Sunday, April 27, 2025

Paramahamsa Parivrajaka Upanishad

 

Hilma af Klint, O Cisne nº 1 - Group IX, 1914-15


Mais um título dentro dos Upanishads sobre a renúncia, este Paramahamsa Parivrajaka enaltece o errante (parivrajaka) paramahamsa, uma das mais altas categorias de renunciantes, aquele que se fidelizou a Brahman através do poder do Om, o Brahma-Pranava. Uma conversa entre Brahma e seu criador, Adinarayana (Vishnu), este Upanishad vem para reforçar o intuito do hamsa, ou “a alma migratória”, que vai atingindo níveis maiores de vairagya (desapego) e viveka (discernimento), vida após vida, até renunciar por completo. 

Baixe em PDF: Academia.edu. 

º º º  

Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!


1. Então, o Senhor Brahma, aproximando-se de seu pai, Adinarayana, o Ser Supremo, com reverências, disse: “Senhor, de Sua boca, todas as coisas que se referem à natureza das castas e ordens da vida foram ouvidas, conhecidas e compreendidas. Agora, desejo conhecer as características de um monge mendicante paramahamsa. Quem tem direito à renúncia? Quais as características de um monge mendicante? Quem é um paramahamsa? Como é sua mendicância? Fale sobre isso”. 

O Senhor Adinarayana então respondeu: “A pessoa que tem direito à renúncia é o sábio que passou pelo difícil caminho de aprender os saberes sagrados com um bom preceptor; compreendeu todo o esforço necessário para a felicidade neste mundo e no próximo; entendeu a necessidade de descartar, como se fosse vômito, os três primeiros desejos, as três primeiras inclinações (apego ao corpo, etc), o sentimento de posse e o egoísmo; concluiu os estudos como brahmacharin, que é a maneira de atingir o caminho da liberação, e que se tornou chefe de família. Depois do estágio de chefe de família, ele deve se tornar um habitante da floresta (vanaprastha) e depois renunciar à vida terrena. Como alternativa, ele pode renunciar a partir do estágio de celibatário, ou do estágio de chefe de família ou de habitante da floresta. Ou, sendo ele ou não um observador de votos, tendo completado os estudos, descontinuado seu ritual de fogo ou não mantido o fogo sagrado, ele deve renunciar no mesmo dia em que se desencantar com o mundo. Assim, descontente com todos os assuntos terrenos, seja como celibatário, chefe de família ou habitante da floresta, ele deve buscar a aprovação de seu pai, mãe, esposa, amigos próximos e, na ausência desses, de um discípulo ou companheiro de hospedagem, e então renunciar ao mundo”.


2. “Há prescrições a respeito de realizar o sacrifício chamado Prajapatya, no qual Brahma é a deidade que preside, antes que o duas-vezes-nascido abrace a renúncia. Porém, embora seja prescrito, ele pode não realizá-lo. Ele deve realizar apenas o sacrifício Agneyi, cuja deidade que presidente é Agni, o deus do fogo, uma vez que agni é o sopro vital (prana). Deste modo, ele fortalece este sopro vital. Depois, poderá realizar o sacrifício Traidhataviya, cuja deidade que preside é o deus Indra. Por este sacrifício, os três fluidos vitais, chamados sattva (sêmen), rajas (sangue) e tamas (o escuro), tornam-se fortes como o fogo. Tendo realizado o sacrifício desta maneira, ele deve inalar o fogo sagrado recitando o seguinte mantra: “Ó Fogo, este sopro vital é sua fonte; assim como nasceste no momento apropriado do ano, tu te  revestes de esplendor. Por conhecê-lo (o atma, sua fonte definitiva), é que tu te fundes ao prana, a fonte. Que tu consigas expandir tua riqueza de conhecimento transcendental”. Então, recitando este mantra, ele sentirá o cheiro do fogo e dirá: “Esta é a fonte do fogo, o sopro vital. Que tu chegues ao prana, que tu chegues à fonte. Swaha”. Assim diz o mantra. Tendo obtido o fogo sagrado na casa de um sábio védico bem versado, ele sentirá o cheiro do fogo da maneira descrita anteriormente. Se ele se afligir (por doença, por exemplo), ou não conseguir o fogo sagrado, deve oferecer as oblações na água, já que a água é presidida por todos os deuses. Recitando “Eu ofereço oblações a todos os deuses, Swaha”, ele executa a oblação e pega uma pequena parcela da oblação oferecida, que é misturada com ghee, e comerá, já que isso traz benefícios. No caso dos Kshatriyas [a casta dos guerreiros] e outros que não têm direito à renúncia, a regra é para que eles busquem pela liberação no caminho dos bravos (ao encarar a morte no campo de batalha), ou do jejum (até a morte, como uma disciplina espiritual), ou entrar na água para nunca mais sair, ou entrar no fogo, ou sair em uma grande jornada (na qual desfalecem por exaustão). Se ele se afligir por doença, poderá renunciar mentalmente ou pela palavra (com a recitação de mantras). Este é o caminho de sua renúncia. 


3. Uma pessoa saudável, que deseja renunciar ao mundo, no momento oportuno dos estágios da vida, deve executar a cerimônia de shraddha [em memória dos antepassados] sobre si mesma e o ritual de fogo para livrar-se das paixões (vraja homa). Deve infundir-se ao fogo ritualístico para que ele esteja simbolicamente presente em sua pessoa. Sua proficiência sobre os assuntos do mundo e sobre o aprendizado védico, assim como os quatorze meios de ação sob seu controle (karanas), devem ser simbolicamente transferidos para seu filho. Na ausência de um filho, deve ser passado para um discípulo; na ausência deste, pode ser transferido para seu atma. Ele deve então meditar em Brahman como idêntico a seu próprio Ser, pronunciando as palavras “Brahman és tu” e “O Sacrifício és tu”. A mãe-Veda, a sustentação da existência de Brahman e a personificação da essência de todo o aprendizado, deve ser oferecida às águas recitando as três vyahritis [palavras sagradas presentes nas recitações védicas que significam os três planos: Bhur (terra), Bhuvah (atmosfera) e Swaha (céu)], que devem ser entoadas como as letras a, u e m (Om) do Pranava. Ele deve então, cerimoniosamente, beber água mantendo a atenção em Pranava; arrancar o tufo de cabelo sussurrando Pranava; quebrar o cordão sagrado; desfazer-se das vestimentas deixando-as no chão ou nas águas; desnudado, recitar o mantra “Om Bhur Swaha, Om Bhuvah Swaha e Om Suvah Swaha”; meditar em sua própria forma; novamente recitar mentalmente, ou pronunciando o Pranava e as vyahritis separadamente, entoando três vezes as palavras de despedida: “Eu renunciei, eu renunciei, eu renunciei”, em tons gentis, médios e agudos; ater-se profundamente à meditação no Pranava e erguer sua mão dizendo: “Libertos do medo, a todos a partir de mim, Swaha”. Ele deve então partir para o norte ponderando sobre o significado de grandes versos espirituais, como “Eu sou Brahman”, “Tu és aquilo”, e permanecer em seu estado desnudo. Isto é renúncia. 


Se alguém não pode seguir esta forma de renúncia, deve recitar primeiramente a oração do chefe de família e depois os textos: “Liberdade do medo a todos os seres, todas as coisas emanam de mim, tu és meu amigo e me proteges. Tu és a fonte de força. Tu és o vraja (arma) de Indra que aniquilou o demônio Vritra. Seja uma bênção para mim. Previna aquilo que é pecaminoso”. Ao recitar este mantra precedido do Pranava, ele deve pegar o emblemático cajado de bambu, o jarro de água e vestir a faixa na cintura, a tanga e um manto ocre; depois, apresentar-se a um bom Guru, curvar-se a ele e receber da boca do Guru o ensinamento da escritura “Tu és aquilo”, precedido pelo Pranava. Depois, usará uma vestimenta maltrapilha, ou uma vestimenta de casca de árvore ou de pele de veado; evitará assentar-se à beira de um rio, para prevenir misturar-se às multidões. Deve banhar-se durante os três períodos prescritos, ouvir a exposição da Vedanta e praticar o Pranava; estar bem estabelecido no caminho da realização de Brahman; fundir seu desejo favorito no atma; livrar-se do “meu” e estabelecer-se no Eu; abandonar a paixão, raiva, ganância, ilusão, intoxicação, rivalidade, orgulho falso, egoísmo, intolerância, arrogância, desejos, ódio, enaltecer-se, impetuosidade, sentimento de posse, etc. Munido com sabedoria e desapego, deve deixar riquezas e mulheres, e possuindo uma mente pura, deve ponderar sobre as verdades de todos os Upanishads; dedicado especialmente a guardar o celibato, a não-posse, a atitude de dano ao universo e a veracidade; conquistar seus sentidos e livrar-se da afeição interna e externamente; procurar esmolas para sustentar o corpo, como se fosse uma vaca indefesa, com membros das quatro castas, exceto aqueles que são amaldiçoados e caídos; tal pessoa é considerada como merecedora da realização de Brahman. Ele deve ver a equanimidade no ganho e na perda de esmolas sempre; comer os alimentos, dados como esmola em vários locais, como uma abelha, usando as mãos como recipiente; não aumentar a gordura corporal e tornar-se magro; sentir que ele é Brahman; ir para um vilarejo para servir ao preceptor. Ele deve, firme na conduta, sair sozinho por alguns meses e não deve viajar com mais ninguém. Quando tiver atingido bom senso o suficiente (desapego), poderá se tornar um kutichaka ou um bahudaka, ou um hamsa ou um paramahamsa. Ao recitar os respectivos mantras, deve desfazer-se, na água, de sua faixa na cintura, tanga, cajado, jarro de água e prosseguir nu. Deve passar uma noite em um vilarejo, três noites em um local sagrado, cinco noites em uma cidade e sete noites em um local de peregrinação. Não deve ter residência fixa; ter a mente firme; não recorrer a um local com uma fogueira (para se aquecer); livrar-se das emoções; descartar tanto os rituais quanto os não-rituais; receber esmolas apenas para sustentar o corpo, com equanimidade com os ganhos e perdas, da mesma maneira que uma vaca; tomar água apenas num local com água [não carregar água consigo] e ter sua morada em um local solitário, livre de perturbação. Ele não deve pensar em ganho ou perda, mas estar interessado em erradicar as boas e más ações; dormir sempre no chão; descartar barbear-se; abandonar a restrição de observar chaturmasya [período de quatro meses que são propícios para as práticas espirituais], interessar-se profundamente na meditação pura; ser avesso a riquezas, mulheres e à vida na cidade; comportar-se como uma pessoa insana, embora seja perfeitamente são; não possuir emblemas ou distintivos de conduta; não ter sonhos, uma vez que dia e noite são o mesmo para ele; e ser muito atento ao caminho da meditação profunda em Brahman na forma de Pranava, investigando a natureza do Eu. Aquele que abandona seu corpo ao recorrer à renúncia é um monge mendicante paramahamsa. 


4. O Senhor Brahma perguntou a Narayana: “Senhor, o que é Brahma-Pranava?”. O Senhor Narayana respondeu: “O Brahma-Pranava consiste em dezesseis partes e é conhecido em quádruplos nos quatro estados (vigília, sono, etc.). No estado de vigília, há os quatro estados, por exemplo: a vigília dentro da vigília, a vigília dentro do sono, etc., isso é jagrat-jagrat; no estado de sonho, há os quatro estados, como a vigília dentro do sonho, etc., isso é swapna-jagrat; em sono profundo, há os quatro estados: vigília dentro do sono profundo, sonho dentro do sono profundo, etc., isso é sushupti-jagrat; no quarto estado, turiya, há os quatro estados: vigília em turiya, sonho em turiya, etc., isso é turiya-jagrat. No estado de vigília de difusão distributiva (vyashti) [individuação], há a quadruplicidade de Vishva, a saber, Vishva-Vishva, Vishva-Taijasa, Vishna-Prajna e Vishva-Turiya [essas são as quatro formas de Sri Vishnu e o conjunto é conhecido como a deidade que preside os Upanishads]. 


No estado de sonho da individuação, há a quadruplicidade de Taijasa [iluminado], como Taijasa-Vishva, Taijasa-Taijasa, Taijasa-Prajna e Taijasa-Turiya. No estado de sono profundo de Prajna [sabedoria], há a quadruplicidade de Prajna-Vishva, Prajna-Taijasa, Prajna-Prajna e Prajna-Turiya. No quarto estado, Turiya, há a quadruplicidade de Turiya, como Turiya-Vishva, Turiya-Taijasa, Turiya-Prajna e Turiya-Turiya. Todos eles formam as dezesseis partes. 


Na letra “a” (em Om, Aum), há Jagrat-Vishva, na letra “u”, Jagrat-Taijasa, na letra “m”, Jagrat-Prajna, no ardha-matra [meia lua no símbolo de Om] está Jagrat-Turiya, no ponto [acima da meia lua] está Svapna-Vishva, no silêncio está Svapna-Taijasa, em kala [tempo] está Svapna-Prajna, em kalatita [que está além das energias] está Svapna-Turiya, em shanti [serenidade] está Sushupti-Vishva, em shantytita [o estado final da transcendência] está Sushupti-Taijasa, em pashyanti [o nível onde a linguagem se manifesta] está Turiya-Prajna, em para [para é o nível fonte da linguagem] está Turiya-Turiya. Os quatro estados de Jagrat pertencem à letra “a”; as quatro partes de Svapna pertencem à letra “u”; as quatro partes de Sushupti pertencem à letra “m”; as quatro partes de turiya pertencem ao ardha-matra. Este é o Brahma-Pranava. É isto que deve ser adorado pelos paramahamsas,  turiyatitas e avadhutas. Através disso, Brahma é iluminado. Esta é a liberação no estado desencarnado (videhamukti)”.


5. O Senhor Brahma fez outra pergunta: “Senhor, como pode alguém que não tenha o cordão sagrado, nem o tufo de cabelo, ser uma pessoa que dispensou todas as atividades terrenas? Como pode ele estar unicamente devotado à absorção em Brahman? Como pode ele ser um Brahmana?”. 


O Senhor Vishnu (Narayana) respondeu: “Meu filho, quem possui o conhecimento do atma não-dual é quem realmente possui o cordão sagrado (i.e. o próprio conhecimento é o cordão sagrado). Sua profunda absorção na meditação é, ela mesma, o tufo de cabelo. Essa atividade em si mesma é a posse do anel santificador da erva sagrada (pavitra). Quem executa todas as ações é Brahmana, profundamente absorto em Brahman, ele é o ser iluminado (deva), ele é o sábio, ele pratica penitência, ele é o mais nobre, ele é superior a todos. Saiba que este “ele” sou Eu. 


Neste mundo, é muito raro o monge mendicante que é um paramahamsa. Se existe um, ele é eternamente puro, apenas ele é o Purusha glorificado nos Vedas. Ele, que é um homem superior (mahapurusha), repousa sua mente em mim. Eu, também, estou apenas nele. Ele está para sempre satisfeito. Está livre dos efeitos do frio e do calor, da felicidade e da tristeza, da honra e da desonra. Ele suporta o insulto e a ira. Ele não possui as seis enfermidades humanas (fome e sede, tristeza e ilusão, velhice e morte), e está livre das seis propriedades (do corpo, do nascimento, da existência, da mudança, do crescimento, da decadência e da morte). Ele não sofre intervenção (ele não está subjugado) do estado de velhice ou qualquer outro. Exceto o Eu, ele não vê mais nada. Com poucas vestimentas, sem se curvar a ninguém, nem pronunciando “Swaha”, já que ele não cultua nenhum deus, nem pronunciando “Swadha” (para beneficiar os antepassados), livre da culpa e do elogio, sem recorrer a mantras ou rituais, nem meditar em outros deuses além do Deus Supremo, abstendo-se de objetivos e de sua ausência, com todas as atividades encerradas, firmemente estabelecido na Consciência que consiste em Existência, Conhecimento e Bem-Aventurança, tendo ciência da bem-aventurança suprema, ele sempre medita no Brahma-Pranava, já que ele é apenas Brahman e, dessa maneira, ele se completa. Aquele que é assim, é um monge mendicante paramahamsa. Aqui termina o Upanishad


Om! Ó Devas, que possamos ouvir com nossos ouvidos aquilo que é auspicioso.

Que possamos ver com nossos olhos aquilo que é auspicioso, ó Vós, merecedores de adoração!

Que possamos desfrutar do período de vida concedido pelos Devas,

Louvando-os com nosso corpo e membros firmes!

Que o glorioso Indra nos abençoe!

Que o onisciente Sol nos abençoe!

Que Garuda, o raio contra o mal, nos abençoe!

Que Brihaspati nos conceda o bem-estar!

Om! Que haja Paz em mim!

Que haja Paz no ambiente!

Que haja Paz nas forças que agem sobre mim!

Aqui encerra o Paramahamsa Parivrajaka Upanishad, como contido no Atharva-Veda.

º º º 

Traduzido para o inglês por Prof. A. A. Ramanatha

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Wednesday, April 23, 2025

Akshaya Tritiya: o dia de infinitas bênçãos (30 de abril)

 


O Akshaya Tritiya é uma das datas mais significativas na tradição hindu (e também para o jainismo) e traz inúmeras bênçãos aos devotos e àqueles que se prestam a guardar e observar este dia. Sendo o terceiro dia lunar (tritiya) do mês de vaishak (abril/maio) no calendário hindu, esta comemoração recebe o nome de “akshaya” porque neste dia tudo se torna forte e frutífero, ao contrário de decadente (kshaya), assim, é uma data  propícia para beneficiar o mundo através de doações materiais (dinheiro, ajuda física, alimento) e espirituais (preces, ensinamentos). Em 2025, o Akshaya Tritiya é comemorado na quarta-feira, 30 de abril.


Neste dia, o crescimento espiritual é reforçado e a purificação facilitada devido à configuração favorável do sol e da lua no céu, que beneficiam o fortalecimento da meditação e da introspecção, além de favorável aos ganhos materiais, sendo uma data excelente para doações, compra de ouro e ajuda filantrópica.


Esta data é auspiciosa por multiplicar infinitamente as bênçãos que vêm através do serviço e da doação altruístas, ajudando-nos a superar o apego, o egoísmo e o sentimento de falta. É dito que as doações feitas em Akshaya Tritiya auxiliam a superar as doenças e o medo da morte, obter felicidades nas próximas vidas e perdão pelos erros cometidos nesta, livrar-se da pobreza, atingir a paz e a prosperidade.


A observância do Sagrado durante este dia é mencionada em algumas escrituras, como o Shiva Purana, Bhavishya Purana, Skanda Purana, Padma Purana e o Mahabharata, que, diz-se, foi ditado por Veda Vyasa a Ganesha num dia de Akshaya Tritiya. 


Algumas das histórias relacionadas a data são:


- O aparecimento de Mata Lakshmi: quando os Devas e Asuras batiam as águas do oceano em busca do néctar da imortalidade, Mata Lakshmi emergiu das águas e ficou conhecida como a deidade que concede riqueza e prosperidade;

- O nascimento de Parashurama: a sexta encarnação de Vishnu, Parashurama, apareceu neste dia;

- A oferenda de Sudama ao Senhor Krishna: em grande dificuldade e procurando abrigo em seu melhor amigo, o Senhor Krishna, o pobre Sudama O visitou levando como presente um simples bocado de arroz ressecado. Krishna, tocado pela devoção de Sudama, concede a ele riqueza e prosperidade incalculáveis;

- Yudhishthira recebe o Akshaya Patra: acredita-se que neste dia o Senhor Surya (deus do sol) concedeu a Yudhisthira um recipiente mágico, o Akshaya Patra, de onde nunca se esgota o alimento;

- Início do Mahabharata: conta-se que foi neste dia que Veda Vyasa começou a narrar o épico Mahabharata para o Senhor Ganesha;

- O aparecimento da Deusa Annapurna: Annapurna, uma manifestação de Parvati, apareceu neste dia na Terra, na frente de Shiva, oferecendo a Ele uma porção de arroz (anna);

- O início de Treta Yuga: o Bhavishya Purana afirma que Akshaya Tritiya marca o início de Treta Yuga, a segunda das quatro eras na cosmologia hindu. Isso confere ao dia uma imensa auspiciosidade, pois acredita-se que qualquer boa ação realizada nesse dia produza resultados eternos;

- A honra da Rainha Draupadi é salva: o episódio do jogo de dados no Mahabharata, quando os Kauravas tentam desnudar a Rainha Draupadi, também aconteceu em um Akshaya Tritiya. Para resguardá-la, Krishna concede a ela o Akshaya Vastra, um sari infinito que a protege do constrangimento; 

- O Rio Ganges chega à Terra: neste dia, o Rio Ganges desceu do céu para a Terra;

- Criação da cevada: é dito que a cevada surgiu neste dia, dando início à geração de uma diversidade de grãos, como o milho, a aveia e o trigo.


Com tantos significados e relevância, o Akshaya Tritiya é uma ótima oportunidade para dar início a projetos de benfeitoria, iniciar sadhanas (práticas espirituais), dedicar-se mais ao japa, renovar votos e ajudar o próximo. 

Saturday, April 19, 2025

Qual a relação entre a flor de maracujá, o Mahabharata e a Paixão de Cristo

 


A flor de maracujá carrega um forte simbolismo espiritual e está conectada ao épico hindu Mahabharata e à Paixão de Cristo devido à sua morfologia cheia de detalhes sutis e divinos que remontam à história indiana e ao período da Semana Santa, ou a Paixão de Cristo, quando Jesus deu os últimos passos na Terra.


Também chamada em português de passiflora e flor-da-paixão, a flor de maracujá é conhecida como Krishna Kamal na Índia e está atrelada ao Mahabharata com sutilezas e profundidade. A história de rivalidade entre os primos Kauravas e Pandavas encontra nesta flor um resumo sucinto da epopéia vivida por eles. Os cem filamentos da coroa da flor representam os cem filhos de Dhritarashtra, o clã dos Kurus. Na parte de dentro, em tom amarelado/esverdeado, há cinco filamentos que representam os cinco irmãos Pandavas. O bulbo que conecta estes cinco filamentos do interior da flor é conhecido como a representação de Draupadi, a esposa em comum dos cinco Pandavas. Já os três filamentos (estigmas) que ficam acima dos  cinco que representam os Pandavas têm a aparência do sudarshana chakra, a ferramenta mais poderosa possuída por Krishna. Há também uma concepção de que estes três filamentos signifiquem a trindade hindu: Vishnu, Brahma e Shiva.


Conta-se que os missionários cristãos europeus se encantaram pela flor de maracujá quando chegaram à América do Sul e logo começaram a atribuir significados à morfologia da flor, que remete a Jesus Cristo. A flor foi rapidamente associada ao calvário de Cristo, passando a ser chamada também de coração-ferido, além de flor-das-cinco-chagas. O calvário é o cenário onde se dá a crucificação de Jesus, assim, os cinco filamentos da flor representam as cinco chagas, os três estigmas acima significam os três cravos usados para crucificá-Lo e a videira é tida como o chicote que açoitou Jesus na cruz. A cor roxa da flor (o tipo mais comum na América do Sul) também faz paralelo com a tonalidade roxa adotada pela igreja católica durante a época da Quaresma. 


Com simbologia tão espiritual e profunda, não é por acaso que esta flor também está associada à tranquilidade e equilíbrio. A ingestão de sucos, chás ou infusões com a flor ou com o fruto (o maracujá) são ótimas fontes naturais para o tratamento de ansiedade, estresse e depressão.

Tuesday, April 15, 2025

O que a Santa Mãe faria?

 


Talvez, o ensinamento mais conhecido da Santa Mãe Sri Sarada Devi seja o de não ver os defeitos alheios. Quando já estava acamada e pouco antes de deixar o corpo, a Mãe, em diálogo com a devota Annapurna Maa, disse: “Por que tem medo? Você viu o Mestre. Mas te digo uma coisa, se você quer paz mental, não encontre defeito nos outros. É melhor ver seus próprios defeitos. Aprenda a fazer do mundo todo seu próprio mundo. Ninguém é um estranho. Todo o mundo é seu”. Esta afirmação convicta da Mãe cabe sempre bem a qualquer situação, em qualquer lugar. O que Ela fazia ao ver os defeitos de um devoto ou sevaka? Ela ensinava. O que Ela faria ao nos ver presos aos nossos defeitos, mas tratando apenas dos defeitos alheios? Ela também ensinaria.


Porque não nascemos com manual de instrução, nada melhor do que encontrar um mestre para ajudar no caminho. Sabendo que é impossível não termos defeitos, a Mãe instruiu, como a grande Guru que era, que apontar defeitos corrompe a própria pessoa e não melhora as outras, assim, ensinou que se ater às falhas é prejudicial e inútil. Foram inúmeras as vezes que Ela tratou do assunto, como quando disse a uma devota em dada ocasião: “Ao sempre notar os defeitos dos outros, no final, a pessoa se tornará apenas uma encontradora de defeitos”.


Apesar de sua indiscutível santidade, os ambientes em que a Mãe habitava podiam se tornar por vezes hostis, principalmente nas relações familiares, o que era um desafio constante para Ela. Certa vez, Ela disse a um devoto: “Não consigo mais ouvir sobre os defeitos de ninguém, querido. Tudo acontece devido ao prarabdha karma da pessoa, o efeito das ações passadas. Eles falam sobre os defeitos de A–, mas onde todos estavam naquela época? O quanto ele me serviu! Naquele período, eu cozinhava o arroz nas casas de meus irmãos. Minhas cunhadas eram muito novas. Sem ligar para o frio ou a chuva, ele trabalhava comigo de manhã até de noite, tirando panelas enormes de arroz cozido dos fornos. Hoje, muitos chegam como devotos, mas naquela época, quem estava comigo? Vamos esquecer tudo que aconteceu naquele tempo? Além disso, que culpa ele tem? Antigamente, eu também reparava nos defeitos das pessoas. Mais tarde, eu chorava e chorava diante do Mestre rezando: ‘Ó Mestre! Não quero mais ver os defeitos de ninguém’, e finalmente me livrei daquele hábito. Você pode ter feito o bem para um homem mil vezes e ter feito o mal apenas uma, ele vai se afastar de você devido àquela única ofensa. As pessoas veem apenas os defeitos. Na verdade, deve-se notar os méritos”.


Ela dizia: “Todos podem destruir, mas quantos podem construir? Qualquer um pode criticar e insultar um homem, quantos podem melhorá-lo?”, um ensinamento que ressoa muito com nosso cotidiano e sermos apenas “encontradores” de defeitos. Ao tentar ajudar alguém a não cometer mais erros ou corrigir um defeito, estamos purificando também a nossa mente, muito acostumada a julgamentos. Ajudar com humildade e encorajar a mudança positiva no outro traz benefícios a longo prazo e muda os paradigmas da convivência humana. “Ver os defeitos dos outros! Ninguém deveria fazer isso. Eu nunca faço. O perdão é tapasya (austeridade)”, afirmava a Mãe, deixando um conselho precioso para todos os seus filhos.


[Trechos traduzidos de O Evangelho da Santa Mãe, compilado por Swami Nikhilananda, e de A Mãe do Mundo, de Swami Bhuteshananda.]

Paramahamsa Parivrajaka Upanishad

  Hilma af Klint, O Cisne nº 1 - Group IX, 1914-15 Mais um título dentro dos Upanishads sobre a renúncia, este Paramahamsa Parivrajaka enal...