase perfeita.

VERSO 11: Se, entretanto, você é incapaz de trabalhar nesta Minha consciência, então, tente agir renunciando a todos os resultados de seu trabalho e procure situar-se no eu.

VERSO 12: Se você não pode adotar esta prática, então, ocupe-se no cultivo de conhecimento. Entretanto, melhor do que o conhecimento é a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação, pois, com esta renúncia, pode-se alcançar paz de espírito.

VERSOS 13-14: Aquele que não é invejoso, mas é um amigo bondoso para todas as entidades vivas, que não se considera proprietário e está livre do falso ego, que é equânime tanto na felicidade quanto na aflição, que é tolerante, sempre satisfeito, autocontrolado e ocupa-se em serviço devocional com determinação, tendo sua mente e inteligência fixas em Mim — semelhante devoto Me é muito querido.

VERSO 15: Aquele que não põe ninguém em dificuldades e a quem ninguém perturba, que é equânime na felicidade e na aflição, no medo e na ansiedade, Me é muito querido. 

VERSO 16: Esse meu devoto que não depende da rotina habitual de suas atividades, que é puro, perito, despreocupado, livre de todas as dores, e que não está lutando para obter algum resultado, Me é muito querido. 

VERSO 17: Aquele que não se alegra nem se magoa, que não se lamenta nem deseja, e que renuncia tanto às coisas auspiciosas quanto às inauspiciosas — semelhante devoto Me é muito querido.

VERSOS 18-19: Aquele que é igual para com amigos e inimigos; que é equânime na honra e na desonra, calor e frio, felicidade e aflição, fama e infâmia; que está sempre livre de associação contaminadora, sempre silencioso e satisfeito com qualquer coisa, que não se importa com nenhuma residência; que está fixo em conhecimento e se ocupa em serviço devocional — semelhante pessoa Me é muito querida. 

VERSO 20: Aqueles que seguem este caminho imperecível do serviço devocional e que se ocupam com plena fé, fazendo de Mim a meta suprema, são muitíssimo queridos por Mim.

Jagannath Ashtakam

  Atribuído a Sri Adi Shankaracharya, o Jagannath Ashtakam , ou Oito Versos a Jagannath , é uma ode de louvor a Sri Jagannath, literalmente ...