Sunday, October 27, 2024

Kaivalya Upanishad

 


Kaivalya é um dos nomes dados ao estágio em que se atinge a liberação. É dito que o estado de Kaivalya-mukti seja o ideal mais elevado em termos de liberação. Mas o que isso significa? Kaivalya é um processo no qual o praticante vai se afastando de todos os objetos dos sentidos e materialidades para constatar que ele e Brahman são um. Kaivalya também é o objetivo final da Ashtanga Yoga, significando solitude, isolamento e desapego. Este Upanishad repete e reafirma o Mahavakya mais importante, "Tat Tvam Asi", ou "Tu és Aquilo", uma maneira de dizer que Atma e Paramatma são um e o mesmo. 

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º º º 

Kaivalya Upanishad

Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!

1. Então, Ashvalayana se aproximou do Senhor Paramesthi (Brahma) e disse: Ensine-me, ó Senhor, o conhecimento de Brahman, o mais elevado, sempre cutlivado pelos bons, escondido e através do qual um sábio se afasta instantaneamente de todos os pecados e alcança o Purusha [espírito supremo] mais elevado que o mais elevado.

2. A Ashvalayana, o Senhor Paramesthi respondeu: Saiba que através da fé, da devoção e da meditação, não pelo trabalho, nem pela progênie, nem pela riqueza, mas pela renúncia, é que alguns atingem a imortalidade.

3. Mais alto que o céu, sentado na caverna (Buddhi) [na caverna do coração], aquilo brilha - aquilo que é alcançado pelos autocontrolados. Os autocontrolados, possuidores da mente pura, certamente já verificaram a Realidade através do conhecimento da Vedanta e através de Sannyasa, ou renúncia. Na esfera de Brahma, no momento da dissolução cósmica, todos eles serão liberados da mais alta imortalidade aparente do universo manifestado.

4-5. Em um local recluso, sentado em postura confortável, puro, com o pescoço, cabeça e corpo eretos, vivendo na última das ordens da vida religiosa [i.e. no último dos quatro estágios de ashrama, o estágio do renunciante], tendo controlado todos os sentidos, saudando seu preceptor com reverência, meditando no lótus do coração (meditando em Brahman), imaculado, puro, claro e sem tristezas.

6. Ele que é o inconcebível, imanifesto, de infinitas formas, o bem, o pacífico, imortal, a origem dos mundos, sem começo, meio e fim, o único, que permeia tudo, Consciência, Bem-Aventurança, sem forma e maravilhoso.

7. Meditando no mais elevado Deus, aliado à Uma [Parvati, consorte de Shiva], poderoso, com três olhos, de pescoço azulado e sereno, o sábio chega a Ele, que é a fonte de tudo, a testemunha de tudo e que está além da escuridão [avidya, ignorância].

8. Ele é Brahman, Ele é Shiva, Ele é Indra, Ele é o Imutável, o Supremo, o Autorresplandecente. 

9. Apenas Ele é tudo que já foi e tudo que será, o Eterno. Por conhecê-Lo, transcende-se a morte. Não há outro caminho para a liberdade.

10. Por ver o Atma em todos os seres, e todos os seres no Atma, atinge-se o mais elevado Brahman - não de outras maneiras.

11. Ao tornar o Atma o arani inferior e o OM o arani superior, pela repetida fricção do conhecimento, um sábio queima todas as amarras. [arani é o pequeno pedaço de madeira usado para acender o fogo em rituais.]

12. Com seu eu iludido por Maya, é este eu que se identifica com o corpo e faz todos os tipos de coisas. Em estado de vigília, é ele (a Jiva) que atinge a satisfação através dos variados objetos de prazer, como mulheres, comidas, bebidas, etc.

13. No estado de sonho, a Jiva sente prazer e dor numa esfera de existência criada por sua própria Maya, ou ignorância. Durante o estado de sono profundo, quando tudo se dissolve (em seu estado causal), ela é dominada por tamas, ou não-manifestação, e vem a existir em sua forma de Bem-Aventurança.

14. Novamente depois, devido à conexão com as ações das vidas passadas, aquela mesma Jiva retorna ao estado de sonho ou ao de vigília. Do ser que atua nas três cidades (os estados de vigília, sonho e sono profundo) surgiu toda a diversidade [o universo material]. Ele é o substrato, a Bem-Aventurança, a Consciência indivisível, onde as três cidades se dissolvem. 

15. A partir disso, surge o prana (vitalidade), a mente, todos os órgãos, o céu, o ar, o fogo, a água e a terra que sustenta tudo.

16. Aquilo que é o Brahman Supremo, a alma de todos, a grande sustentação do universo, mais sutil que o sutil, e eterno: este és tu, e tu és Aquilo. 

17. Aquele que manifesta os fenômenos, como os estados de vigília, sonho e sono profundo, eu sou aquele Brahman: ao perceber isto, uma pessoa é liberada de toda a servidão.

18. O que constitui o desfrutar, o desfrutador e o desfrute nos três planos, diferente de todos eles, eu sou; a Testemunha, a Consciência Pura, o Bem Eterno.

19. Apenas em mim, tudo nasce; em mim, tudo repousa; e em mim, tudo é dissolvido. Eu sou aquele Brahman, o sem segundo. 

20. Eu sou menor do que o menor, assim também, sou o maior de todos. Eu sou o universo múltiplo. Eu sou o Ancestral, o Purusha e o Governante. Eu sou o Refulgente e o Todo-Bom. 

21. Eu sou sem braços e pernas, de poder inconcebível. Eu vejo sem olhos e ouço sem ouvidos. Eu conheço tudo e sou diferente de tudo. Ninguém pode conhecer a mim. Eu sou sempre a Inteligência.

22. Apenas eu sou versado nos vários Vedas, eu sou o revelador da Vedanta, ou Upanishads, e também sou o Conhecedor dos Vedas. Para mim, não há mérito nem demérito, não sofro qualquer destruição, não tenho nascimento e nem qualquer identidade com o corpo ou com os órgãos. 

23-24. Para mim, não há terra, nem água, nem fogo, nem ar, nem espaço. Ao conceber o Paramatman como aquele que reside na cavidade do coração [Chidakasha], que é sem partes [inteiro] e um sem um segundo, a Testemunha de tudo, além da existência e da não-existência, atinge-se o próprio Paramatman Puro.

25. Aquele que estuda o Shatarudriya [conjunto de mantras dedicados às cem formas e poderes do Senhor Rudra, ou Shiva] é purificado pelo fogo, e é purificado do pecado de beber, purificado do pecado de matar um Brahmana, dos atos feitos consciente ou inconscientemente. Por este conhecimento, ele obtém refúgio em Shiva, o Ser Supremo. Quem pertence à mais alta ordem da vida [o renunciante], deve repetir [os versos do Shatarudriya] sempre ou uma vez por dia.

26. Através de tais práticas, atinge-se o Conhecimento que destrói o oceano de Samsara e da repetida transmigração. Assim, conhecendo isso, atinge-se o fruto de Kaivalya, ou liberação. Atinge-se com certeza a liberação.

Om! Que Ele nos proteja, que Ele nos alimente.

Que possamos trabalhar juntos com grande energia.

Que nosso estudo seja vigoroso e eficiente.

Que não disputemos mutuamente (ou, que não odiemos ninguém).

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Kaivalya Upanishad, como contido no Krishna Yajur Veda

º º º

Traduzido para o inglês por Swami Madhavananda

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pelo Advaita Ashrama, Calcutá


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Thursday, October 24, 2024

Atma Upanishad

 

Hilma af Klint, Altarpieces - Group X, 1915


Este sucinto Upanishad versa sobre os três diferentes tipos de Ser (Self): o ser (o corpo denso), o Ser interno (o corpo sutil) e o Ser supremo (Brahman). O Ser supremo é a testemunha eterna e o criador da Realidade. Apenas por Seu brilho é que tudo mais brilha. 


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º º º

Atma Upanishad

Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!

Capítulo I


1. Agora, Angirah [o Rishi que ouvia o ensinamento]: o Espírito se manifesta de três maneiras: o ser, o Ser interno e o Ser supremo.


2. Há os órgãos, no lado externo e interno: pele, carne, cabelo, polegar, dedos, coluna, unhas, tornozelos, estômago, umbigo, pênis, quadril, coxas, bochechas, orelhas, sobrancelhas, testa, mãos, flancos, cabeça e olhos. Eles todos nascem e morrem, e são eles que constituem o ser. 


3. Depois, há o Ser interno, que é indicado pelos elementos terra, água, fogo, ar e espaço; [junto aos elementos sutis de] desejo, aversão, prazer, dor, ilusão, dúvidas e memória; (marcado pelo) tom agudo e sem sotaque, com a pronúncia (das vogais) curtas e longas; aquele que ouve, aquele que cheira, aquele que degusta, aquele que lidera, o agente, o ser do conhecimento está de cara a cara com aquele que tropeça, grita, desfruta, dança, canta e toca instrumentos musicais. Ele é aquele espírito antigo que faz a distinção entre Nyaya e Mimamsa*, entre as leis instituídas [nas Escrituras] e o objeto específico da audição, do olfato e do toque. Este é o Ser interno.


[*Nyaya: onde a Realidade Suprema não pode ser compreendida diretamente devido aos desvios dos sentidos e ao conhecimento errôneo da realidade. Mimamsa: uma das filosofias de base do Hinduísmo que estabelece regras para a interpretação dos Vedas.]


4. Depois, vem o Ser supremo, o imperecível. Deve-se meditar Nele com a ajuda das etapas iogues de controle da respiração, recolhimento (dos órgãos dos sentidos), fixar a mente, contemplação e concentração. Ele deve ser compreendido por aqueles que pensam sobre o Eu como sendo a semente de uma figueira-da-bengala, ou como um grão de milheto, ou como a centésima parte de um fio de cabelo. Assim, Ele é conhecido e desconhecido. Ele não nasce, não morre, não seca, não se molha, não se queima, não treme, não se divide, não sua. Ele está além das gunas, é o espectador, é puro, sem partes, único, sutil, não possuindo nada, imaculado, imutável, desprovido de som, tato, cor, gosto, odor, é indubitável, não apegado, onipresente. Ele é impensável e invisível. Ele purifica o impuro, o profano. Ele não age. Ele não está sujeito à existência empírica.


Capítulo II


1. O bom, chamado de Atma, é puro, um e sempre não-dual, na forma de Brahman. Somente Brahman brilha.


2. Ainda que o mundo tenha suas distinções, como afirmação, negação, etc., somente Brahman brilha.


3. Com outras distinções, como professor e discípulos, somente Brahman aparece. Do ponto de vista da verdade, há somente o puro Brahman.


4. Nem o conhecimento, nem a ignorância, nem o mundo, nem nada mais existe. O que dá início à vida empírica é a aparência do mundo como real. 


5. O que dá forma à vida empírica é sua aparência como irreal.


5(b)-6. Qual disciplina é necessária para saber que “isto é um jarro”, exceto aquela de adequação dos meios do conhecimento correto? Assim que é dado, o conhecimento do objeto surge. O sempre-presente Ser brilha quando os meios de Sua cognição estão presentes. 


7. Nem local, nem tempo, nem pureza são necessários. O conhecimento de “Eu sou Devadatta” [aquele que foi dado por Deus] não depende de nada.  


8. Do mesmo modo, o conhecimento de “Eu sou Brahman”, daquele que é o Conhecedor de Brahman, é independente. Assim como todo o mundo é iluminado pelo sol, pelo esplendor do Conhecimento de Brahman tudo é iluminado. 


9-10(a). O que pode iluminar o não-existente e ilusório não-Ser? Aquele que dota de importância os Vedas, Shastras, Puranas e todos os outros seres, o que Ele não iluminaria?


10(b)-11. Uma criança ignora a fome e as dores do corpo quando brinca. Da mesma forma, o feliz Conhecedor de Brahman se deleita sem o sentido de “meu” e “eu”.


12. Existindo como o Ser de todos, ele (o Conhecedor) está sempre presente por permanecer em seu Ser. Livre de toda a riqueza, Ele se alegra sempre; embora sem companhia, Ele é poderoso. 


13. Embora não coma, está sempre contente. Sem fazer comparações, ele olha para todos da mesma forma. Embora aja, ele não faz nada; embora coma frutas, ele não as experimenta.


14-17: Ainda que viva num corpo, ele não tem corpo; embora delimitado, ele é onipresente. O Conhecedor de Brahman, sem corpo e sempre existente, nunca é afetado pelo prazer ou desprazer do bem e do mal. Como parece estar envolto por Rahu (a escuridão), é dito que o inacobertável sol está coberto por homens iludidos, que não conhecem a verdade. Do mesmo modo, pessoas iludidas contemplam o melhor dos Conhecedores de Brahman, os liberados das amarras do corpo, como se eles estivessem num corpo, já que parecem estar. O corpo daquele que já está liberado [jivanmukta] se parece com a pele trocada de uma cobra. 

 

18. Um pouco movido, aqui e ali, pelo ar vital, aquele corpo é levado como um pedaço de madeira para cima e para baixo por águas caudalosas. 


19-20. Pelo destino, o corpo é levado pelos contextos das experiências nos momentos apropriados. Do contrário, aquele que abandona todas as migrações [de corpo em corpo], que abandona tanto o conhecimento quanto o incognoscível, que permanece como o Ser não-qualificado puro, é o próprio Shiva manifesto. Ele é o melhor dos Conhecedores de Brahman. Na mesma vida, o Conhecedor de Brahman é o sempre livre, ele realiza seu Fim.


21. Quando todos os adjuntos [os upadhis, ou fatores que criam a ilusão de separatividade entre o ser e o Ser] tiverem perecido, sendo ele (o Conhecedor) Brahman, ele é assimilado como o Brahman não-dual, assim como um homem que com as vestimentas apropriadas é um ator, e sem elas está em seu estado natural.


22(a). Da mesma forma, o melhor dos Conhecedores de Brahman é sempre o próprio Brahman e ninguém mais. 


22(b)-23. Assim como o ar se torna novamente ar quando o jarro é destruído, quando determinadas cognições são dissolvidas, o próprio Conhecedor de Brahman se torna nada além de Brahman, assim como o leite derramado no próprio leite, o óleo no óleo, e a água na água se tornam leite, óleo e água.


24(a). Assim como quando combinados eles se tornam um, do mesmo modo, o sábio que conhece o Atma se torna o Atma.


24(b). Deste modo, a liberação do corpo é o estado infinito do Ser. 


25. Tendo conquistado o estado de Brahman, o Yogui não renasce mais, porque seu corpo de ignorância foi completamente consumido pelo conhecimento experimental de ser como o Ser. 


26-27(a). Já que o Yogui se tornou Brahman, como pode Brahman renascer? A servidão e a liberação construídas por Maya não são reais por si mesmas com relação ao Ser, assim como o aparecimento e desaparecimento da cobra não estão relacionados com a corda imóvel.


27(b). Servidão e liberação podem ser descritas como real e irreal, e acontecem devido à ignorância que oculta a verdade.


28-29. Mas Brahman não sofre tal ocultação. Ele é inacobertável, não havendo nada além Dele mesmo para cobrir Ele mesmo. Ideias como “isso é” e “isso não é”, no que se refere à Realidade, são apenas ideias no intelecto. Elas não pertencem a uma Realidade eterna. Por isso, a servidão e a liberação são arranjadas por Maya e não pertencem ao Ser.


30. Tanto na Verdade Suprema como no céu, imparcial, inativo, quiescente, sem defeitos, imaculado e não-dual, como poderá haver espaço para construções mentais?


31. Nem a supressão, nem a geração; nem o vínculo, nem o esforço; nem a busca pela liberdade, nem os liberados - esta é a verdade metafísica. 


Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Atma Upanishad, como contido no Atharva Veda.


º º º

Traduzido para o inglês por Prof. A. A. Ramanathan

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Monday, October 7, 2024

Devi Upanishad

 


Na ocasião deste Navaratri, enquanto aguardamos a chegada de Durga e celebramos suas nove principais manifestações, podemos nos aproximar mais da Mãe Divina e de sua Sagrada Shakti de muitas maneiras, como fazer ou assistir rituais, fazer oferendas, recitar mantras, contemplar, mas também damos muitos passos na direção Dela ao ler sobre seus feitos, sua força e vitórias. Assim, se torna muito auspicioso fazer leituras como do Devi Mahatmya (Chandi) ou do Devi Upanishad, dois dos principais textos sobre a Mãe Divina e seu poder supremo de criação do universo.

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º º º

Devi Upanishad

Om! 
Deuses! Com os ouvidos, ouçamos o que é bom.
Adoráveis! Com olhos, vejamos o que é bom.
Com os membros firmes e os corpos louvando,
Aproveitemos a vida concedida pelos deuses.
Que Indra, de grande renome, conceda-nos o bem-estar.
Que Pusan e todos os deuses concedam-nos o bem-estar.
Que Tarksya, de movimento livre, conceda-nos o bem-estar.
Que Brihaspati conceda-nos o bem-estar.
Om! Paz! Paz! Paz!

1. Todos os deuses procuraram a Deusa e perguntaram: 
Grande Deusa, quem és Tu?

2. Ela respondeu: 
Eu sou essencialmente Brahman. De mim surgiu o mundo, que consiste de Prakriti [natureza material] e Purusha [natureza espiritual], do Vazio e do Pleno. Eu sou (todas as formas de) bem-aventurança e de não-bem-aventurança. Eu sou conhecimento e ignorância. Brahman e o não-Brahman devem ser conhecidos, dizem as Escrituras dos Atharvans.

3. Eu sou os cinco elementos, assim como sou aquilo que é diferente deles. Eu sou o mundo inteiro. Eu sou os Vedas, assim como sou aquilo que é diferente deles. Eu sou o não-nascido, Eu sou o nascido. Abaixo, acima e ao redor, Eu sou.  

4. Eu me movo com Rudras e Vasus, com Adityas e Visvedevas.
Eu dou apoio a Mitra e Varuna, Indra e Agni, e os dois Ashvins.
[Todos os nomes se referem a divindades, como o Deus do Fogo e os cantores celestiais.]

5. Eu sustento Soma, Tvastir, Pusan e Bhaga,
O imenso Vishnu, Brahma e Prajapati.

6. Ao zeloso sacrificador que oferece oblação
E espreme o suco de Soma, eu concedo riqueza.
Eu sou o estado, o Portador da Riqueza,
Acima de tudo, coloque Eu como seu protetor.

7. Aquele que conhece minha essência na água do mar profundo,
Atinge a morada da Deusa.

8. Os Deuses disseram: 
Saudações à Deusa, a grande Deusa!
A Shiva, o auspicioso, saudações para todo o sempre.
À abençoada Prakriti, saudações!
Para sempre, à Ela nos curvamos.

9. Busco refúgio Nela, que tem a cor do fogo,
Que queima com o ardor do ascetismo, Deusa resplandescente,
Deleitando-Se nos frutos das ações, ó Tu, difícil de ser alcançada,
Dissipe Tua escuridão.

10. Os deuses geraram a Fala divina,
Com ela, bestas de todas as formas falam;
A vaca que produz frutos doces e vigor,
A nós pode aparecer como a Fala louvada.

11. Ao sagrado Shiva, à filha de Daksha,
À Aditi e Sarasvati,
À Mãe de Skanda, ao Poder de Vishnu,
À noite da morte louvada por Brahma,
Nós prestamos reverências.

12. Saiba que nós, Grande Lakshmi,
Deusa da boa Fortuna,
Meditamos sobre todas as realizações.
Que a Deusa nos inspire! 

13. Através de Ti, Dakshayani, Aditi nasceu.
Ela é sua filha,
E após ela nascer,
Nasceram os deuses auspiciosos,
Amigos da imortalidade.

14. Amor, ventre, o companheiro do amor, o portador do raio
A caverna, ha-sa, o vento, a nuvem, Indra,
Novamente a caverna, sa-ka-la com Maya,
Assim é a ciência primordial que cria tudo que há.

15. Este é o poder do Eu, que encanta a todos, armado com o laço, o gancho, o arco e a flecha.
Esta é a grande e sagrada Ciência.

16. Quem sabe isso, ameniza a tristeza.

17. Mãe Divina!
Saudações a Ti.
Proteja-nos de todas as maneiras possíveis.

18. Ela, que aqui está, é os oito Vasus, os onze Rudras, os doze Adityas. Ela é todos os deuses, aqueles que bebem o Soma e aqueles que não bebem. Ela é os duendes, os demônios, os seres maus, os fantasmas; Ela também é os super-homens, os semidivinos. Ela é Sattva, Rajas e Tamas. Ela é Prajapati, Indra e Manu. Ela é os planetas, as estrelas e as esferas luminosas. Ela é as divisões do tempo, e é a forma do Tempo primordial. Eu a saúdo para sempre.

19. A Deusa que acaba com a aflição,
Igualmente concede prazer e libertação.
Infinito, vitorioso, puro,
Shiva, o Refúgio, o doador do bem.

20. A semente todo-poderosa do mantra da Deusa
É o céu [o espaço], unido ao “eu” e ao fogo
Com a lua crescente adornando.

21. No mantra monosilábico,
Os sábios de coração puro meditam,
Em bem-aventurança suprema,
Com sabedoria como oceanos profundos.

22. Moldado pela Fala; nascido de Brahman, o sexto
Com a face adornada, o sol, o ouvido esquerdo onde o ponto está,
O oitavo e o terceiro [pontos] se encontram.

23. O ar, com Narayana unido,
E com o lábio [produzem] a [palavra] de nove letras.
Tal palavra será um deleite para aqueles que são pessoas elevadas.

24. Sentada no coração de lótus,
Resplandecente como o sol da manhã,
A Deusa, portando o laço e o gancho,
Com gestos que concedem desejos, dissolve os medos.
Terna, com três olhos, vestida de vermelho, concedendo aos devotos
Os desejos de seus corações,
A Ti, eu adoro.

25. Eu presto reverências a Ti, Deusa,
Tu que és quem dissipa os maiores medos,
Que conquista os obstáculos,
Tu, portadora da maior forma de misericórdia.

26. Brahma e outros desconhecem Sua essência, assim, Ela é chamada de a Incognoscível. Ela não tem fim, por isso é chamada de Infinita. Ela não pode ser compreendida, por isso é chamada de Incompreensível. Seu nascimento é desconhecido, por isso é chamada de Não-nascida. Apenas Ela está presente em todo lugar, e por isso é chamada de Um. Apenas Ela tem todas as formas, por isso é chamada de Muitas. Por tais motivos, Ela é chamada de Incognoscível, Infinita, Incompreensível, Não-nascida, Um e Muitas. 

27. A Deusa é a fonte de todos os mantras,
De todas as palavras, o conhecimento é Sua forma.
Sua Forma consciente transcende toda a cognição,
Ela é a testemunha de toda a vacuidade.

28. Além Dela não há nada. 
Ela é conhecida como inacessível, 
Eu presto reverências àquela que é inacessível.
Baluarte contra todos os pecados, 
[Ela é] O piloto que me leva através do mar da vida mundana. 

29. Aquele que estuda [esta parte do] o Atharva Veda recebe os frutos de repetir cinco outros [textos] do Atharva Upanishad. Aquele que domina este Upanishad persiste na adoração.

30. Deste conhecimento, dez milhões de cantos
São menos do que o fruto da adoração.

31. Quem lê este Upanishad dez vezes
Será liberado de uma só vez de todos os pecados.
Pela graça da grande Deusa,
Ele supera todos os obstáculos.

32. Ler este Upanishad de manhã destrói os pecados da noite; ler ao anoitecer, destrói os pecados cometidos durante o dia. Assim, ao ler tanto de noite quanto de dia, o pecador se livra dos pecados. Ler à meia-noite também, na quarta “junção” [do dia], resulta em perfeição da fala. A recitação deste Upanishad diante de uma nova imagem traz para a imagem a presença da deidade. A recitação na hora da consagração (de uma imagem), a torna um centro de energia. Quem recitar às terças-feiras sob os auspícios dos Ashvins, na presença da grande Deusa, conquistará a morte. Este é o segredo.

Om! 
Deuses! Com os ouvidos, ouçamos o que é bom.
Adoráveis! Com olhos, vejamos o que é bom.
Com os membros firmes e os corpos louvando,
Aproveitemos a vida concedida pelos deuses.
Que Indra, de grande renome, conceda-nos o bem-estar.
Que Pusan e todos os deuses concedam-nos o bem-estar.
Que Tarksya, de movimento livre, conceda-nos o bem-estar.
Que Brihaspati conceda-nos o bem-estar.
Om! Paz! Paz! Paz!

Aqui termina o Devi Upanishad, como incluído no Atharva Veda.

º º º

Traduzido para o inglês por Dr. A. G. Krishna Warrier

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Jagannath Ashtakam

  Atribuído a Sri Adi Shankaracharya, o Jagannath Ashtakam , ou Oito Versos a Jagannath , é uma ode de louvor a Sri Jagannath, literalmente ...