Friday, September 13, 2024

Kundika Upanishad

Este Upanishad condensa em poucos versos a conduta que o Sannyasin, o renunciante, deve ter até atingir a liberação, e ensina com breves palavras alguns conceitos profundos, como o Atma e o Paramatma, a consciência-testemunha (turiya) e a sobreimposição de objetos (adhyāsa), até chegar à finalização da prática espiritual em kaivalya, o estado de desapego e renúncia completos, quando o praticante consegue separar o espírito eterno (purusha) da energia material (prakriti). 

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º º º

Kundika Upanishad


Om! Que todos os meus membros e fala, Prana, olhos, ouvidos, vitalidade e todos os sentidos cresçam com força.

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca negue Brahman, nem que Brahman negue a mim.

Que não exista qualquer negação,

Que não exista qualquer negação pelo menos vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishads estejam comigo,

Que sou devotado ao Atma; que tais virtudes residam em mim.

Om! Que haja paz em mim!

Que haja paz no ambiente!

Que haja paz nas forças que agem sobre mim!


1-2. Após estudar as Escrituras durante o período imaculado de discipulado, no qual se devotou ao serviço do professor, o Brahmacharin, com a permissão do professor, pode se casar com uma esposa adequada. Depois, ao final da vida de chefe de família, ele poderá acender o fogo sagrado (da renúncia) com coragem e executar o sacrifício que dura um dia e noite, no qual Brahma e etc. são as deidades.


3. Então, após repartir sua propriedade entre os filhos da maneira correta, e abandonando todos os prazeres sensórios, ele poderá viajar para locais sagrados como um Vanaprastha [o monge peregrino que se refugia na floresta].


4. Subsistindo apenas de ar, ou de (ar e) água, ou com a adição (em caso extremo) de raízes bulbosas aprovadas [pelas Escrituras] e frutas, ele deve encontrar toda a vida terrena apenas em sua própria pessoa. Ele não deve, ao lembrar-se de seu conforto do passado, permitir que suas lágrimas molhem o chão.


5-7(a). Como se pode dizer que um homem, em companhia de sua esposa, tenha renunciado (à vida terrena)? Como pode alguém que é (meramente) conhecido por uma denominação (a de asceta) ter renunciado? Por isso, ele deve se purificar (primeiramente) ao renunciar o resultado de suas ações por meio do autocontrole (Vanaprastha); após isso, ele prosseguirá para a renúncia. Atinge-se o estágio da vida na floresta (Vanaprastha) após ter mantido o fogo sagrado (enquanto era chefe de família). Ele parte para a vida na floresta com autocontrole, acompanhado de sua esposa, como se fosse uma pessoa apegada a tal esposa. 


7(b)-8. “Por que ele deve se submeter (à vida de um monge mendicante) em vão, tendo abandonado a alegria da vida terrena? Qual é esse tormento (iminente), cujo pensamento deveria fazê-lo querer abandonar os grandes prazeres?”, tais são os questionamentos da esposa. “Eu temo pela (triste) vida no ventre (de outra mulher), e também temo as dores do calor, do frio, etc. Assim, desejo adentrar a caverna (o abrigo) da renúncia, que é o meio para atingir um estado transcendente indolor de Brahman”, assim ele respondeu.


9. Tendo renunciado ao fogo sagrado, ele não pode voltar a ele (nem mesmo recitando mentalmente os mantras pertinentes ao fogo).


10. “Porque eu (o mantra), pertencendo a este fogo sagrado, ao ser extinto (sendo incompatível com a renúncia), devo me fundir ao que está por vir (o conhecimento de Brahman).”


11. Ele pode repetir os mantras que pertencem ao Eu (a realização).


12. Ele obterá a consagração. Estará vestido com roupas coloridas (ocre). Deverá remover os pelos, exceto aqueles das axilas e das partes íntimas. Com a mão direita levantada, ele partirá como monge, abandonando o caminho da vida terrena. Ele deve seguir sem residência fixa. Vivendo de esmolas, poderá se aprofundar (nos textos vedânticos) e meditar (em sua identidade com o transcendente Brahman). Ele possuirá conhecimento puro (pavitram) pela proteção de todos os seres. 


13-14. O monge mendicante poderá ter um jarro de água, uma tigela para esmolas, um saco para carregar seus pertences, chinelos para atravessar uma longa distância (literalmente, acima dos três mundos), um manto para suportar o frio, um lençol para cobrir suas partes íntimas, um anel purificador (pavitram da erva sagrada), uma toalha de banho e uma vestimenta para se cobrir. Fora isso, o asceta deve abandonar todo o resto.


15. Ele poderá dormir nas areias da margem de um rio ou do lado de fora de um templo. Ele não deve ocupar muito seu corpo nem com prazeres nem com dor.


16. A água pura deve ser usada para banhar-se, beber e para a limpeza. Ele não deve se agradar com o elogio, nem amaldiçoar os outros quando for censurado.


17. Sua tigela de esmolas deve ser feita com folhas, e o material para lavá-la deve ser o prescrito (terra fresca).


18. Tendo assim os meios de sua sobrevivência, ele deve, com os sentidos controlados, pronunciar os mantras filosóficos. O sábio (o asceta) deve perceber com sua mente a identidade do eu individual [Atma] com o Eu universal [Paramatma], que é o significado de Om.


19. De Brahman surgiu o éter, do éter o ar, do ar o fogo, do fogo a água, da água a terra. Em tais elementos primários (causa primária de tudo), o Brahman, eu tomo refúgio em reverência; eu tomo refúgio no Brahman eterno, imortal e indestrutível.


20. Em mim, o oceano de pura felicidade, muitas vezes surgem e caem ondas do universo devido aos ventos dos jogos [Lila] fantasiosos da ilusão (Maya).


21. Não estou apegado ao meu corpo, assim como o céu não está apegado às nuvens. Deste modo, como posso eu ter as características dele (o corpo) durante os estágios de vigília, sonho e sono profundo?


22. Estou sempre muito além da imaginação, como o éter; sou diferente dele (o corpo), assim como o sol é dos objetos de iluminação; eu sou o para sempre sem-mudanças, assim como o imutável (i.e. o Monte Meru) e, como o oceano, eu sou ilimitado.


23. Eu sou Narayana, eu sou o destruidor do demônio Naraka, eu sou Shiva, o destruidor das três cidades etéreas, eu sou o Purusha [o espírito], eu sou o Senhor supremo, eu sou a consciência indivisa, a testemunha de tudo, eu não tenho um superior, sou desprovido de “eu” (egoísmo) e “meu” (possessividade).


24-25. O asceta deve, pela prática da Yoga, juntar os ares vitais Prana e o Apana no corpo. Ele deve colocar as palmas das duas mãos no períneo, delicadamente morder a ponta da língua colocada para fora até à distância de um grão de cevada. Do mesmo modo, direcionando os olhos abertos à distância de uma semente de vigna-mungo [um tipo de feijão], em direção ao ar do ouvido e com os pés repousando firmes no chão, ele não deve deixar o ouvido ouvir, nem o nariz cheirar (os cinco sentidos devem ser controlados). Desse modo, ele atinge a união dos ares vitais Prana e Apana.


26. Portanto, o ar vital que passa pela Kundalini e o [canal] sushumna se dissolvem no chakra Sahasrara no topo da cabeça. Depois, a visão, a mente, o ar vital e o [elemento] fogo do corpo chegam ao local de Shiva e se dissolvem. Isso é Brahman, isso é o Brahman transcendente. Tal Brahman será realizado pela prática da Yoga, que é facilitada pela aquisição da prática em vidas anteriores.


27. Com a ajuda dos órgãos externos e internos, o conhecimento do Brahman qualificado, chamado de refulgência, ao chegar ao coração e apoiado pela capacidade do ar vital de subir, atravessa pelo canal sushumna, e ao perfurar o crânio, bem no topo da cabeça, percebe-se o indestrutível Brahman qualificado.


28. Tais sábios que atingem o estado transcendente através de passagem no crânio no topo da cabeça nunca retornam à vida terrena porque percebem o mais baixo e o mais elevado Brahman.


29. Os atributos dos objetos vistos não afetam o espectador, que é diferente deles. Os atributos de um chefe de família não afetam aquele que permanece não alinhado a qualquer modificação mental, tal qual uma lamparina que não sofre mudanças pelos objetos revelados por ela.


30. Que eu, o sábio não alinhado, role na água ou no chão; eu sou intocado pelas características, assim como o éter (o ar) no jarro não é afetado pelos atributos do jarro.


31-32. Eu sou livre do efeito das atividades e das mudanças, desprovido de partes e formas, eu sou sem desejos, eu sou eterno, eu permaneço sem suportes e sou desprovido de dualidade. Eu sou a forma de todos os seres, eu sou o todo, estou além de tudo e sem um segundo. Eu sou o conhecimento indivisível e eu sou a bem-aventurança compacta do Eu. 


33.  Andando, de pé, sentado, deitado ou de outro modo, o sábio, deleitando-se no Atma, viverá como desejar (cumprindo seus deveres), e ao deixar o mundo, alcançará a liberação. Assim termina o Upanishad


Om! Que todos os meus membros e fala, Prana, olhos, ouvidos, vitalidade e todos os sentidos cresçam com força.

Toda a existência é o Brahman dos Upanishads.

Que eu nunca negue Brahman, nem que Brahman negue a mim.

Que não exista qualquer negação,

Que não exista qualquer negação pelo menos vinda de mim.

Que as virtudes proclamadas nos Upanishads estejam comigo,

Que sou devotado ao Atma; que tais virtudes residam em mim.

Om! Que haja paz em mim!

Que haja paz no ambiente!

Que haja paz nas forças que agem sobre mim!


Aqui termina o Kundika Upanishad, como incluído no Sama Veda.


º º º

Traduzido para o inglês por Prof. A. A. Ramanathan

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai


[N. do T.: na tradução, foram preservados os parênteses do original. As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

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