Sunday, September 29, 2024

Mouna - Silêncio

 


Trechos sobre a observância do silêncio na vida diária do praticante tirados do livro Concentração e Meditação, de Swami Sivananda. 

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Do capítulo 6: Obstáculos Físicos na Meditação, “Diarréia Verbal”:

Falar demais é um dos maus hábitos que mais diminui o poder espiritual. Se uma pessoa fala muito, ela sofre de diarréia na língua. Pessoas quietas não conseguem ficar nem por um segundo na companhia daqueles que são loquazes e tagarelas. Eles falam quinhentas palavras por segundo. Há um dínamo-falante elétrico em suas línguas.  

Eles são inquietos. Se trancarmos pessoas assim por um dia em um quarto solitário, elas morrem. Muita energia é gasta ao falar muito. A energia que é gasta falando deve ser conservada e utilizada para a contemplação divina. Vak indriya [a língua] distrai a mente consideravelmente. Uma pessoa muito falante não consegue sonhar com a paz mesmo por um curto período. Enquanto aspirantes, devemos falar apenas algumas palavras quando necessário, e apenas sobre assuntos espirituais. Uma pessoa falante não está apta para o caminho espiritual. 

Pratique mouna [silêncio] diariamente por duas horas e principalmente durante as refeições. Aos domingos, observe mouna por 24 horas. Faça bastante japa [recitação de mantra] e meditação durante mouna. O mouna que é observado durante a meditação não pode ser entendido como voto de silêncio. O sono também deve ser entendido como mouna. 

Mouna deve ser observado por chefes de família a qualquer momento em que haja oportunidades para falar e quando visitas aparecem. Apenas assim o impulso da fala pode ser contido*. As mulheres falam muito. Elas criam problemas em casa devido às conversas vãs e fofocas. Elas, em especial, precisam observar mouna. Você deve falar apenas palavras comedidas. Falar muito é de natureza rajásica. Grande paz vem com a observância de mouna. Pela prática gradual, prolongue o período de mouna por três meses. 

[N. do T.: *Ele quer dizer que nos momentos mais propícios para muita conversa é quando devemos refrear a fala para, assim, aprender a controlá-la. 


Do capítulo 9: Experiências na Meditação, “Sentimento de Separação”:

Mouna, ou o voto de silêncio, isolamento e viver sozinho são a condição necessária para atingir este fim [a concentração]. Se as circunstâncias te impedem de observar mouna, evite veementemente falar muito, falar por muito tempo, falar por falar, todas as conversas desnecessárias, todos os tipos de discussões vãs, etc., e retire-se da sociedade o quanto for possível. Falar muito é simplesmente um desperdício de energia. Se tal energia for conservada através de mouna, ela será transmutada em Ojas, ou energia espiritual, que o ajudará em sua sadhana [prática espiritual].

A fala é tejomaya vak [palavra do fogo de maya] de acordo com o Chandogya Upanishad. A porção densa do fogo constitui os ossos, a porção mediana forma o tutano e a porção sutil do fogo forma a fala. Assim, a fala é uma energia muito poderosa. Lembre-se disso, lembre-se disso, lembre-se disso sempre. Observe mouna por três meses, seis meses ou um ano. Se não puder fazer por meses seguidos, observe-o por um dia na semana, assim como Sri Mahatma Gandhiji fazia. 

Você deve se inspirar em Mahatmas como Sri Krishna Ashramji Maharaj, que está agora vivendo absolutamente nu há seis meses nas regiões geladas dos Himalaias, perto da nascente do Ganges, em Gangotri. Ele está observando kastha mouna, um rígido voto de silêncio há muitos anos. (Em kastha mouna, você não comunica seus pensamentos aos outros nem mesmo por escrita ou sinais.) 

Por que você também não se torna um Krishna Ashram de grande reputação e glória? Após duras e contínuas práticas, você será capaz de separar você mesmo de seu corpo. Desenvolve-se um hábito. Assim que você silenciar o pensamento e acalmar a mente, o hábito mental de sair do corpo físico acontece automaticamente. Não haverá qualquer dificuldade. A mente entra em um novo ritmo e aparece em um novo palco, ou plataforma.

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Publicado pela Divine Life Society, Uttarakhand

Traduzido por Mariângela Carvalho

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Saturday, September 28, 2024

A Ciência do Hamsa II

 


A Ciência do Hamsa está explicada em diversos Upanishads e outras Escrituras. Nessa seção, vamos explorar alguns versos a respeito e seus significados.

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----- Yoga Sikha Upanishad -----


A grande Maha Yoga, que é única, foi dividida em quatro partes chamadas Mantra Yoga, Laya Yoga, Hatha Yoga e Raja Yoga. O prana sai com o som “ham” e entra com “sa”, e todos os seres naturalmente cantam este mantra, “Hamsa, Hamsa”, enquanto inspiram e expiram. Este mantra é recitado no [canal] Sushumna após ser ensinado pelo Guru de maneira invertida - Hamsa invertido é Soham. A recitação do mantra “Soham, Soham (eu sou Aquele)” é chamado de Mantra Yoga. O sol é a letra “Ha” e a lua é a letra “Tha”. A junção do sol com a lua é a Hatha Yoga. Devido à Hatha Yoga, a tolice, que é a causa de todos os doshas [defeitos], é engolida. Quando a fusão de Jivatma e Paramatma acontece, a mente se dissolve e desaparece. Apenas o ar do prana permanece. Isso é chamado de Laya Yoga. É por causa de Laya Yoga que o sagrado Swathmananda Sowkhya (o bem-estar da alegria da própria alma) é alcançado. No grande templo no meio da yoni (o órgão feminino), o princípio da Devi, que é vermelho como uma flor de hibisco, reside como rajas em todos os seres. A fusão de rajas com o princípio masculino é chamada de Raja Yoga. Como resultado da Raja Yoga, o Yogi obtém todos os poderes ocultos, como o Anima [um dos principais poderes ocultos, chamados siddhis, no qual o praticante consegue reduzir seu próprio tamanho]. Deve-se compreender que esses quatro tipos de Yogas não são nada além da fusão de prana, apana e samana*. 


[N. do T.: *Três dos cinco tipos de ar vital existentes no corpo físico. Prana refere-se ao ar (energia) vital obtido através da respiração; corresponde ao elemento ar no corpo. Apana é o alento vital e está associado aos processos de exalação e eliminação, ou seja, tudo aquilo que é colocado para fora do corpo; corresponde ao elemento terra. Samana é o ar que propicia o equilíbrio energético e a digestão de alimentos e emoções; corresponde ao elemento fogo no corpo.]


Traduzido para o inglês por P. R. Ramachander.
Publicado em www.celextel.org
Traduzido para o português por Mariângela Carvalho
[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]
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Este trecho esclarecedor do Yoga Sikha Upanishad explica que a Grande Yoga, ou Maha Yoga, ou seja a maior junção do eu inferior com o Eu superior, começa com a respiração impreterível do Hamsa Mantra. Novamente, é citado dentro dos Upanishads como este mantra se manifesta durante a vida de todas as almas individuais (Jivas) e como ele leva ao conhecimento do Vasto (o aspecto Bhuman de Brahman). 


A Grande Yoga começa com Mantra Yoga devido ao papel fundamental que a recitação do Hamsa Mantra tem na existência de todos os seres. Perceber a respiração como o ar vital (o prana) que entra e sai do corpo é lembrar que Deus soprou a energia (ar) vital para dentro do ser humano, dando-lhe vida. A Bíblia faz alusão ao sopro divino quando traz em Gênesis 2:7: “Então o Senhor Deus formou o corpo humano do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego (ar) da vida, e ele tornou-se um ser vivo”; no evangelho de João 20:20-22, após Cristo ressuscitar e aparecer para os discípulos, Ele abençoou-os da seguinte maneira: “E, dizendo isso, lhes mostrou as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. E Jesus lhes disse outra vez: ‘Que a paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio’. E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebam o Espírito Santo’”.


A prática da meditação no Hamsa Mantra é perceber, a cada respiração, a presença de Deus dentro do próprio ser. Este ar soprado por Deus, que dá a ignição ao ser humano, deve ser contemplado e investigado. O sopro de Deus é o próprio espírito, é o combustível da vida. Não por acaso, a palavra hebraica ruach carrega como significados “vento, ar, fôlego, sopro, espírito”, o que demonstra, para além do hinduísmo e do sânscrito, a correlação entre o Mantra Hamsa e o estado de comunhão com Deus.  


O exercício de respirar consciente no Hamsa Mantra aproxima o praticante da realização divina sem intermediários: este mantra não precisa ser dado por um mestre realizado, como acontece com o mantra de uma iniciação, pois ele já pertence a todos e a cada um.

Sunday, September 22, 2024

Nirvana Shatkam

 


O Nirvana Shatkam, ou também chamado de Atma Shatkam, é o renomado texto em seis versos onde Adi Shankaracharya utiliza o método Neti Neti (“não isso, não isso”) para diferenciar o Atma eterno da natureza (o corpo) material. Compreendendo-se o que não é, chega-se ao que é: conhecimento e bem-aventurança eternos. Por se tratar de um texto atribuído a Adi Shankaracharya, há inúmeras versões do mesmo, com adendos e diferenças de significados dependendo do tradutor e época, assim, optamos por utilizar a versão traduzida pelo respeitado cientista e indólogo P. R. Ramachander.

Baixe em PDF aqui.

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Nirvana Shatkam

Por Adi Shankaracharya


Eu não sou a mente, nem a inteligência,

Nem o ego, nem o pensamento.

Eu não sou os ouvidos ou a língua ou o nariz ou os olhos,

Nem sou a terra ou o céu, o ar ou a luz.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu não sou o movimento [que surge] devido à vida,

Nem os cinco ventos [os ares vitais], nem os sete elementos [que compõem o corpo].

Eu não sou os cinco invólucros [do corpo],

Nem sou a voz ou as mãos ou os pés ou outros órgãos.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu jamais tenho inimizade ou amizade,

Nem tenho vigor ou sentimento de competição.

Eu não tenho posses ou dinheiro ou paixão ou salvação.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e bem-aventurança.

Eu não tenho méritos ou deméritos, ou prazer ou dor,

Nem tenho cânticos sagrados ou água sagrada ou livros sagrados ou sacrifício do fogo.

Eu não sou o alimento, nem o consumidor do alimento.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança. 


Eu não tenho morte, nem dúvidas ou distinção de castas,

Eu não tenho pai ou mãe, ou sequer nascimento.

Eu não tenho quaisquer relacionamentos ou amigos ou mestres ou discípulos.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu não tenho dúvidas, não tenho forma,

Devido ao conhecimento [do Atma], não tenho relação alguma com meus órgãos.

Estou para sempre em redenção.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.

º º º

Traduzido para o inglês por P. R. Ramachander

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Saturday, September 21, 2024

Sri Krishna Upanishad

 


Esta é uma tradução da versão completa do Sri Krishna Upanishad, que contém dois capítulos. Este Upanishad descreve uma parte da criação do universo material a partir do Mahavishnu e é um texto essencial para entender os jogos divinos de Sri Krishna na Terra.

Baixe em PDF aqui.

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Sri Krishna Upanishad

Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Introdução

Ao avistarem o Senhor Mahavishnu - Ramachandra -, cuja forma é bela, alguns sábios que viviam na floresta ficaram maravilhados e disseram: “Queremos Te abraçar, ó Senhor”. O Senhor Ramachandra respondeu: “No próximo nascimento, quando eu me tornar Krishna, vocês serão as Gopis e então poderão me abraçar. Outros encarnarão como os Gopas e serão os maridos delas”.


Capítulo I

1. Então, Shiva e os Devas disseram: “Aceitaremos tais formas inúmeras vezes, queremos apenas Te abraçar!”. Ao ouvir tais palavras de Shiva e dos Devas, a Suprema Personalidade de Deus disse: “Não tocarei em vocês. Farei o que quiserem”.

2. Os Devas se alegraram: “Agora nossas vidas se tornaram afortunadas”. Um deles se tornou o sagrado Nanda, o outro a esposa dele, Yashoda, que já estava liberada do ciclo de renascimento.

3-4. O poder enganoso de Maya possui três características: a bondade, a paixão e a ignorância. A bondade está manifestada em Shiva, a paixão em Brahma e a ignorância nos demônios. Assim, Maya tem três modalidades. Elas nasceram antes do Senhor Krishna.

5. Devaki deu à luz a um filho, que é a Suprema Personalidade de Deus, ao lado de Vasudeva, que sabia todos os Vedas e se tornou pai de Krishna e Balarama.

6. A Suprema Personalidade de Deus, a quem os sábios e os Devas celebram sem fim, desceu à Terra para desfrutar de Seus passatempos na floresta de Vrindavana com santos, Gopas e Gopis.

7. Os Vedas encarnaram como as Gopis e as vacas; Brahma se tornou a clava do Senhor Krishna; o Senhor Shiva se tornou a flauta de Sri Krishna e Indra se tornou o chifre de búfalo de Sri Krishna. Um ser se tornou o demônio Aghasura. 

8. O mundo espiritual se tornou Gokula. O ascetismo se personificou como as árvores. Ambição, raiva e outros pecados se tornaram demônios. A Era de Kali desapareceu.

9. A Suprema Personalidade de Deus apareceu em sua forma original como um dos vaqueirinhos [Gopas]. O mundo,  desvirtuado e confuso devido à energia ilusória Dele próprio, era incapaz de reconhecer Sua verdadeira identidade.

10. Nenhum dos Devas conseguia sobrepor a energia do Senhor, Maya. Devido à energia da Yoga-Maya do Senhor, Brahma apareceu como um galho e Shiva como uma flauta. Como a energia do Senhor conseguia enganar o universo inteiro?

11. O conhecimento é um poder nos Devas. A energia de Deus, Maya, retira tal conhecimento em um instante. O Senhor Sesha-naga (a serpente divina) apareceu na forma do Senhor Balarama. A Suprema Personalidade de Deus apareceu em Sua forma original, como o Senhor Krishna. 

12. Os Vedas e Upanishads apareceram na forma das 16.108 donzelas com qualidades espirituais perfeitas [i.e. as esposas de Sri Krishna].

13. O ódio encarnou como o lutador Chanura. A inveja encarnou como Mustika. A arrogância encarnou como o elefante Kuvalayapida. O orgulho encarnou como o demoníaco Bakasura. 

14. A misericórdia encarnou como a mãe Rohini. A Deusa Terra se tornou Satyabhama. A encarnação da doença foi Aghasura. A encarnação da contenda foi o Rei Kamsa. 

15-16. A humildade encarnou como o amigo do Senhor, Sudama. A confiança encarnou como Akrura. O autocontrole encarnou como Uddhava. O próprio Senhor Vishnu se tornou a concha de Krishna, que ressoava como um trovão e que, nascida do oceano de leite, estava relacionada à Deusa Lakshmi. O Senhor Krishna criou o oceano de leite ao quebrar os jarros para roubar iogurte. 

17. Assim, o Senhor Se tornou criança e Se divertiu como nunca no grande oceano de leite. O Senhor Krishna apareceu para eliminar os inimigos e proteger Seus devotos.

18. O Senhor Krishna demonstrou misericórdia a todos os seres, e também demonstrou o amor de um filho e a piedade que protege todos os seres. O Senhor Krishna também criou os chakras desses seres, que consistem em energia espiritual.

19. Vayu se tornou o momento do nascimento do Senhor Krishna. A espada na mão de Krishna era o Deus da destruição, o próprio Maheshvara. 

20. O sábio Kasyapa nasceu como arqueiro na casa de Yasoda, e a Mãe Divina, Aditi, nasceu como a corda no arco de Krishna. O siddhi e o bindu em Sua cabeça se tornaram os chakras e a concha do Senhor Krishna.

21. Não há dúvidas de que todas as formas e ferramentas possam ser vistas como partes encarnadas do jogo divino do Senhor Krishna. Não há dúvidas sobre isso.

22. Kali se tornou a clava do Senhor Krishna, a destruidora de todos os inimigos. O poder do Senhor, Yoga-maya, se tornou Seu arco, Sharanga. A época da colheita no outono se tornou o alimento em Sua casa. 

23. O Senhor Krishna tem em Sua mão uma flor de lótus com a qual brinca, e que é a semente dos universos materiais. Garuda se tornou uma imensa árvore de baniano. Narada Muni se tornou Sudama. 

24. A personificação do serviço devocional se tornou a Gopi Tulasi. As atividades de serviço devocional se tornaram a sabedoria que ilumina todos os seres vivos. O Supremo Senhor onipotente é diferente deles, mas o mesmo que eles.

25. Dessa maneira, o Senhor moveu para a Terra todo o mundo espiritual e seus habitantes. 


Capítulo II

1. A partir do Senhor Vasudeva, o Senhor Sesha foi manifestado, também chamado de Sankarshana, que é o pai de todos os seres vivos. Ele desejou: “Que nos tornemos muitos!”.

2. Dele nasceu a pessoa chamada Pradyumna. De Pradyumna, Aniruddha nasceu, e este deu origem a Ahamkara e Hiranyagarbha. De Pradyumna nasceram dez prajapatis [senhores da criação], começando com Marichi e incluindo Sthanu, Daksa, Kardama, Priyavrata, Uttanapada e Vayu. Desta maneira, todos os seres nasceram do Senhor Sesha. 

3. O Senhor Sesha é o pai de todos os seres e os protege. Ele criou a gramática, a astrologia e outras ciências. Ele é adorado pelos sábios que almejam a liberação e leva todo o universo em Sua cabeça. Os sábios conhecem Sua glória e as orações que O glorificam. Suas muitas cabeças ofuscam mil vezes o topo do Monte Meru. O éter criou um falso ego.

4. O Senhor Sesha é a Personalidade de Deus. Era após era, Ele aparece em muitas formas. Ele nasceu como Lakshmana, o filho de Sumitra e descendente do Rei Iksvaku. Ele dominava a ciência do arco e flecha e  das armas, matou todos os demônios e protegeu o Varnashrama Dharma [o sistema social védico].

5. O Senhor Sesha é a Personalidade de Deus. Durante a época de Krishna, Ele apareceu como o Senhor Balarama, filho de Vasudeva e Rohini. Ele brilhava como uma nuvem de outono. Ele dominava a luta com clava e outras armas, e matou uma legião de reis-demônios para livrar a Mãe Terra desse fardo.

6. Na quarta Era, a Suprema Personalidade de Deus nasce em uma família brâmane como o Senhor Nityananda, com o desejo de ensinar a mensagem dos Upanishads, pregar a verdade e o Dharma Shastra [as Escrituras] para liberar todas as pessoas, proclamando a verdade eterna - o Vaishnava Dharma - e destruindo todos os ateus e aqueles que insultam o Senhor.

7. Ele é a Superalma presente no coração de cada ser. Ele é objeto de meditação para aqueles que anseiam por liberação. Ele concede a isenção dos pecados. Devido a meditarem Nele, as pessoas ficam limpas de todos os pecados. Por cantar Seus santos nomes, a Liberação é alcançada.

8. Aquele que medita Nele durante o dia se liberta dos pecados da noite anterior. Aquele que medita Nele à noite se liberta dos pecados do dia. Este é o segredo dos Vedas. Este é o segredo dos Upanishads. Medite nisso para alcançar os frutos de todas as estações.


Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Krishna Upanishad, como incluído no Atharva Veda.

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Traduzido para o português por Mariângela Carvalho a partir da versão em inglês disponível em scriptures.redzambala.com

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Friday, September 13, 2024

Kundika Upanishad

Este Upanishad condensa em poucos versos a conduta que o Sannyasin, o renunciante, deve ter até atingir a liberação, e ensina com breves palavras alguns conceitos profundos, como o Atma e o Paramatma, a consciência-testemunha (turiya) e a sobreimposição de objetos (adhyāsa), até chegar à finalização da prática espiritual em kaivalya, o estado de desapego e renúncia completos, quando o praticante consegue separar o espírito eterno (purusha) da energia material (prakriti). 

Baixe em PDF aqui.

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Kundika Upanishad


Om! Que todos os meus membros e fala, Prana, olhos, ouvidos, vitalidade e todos os sentidos cresçam com força.

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca negue Brahman, nem que Brahman negue a mim.

Que não exista qualquer negação,

Que não exista qualquer negação pelo menos vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishads estejam comigo,

Que sou devotado ao Atma; que tais virtudes residam em mim.

Om! Que haja paz em mim!

Que haja paz no ambiente!

Que haja paz nas forças que agem sobre mim!


1-2. Após estudar as Escrituras durante o período imaculado de discipulado, no qual se devotou ao serviço do professor, o Brahmacharin, com a permissão do professor, pode se casar com uma esposa adequada. Depois, ao final da vida de chefe de família, ele poderá acender o fogo sagrado (da renúncia) com coragem e executar o sacrifício que dura um dia e noite, no qual Brahma e etc. são as deidades.


3. Então, após repartir sua propriedade entre os filhos da maneira correta, e abandonando todos os prazeres sensórios, ele poderá viajar para locais sagrados como um Vanaprastha [o monge peregrino que se refugia na floresta].


4. Subsistindo apenas de ar, ou de (ar e) água, ou com a adição (em caso extremo) de raízes bulbosas aprovadas [pelas Escrituras] e frutas, ele deve encontrar toda a vida terrena apenas em sua própria pessoa. Ele não deve, ao lembrar-se de seu conforto do passado, permitir que suas lágrimas molhem o chão.


5-7(a). Como se pode dizer que um homem, em companhia de sua esposa, tenha renunciado (à vida terrena)? Como pode alguém que é (meramente) conhecido por uma denominação (a de asceta) ter renunciado? Por isso, ele deve se purificar (primeiramente) ao renunciar o resultado de suas ações por meio do autocontrole (Vanaprastha); após isso, ele prosseguirá para a renúncia. Atinge-se o estágio da vida na floresta (Vanaprastha) após ter mantido o fogo sagrado (enquanto era chefe de família). Ele parte para a vida na floresta com autocontrole, acompanhado de sua esposa, como se fosse uma pessoa apegada a tal esposa. 


7(b)-8. “Por que ele deve se submeter (à vida de um monge mendicante) em vão, tendo abandonado a alegria da vida terrena? Qual é esse tormento (iminente), cujo pensamento deveria fazê-lo querer abandonar os grandes prazeres?”, tais são os questionamentos da esposa. “Eu temo pela (triste) vida no ventre (de outra mulher), e também temo as dores do calor, do frio, etc. Assim, desejo adentrar a caverna (o abrigo) da renúncia, que é o meio para atingir um estado transcendente indolor de Brahman”, assim ele respondeu.


9. Tendo renunciado ao fogo sagrado, ele não pode voltar a ele (nem mesmo recitando mentalmente os mantras pertinentes ao fogo).


10. “Porque eu (o mantra), pertencendo a este fogo sagrado, ao ser extinto (sendo incompatível com a renúncia), devo me fundir ao que está por vir (o conhecimento de Brahman).”


11. Ele pode repetir os mantras que pertencem ao Eu (a realização).


12. Ele obterá a consagração. Estará vestido com roupas coloridas (ocre). Deverá remover os pelos, exceto aqueles das axilas e das partes íntimas. Com a mão direita levantada, ele partirá como monge, abandonando o caminho da vida terrena. Ele deve seguir sem residência fixa. Vivendo de esmolas, poderá se aprofundar (nos textos vedânticos) e meditar (em sua identidade com o transcendente Brahman). Ele possuirá conhecimento puro (pavitram) pela proteção de todos os seres. 


13-14. O monge mendicante poderá ter um jarro de água, uma tigela para esmolas, um saco para carregar seus pertences, chinelos para atravessar uma longa distância (literalmente, acima dos três mundos), um manto para suportar o frio, um lençol para cobrir suas partes íntimas, um anel purificador (pavitram da erva sagrada), uma toalha de banho e uma vestimenta para se cobrir. Fora isso, o asceta deve abandonar todo o resto.


15. Ele poderá dormir nas areias da margem de um rio ou do lado de fora de um templo. Ele não deve ocupar muito seu corpo nem com prazeres nem com dor.


16. A água pura deve ser usada para banhar-se, beber e para a limpeza. Ele não deve se agradar com o elogio, nem amaldiçoar os outros quando for censurado.


17. Sua tigela de esmolas deve ser feita com folhas, e o material para lavá-la deve ser o prescrito (terra fresca).


18. Tendo assim os meios de sua sobrevivência, ele deve, com os sentidos controlados, pronunciar os mantras filosóficos. O sábio (o asceta) deve perceber com sua mente a identidade do eu individual [Atma] com o Eu universal [Paramatma], que é o significado de Om.


19. De Brahman surgiu o éter, do éter o ar, do ar o fogo, do fogo a água, da água a terra. Em tais elementos primários (causa primária de tudo), o Brahman, eu tomo refúgio em reverência; eu tomo refúgio no Brahman eterno, imortal e indestrutível.


20. Em mim, o oceano de pura felicidade, muitas vezes surgem e caem ondas do universo devido aos ventos dos jogos [Lila] fantasiosos da ilusão (Maya).


21. Não estou apegado ao meu corpo, assim como o céu não está apegado às nuvens. Deste modo, como posso eu ter as características dele (o corpo) durante os estágios de vigília, sonho e sono profundo?


22. Estou sempre muito além da imaginação, como o éter; sou diferente dele (o corpo), assim como o sol é dos objetos de iluminação; eu sou o para sempre sem-mudanças, assim como o imutável (i.e. o Monte Meru) e, como o oceano, eu sou ilimitado.


23. Eu sou Narayana, eu sou o destruidor do demônio Naraka, eu sou Shiva, o destruidor das três cidades etéreas, eu sou o Purusha [o espírito], eu sou o Senhor supremo, eu sou a consciência indivisa, a testemunha de tudo, eu não tenho um superior, sou desprovido de “eu” (egoísmo) e “meu” (possessividade).


24-25. O asceta deve, pela prática da Yoga, juntar os ares vitais Prana e o Apana no corpo. Ele deve colocar as palmas das duas mãos no períneo, delicadamente morder a ponta da língua colocada para fora até à distância de um grão de cevada. Do mesmo modo, direcionando os olhos abertos à distância de uma semente de vigna-mungo [um tipo de feijão], em direção ao ar do ouvido e com os pés repousando firmes no chão, ele não deve deixar o ouvido ouvir, nem o nariz cheirar (os cinco sentidos devem ser controlados). Desse modo, ele atinge a união dos ares vitais Prana e Apana.


26. Portanto, o ar vital que passa pela Kundalini e o [canal] sushumna se dissolvem no chakra Sahasrara no topo da cabeça. Depois, a visão, a mente, o ar vital e o [elemento] fogo do corpo chegam ao local de Shiva e se dissolvem. Isso é Brahman, isso é o Brahman transcendente. Tal Brahman será realizado pela prática da Yoga, que é facilitada pela aquisição da prática em vidas anteriores.


27. Com a ajuda dos órgãos externos e internos, o conhecimento do Brahman qualificado, chamado de refulgência, ao chegar ao coração e apoiado pela capacidade do ar vital de subir, atravessa pelo canal sushumna, e ao perfurar o crânio, bem no topo da cabeça, percebe-se o indestrutível Brahman qualificado.


28. Tais sábios que atingem o estado transcendente através de passagem no crânio no topo da cabeça nunca retornam à vida terrena porque percebem o mais baixo e o mais elevado Brahman.


29. Os atributos dos objetos vistos não afetam o espectador, que é diferente deles. Os atributos de um chefe de família não afetam aquele que permanece não alinhado a qualquer modificação mental, tal qual uma lamparina que não sofre mudanças pelos objetos revelados por ela.


30. Que eu, o sábio não alinhado, role na água ou no chão; eu sou intocado pelas características, assim como o éter (o ar) no jarro não é afetado pelos atributos do jarro.


31-32. Eu sou livre do efeito das atividades e das mudanças, desprovido de partes e formas, eu sou sem desejos, eu sou eterno, eu permaneço sem suportes e sou desprovido de dualidade. Eu sou a forma de todos os seres, eu sou o todo, estou além de tudo e sem um segundo. Eu sou o conhecimento indivisível e eu sou a bem-aventurança compacta do Eu. 


33.  Andando, de pé, sentado, deitado ou de outro modo, o sábio, deleitando-se no Atma, viverá como desejar (cumprindo seus deveres), e ao deixar o mundo, alcançará a liberação. Assim termina o Upanishad


Om! Que todos os meus membros e fala, Prana, olhos, ouvidos, vitalidade e todos os sentidos cresçam com força.

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca negue Brahman, nem que Brahman negue a mim.

Que não exista qualquer negação,

Que não exista qualquer negação pelo menos vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishads estejam comigo,

Que sou devotado ao Atma; que tais virtudes residam em mim.

Om! Que haja paz em mim!

Que haja paz no ambiente!

Que haja paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Kundika Upanishad, como incluído no Sama Veda.


º º º

Traduzido para o inglês por Prof. A. A. Ramanathan

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai


[N. do T.: na tradução, foram preservados os parênteses do original. As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Devi Upanishad

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