Monday, October 7, 2024

Devi Upanishad

 


Na ocasião deste Navaratri, enquanto aguardamos a chegada de Durga e celebramos suas nove principais manifestações, podemos nos aproximar mais da Mãe Divina e de sua Sagrada Shakti de muitas maneiras, como fazer ou assistir rituais, fazer oferendas, recitar mantras, contemplar, mas também damos muitos passos na direção Dela ao ler sobre seus feitos, sua força e vitórias. Assim, se torna muito auspicioso fazer leituras como do Devi Mahatmya (Chandi) ou do Devi Upanishad, dois dos principais textos sobre a Mãe Divina e seu poder supremo de criação do universo.

Baixe em PDF aqui.

º º º

Devi Upanishad

Om! 
Deuses! Com os ouvidos, ouçamos o que é bom.
Adoráveis! Com olhos, vejamos o que é bom.
Com os membros firmes e os corpos louvando,
Aproveitemos a vida concedida pelos deuses.
Que Indra, de grande renome, conceda-nos o bem-estar.
Que Pusan e todos os deuses concedam-nos o bem-estar.
Que Tarksya, de movimento livre, conceda-nos o bem-estar.
Que Brihaspati conceda-nos o bem-estar.
Om! Paz! Paz! Paz!

1. Todos os deuses procuraram a Deusa e perguntaram: 
Grande Deusa, quem és Tu?

2. Ela respondeu: 
Eu sou essencialmente Brahman. De mim surgiu o mundo, que consiste de Prakriti [natureza material] e Purusha [natureza espiritual], do Vazio e do Pleno. Eu sou (todas as formas de) bem-aventurança e de não-bem-aventurança. Eu sou conhecimento e ignorância. Brahman e o não-Brahman devem ser conhecidos, dizem as Escrituras dos Atharvans.

3. Eu sou os cinco elementos, assim como sou aquilo que é diferente deles. Eu sou o mundo inteiro. Eu sou os Vedas, assim como sou aquilo que é diferente deles. Eu sou o não-nascido, Eu sou o nascido. Abaixo, acima e ao redor, Eu sou.  

4. Eu me movo com Rudras e Vasus, com Adityas e Visvedevas.
Eu dou apoio a Mitra e Varuna, Indra e Agni, e os dois Ashvins.
[Todos os nomes se referem a divindades, como o Deus do Fogo e os cantores celestiais.]

5. Eu sustento Soma, Tvastir, Pusan e Bhaga,
O imenso Vishnu, Brahma e Prajapati.

6. Ao zeloso sacrificador que oferece oblação
E espreme o suco de Soma, eu concedo riqueza.
Eu sou o estado, o Portador da Riqueza,
Acima de tudo, coloque Eu como seu protetor.

7. Aquele que conhece minha essência na água do mar profundo,
Atinge a morada da Deusa.

8. Os Deuses disseram: 
Saudações à Deusa, a grande Deusa!
A Shiva, o auspicioso, saudações para todo o sempre.
À abençoada Prakriti, saudações!
Para sempre, à Ela nos curvamos.

9. Busco refúgio Nela, que tem a cor do fogo,
Que queima com o ardor do ascetismo, Deusa resplandescente,
Deleitando-Se nos frutos das ações, ó Tu, difícil de ser alcançada,
Dissipe Tua escuridão.

10. Os deuses geraram a Fala divina,
Com ela, bestas de todas as formas falam;
A vaca que produz frutos doces e vigor,
A nós pode aparecer como a Fala louvada.

11. Ao sagrado Shiva, à filha de Daksha,
À Aditi e Sarasvati,
À Mãe de Skanda, ao Poder de Vishnu,
À noite da morte louvada por Brahma,
Nós prestamos reverências.

12. Saiba que nós, Grande Lakshmi,
Deusa da boa Fortuna,
Meditamos sobre todas as realizações.
Que a Deusa nos inspire! 

13. Através de Ti, Dakshayani, Aditi nasceu.
Ela é sua filha,
E após ela nascer,
Nasceram os deuses auspiciosos,
Amigos da imortalidade.

14. Amor, ventre, o companheiro do amor, o portador do raio
A caverna, ha-sa, o vento, a nuvem, Indra,
Novamente a caverna, sa-ka-la com Maya,
Assim é a ciência primordial que cria tudo que há.

15. Este é o poder do Eu, que encanta a todos, armado com o laço, o gancho, o arco e a flecha.
Esta é a grande e sagrada Ciência.

16. Quem sabe isso, ameniza a tristeza.

17. Mãe Divina!
Saudações a Ti.
Proteja-nos de todas as maneiras possíveis.

18. Ela, que aqui está, é os oito Vasus, os onze Rudras, os doze Adityas. Ela é todos os deuses, aqueles que bebem o Soma e aqueles que não bebem. Ela é os duendes, os demônios, os seres maus, os fantasmas; Ela também é os super-homens, os semidivinos. Ela é Sattva, Rajas e Tamas. Ela é Prajapati, Indra e Manu. Ela é os planetas, as estrelas e as esferas luminosas. Ela é as divisões do tempo, e é a forma do Tempo primordial. Eu a saúdo para sempre.

19. A Deusa que acaba com a aflição,
Igualmente concede prazer e libertação.
Infinito, vitorioso, puro,
Shiva, o Refúgio, o doador do bem.

20. A semente todo-poderosa do mantra da Deusa
É o céu [o espaço], unido ao “eu” e ao fogo
Com a lua crescente adornando.

21. No mantra monosilábico,
Os sábios de coração puro meditam,
Em bem-aventurança suprema,
Com sabedoria como oceanos profundos.

22. Moldado pela Fala; nascido de Brahman, o sexto
Com a face adornada, o sol, o ouvido esquerdo onde o ponto está,
O oitavo e o terceiro [pontos] se encontram.

23. O ar, com Narayana unido,
E com o lábio [produzem] a [palavra] de nove letras.
Tal palavra será um deleite para aqueles que são pessoas elevadas.

24. Sentada no coração de lótus,
Resplandecente como o sol da manhã,
A Deusa, portando o laço e o gancho,
Com gestos que concedem desejos, dissolve os medos.
Terna, com três olhos, vestida de vermelho, concedendo aos devotos
Os desejos de seus corações,
A Ti, eu adoro.

25. Eu presto reverências a Ti, Deusa,
Tu que és quem dissipa os maiores medos,
Que conquista os obstáculos,
Tu, portadora da maior forma de misericórdia.

26. Brahma e outros desconhecem Sua essência, assim, Ela é chamada de a Incognoscível. Ela não tem fim, por isso é chamada de Infinita. Ela não pode ser compreendida, por isso é chamada de Incompreensível. Seu nascimento é desconhecido, por isso é chamada de Não-nascida. Apenas Ela está presente em todo lugar, e por isso é chamada de Um. Apenas Ela tem todas as formas, por isso é chamada de Muitas. Por tais motivos, Ela é chamada de Incognoscível, Infinita, Incompreensível, Não-nascida, Um e Muitas. 

27. A Deusa é a fonte de todos os mantras,
De todas as palavras, o conhecimento é Sua forma.
Sua Forma consciente transcende toda a cognição,
Ela é a testemunha de toda a vacuidade.

28. Além Dela não há nada. 
Ela é conhecida como inacessível, 
Eu presto reverências àquela que é inacessível.
Baluarte contra todos os pecados, 
[Ela é] O piloto que me leva através do mar da vida mundana. 

29. Aquele que estuda [esta parte do] o Atharva Veda recebe os frutos de repetir cinco outros [textos] do Atharva Upanishad. Aquele que domina este Upanishad persiste na adoração.

30. Deste conhecimento, dez milhões de cantos
São menos do que o fruto da adoração.

31. Quem lê este Upanishad dez vezes
Será liberado de uma só vez de todos os pecados.
Pela graça da grande Deusa,
Ele supera todos os obstáculos.

32. Ler este Upanishad de manhã destrói os pecados da noite; ler ao anoitecer, destrói os pecados cometidos durante o dia. Assim, ao ler tanto de noite quanto de dia, o pecador se livra dos pecados. Ler à meia-noite também, na quarta “junção” [do dia], resulta em perfeição da fala. A recitação deste Upanishad diante de uma nova imagem traz para a imagem a presença da deidade. A recitação na hora da consagração (de uma imagem), a torna um centro de energia. Quem recitar às terças-feiras sob os auspícios dos Ashvins, na presença da grande Deusa, conquistará a morte. Este é o segredo.

Om! 
Deuses! Com os ouvidos, ouçamos o que é bom.
Adoráveis! Com olhos, vejamos o que é bom.
Com os membros firmes e os corpos louvando,
Aproveitemos a vida concedida pelos deuses.
Que Indra, de grande renome, conceda-nos o bem-estar.
Que Pusan e todos os deuses concedam-nos o bem-estar.
Que Tarksya, de movimento livre, conceda-nos o bem-estar.
Que Brihaspati conceda-nos o bem-estar.
Om! Paz! Paz! Paz!

Aqui termina o Devi Upanishad, como incluído no Atharva Veda.

º º º

Traduzido para o inglês por Dr. A. G. Krishna Warrier

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho

Publicado pela Theosophical Publishing House, Chennai

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Tuesday, October 1, 2024

Celebrando Swami Abhedananda

 


Neste 2 de outubro, lembramos e celebramos a vida de Swami Abhedananda, nascido em 1866, com o nome de batismo Kali Prasad, que quer dizer o alimento oferecido à Kali. Sua ligação com a Mãe Divina, Kali, já estava selada antes mesmo de seu nascimento: seus pais fizeram uma promessa à Kali de que se aquele filho nascesse saudável, eles o ofereceriam como prasad (alimento sagrado) à Mãe Divina. O menino Kali Prasad esteve sempre inclinado à filosofia e autoconhecimento, e foi um grande autodidata e erudito desde jovem. Sua vida mudou e tomou a direção que deveria quando ele foi conhecer, com certa ansiedade, Sri Ramakrishna, que desde o primeiro instante afirmou que ali estava um verdadeiro yogi. Após algum tempo com o Mestre, sua força espiritual apenas aumentara e foi com tal força que, mais tarde, Swami Abhedananda cruzou os mares e aportou em Nova York para dar continuidade ao trabalho que Swami Vivekananda fizera por lá até então. 

Um dos mais prolíficos escritores dentre os discípulos do Mestre, Swami Abhedananda tem uma coleção de mais de trinta livros de sua autoria e um legado de muito trabalho para espalhar os ensinamentos da Vedanta no Ocidente. O desbravador Swami abriu as portas para que a Vedanta Society ampliasse sua atuação pelos Estados Unidos e avançasse para outros países. 

Swami Abhedananda é de grande inspiração pessoal. Eu o tenho como meu Mestre do Esclarecimento, porque, lendo seus livros, muitas ideias e conceitos foram esclarecidos para mim de maneira eficaz. A eloquência de Swami Abhedananda é de fácil assimilação e os exemplos que ele passa são muito didáticos.

Por isso, nesta ocasião especial em que lembramos dele e sua vasta obra, ofereço a tradução do excelente Atma-Jnana, um tratado curto e simples sobre os pontos básicos para entender o atma e compreender o que realmente significa "autoconhecimento". 

Baixe o livro Atma-Jnana - Autoconhecimento aqui.


Sunday, September 29, 2024

Mouna - Silêncio

 


Trechos sobre a observância do silêncio na vida diária do praticante tirados do livro Concentração e Meditação, de Swami Sivananda. 

º º º  

Do capítulo 6: Obstáculos Físicos na Meditação, “Diarréia Verbal”:

Falar demais é um dos maus hábitos que mais diminui o poder espiritual. Se uma pessoa fala muito, ela sofre de diarréia na língua. Pessoas quietas não conseguem ficar nem por um segundo na companhia daqueles que são loquazes e tagarelas. Eles falam quinhentas palavras por segundo. Há um dínamo-falante elétrico em suas línguas.  

Eles são inquietos. Se trancarmos pessoas assim por um dia em um quarto solitário, elas morrem. Muita energia é gasta ao falar muito. A energia que é gasta falando deve ser conservada e utilizada para a contemplação divina. Vak indriya [a língua] distrai a mente consideravelmente. Uma pessoa muito falante não consegue sonhar com a paz mesmo por um curto período. Enquanto aspirantes, devemos falar apenas algumas palavras quando necessário, e apenas sobre assuntos espirituais. Uma pessoa falante não está apta para o caminho espiritual. 

Pratique mouna [silêncio] diariamente por duas horas e principalmente durante as refeições. Aos domingos, observe mouna por 24 horas. Faça bastante japa [recitação de mantra] e meditação durante mouna. O mouna que é observado durante a meditação não pode ser entendido como voto de silêncio. O sono também deve ser entendido como mouna. 

Mouna deve ser observado por chefes de família a qualquer momento em que haja oportunidades para falar e quando visitas aparecem. Apenas assim o impulso da fala pode ser contido*. As mulheres falam muito. Elas criam problemas em casa devido às conversas vãs e fofocas. Elas, em especial, precisam observar mouna. Você deve falar apenas palavras comedidas. Falar muito é de natureza rajásica. Grande paz vem com a observância de mouna. Pela prática gradual, prolongue o período de mouna por três meses. 

[N. do T.: *Ele quer dizer que nos momentos mais propícios para muita conversa é quando devemos refrear a fala para, assim, aprender a controlá-la. 


Do capítulo 9: Experiências na Meditação, “Sentimento de Separação”:

Mouna, ou o voto de silêncio, isolamento e viver sozinho são a condição necessária para atingir este fim [a concentração]. Se as circunstâncias te impedem de observar mouna, evite veementemente falar muito, falar por muito tempo, falar por falar, todas as conversas desnecessárias, todos os tipos de discussões vãs, etc., e retire-se da sociedade o quanto for possível. Falar muito é simplesmente um desperdício de energia. Se tal energia for conservada através de mouna, ela será transmutada em Ojas, ou energia espiritual, que o ajudará em sua sadhana [prática espiritual].

A fala é tejomaya vak [palavra do fogo de maya] de acordo com o Chandogya Upanishad. A porção densa do fogo constitui os ossos, a porção mediana forma o tutano e a porção sutil do fogo forma a fala. Assim, a fala é uma energia muito poderosa. Lembre-se disso, lembre-se disso, lembre-se disso sempre. Observe mouna por três meses, seis meses ou um ano. Se não puder fazer por meses seguidos, observe-o por um dia na semana, assim como Sri Mahatma Gandhiji fazia. 

Você deve se inspirar em Mahatmas como Sri Krishna Ashramji Maharaj, que está agora vivendo absolutamente nu há seis meses nas regiões geladas dos Himalaias, perto da nascente do Ganges, em Gangotri. Ele está observando kastha mouna, um rígido voto de silêncio há muitos anos. (Em kastha mouna, você não comunica seus pensamentos aos outros nem mesmo por escrita ou sinais.) 

Por que você também não se torna um Krishna Ashram de grande reputação e glória? Após duras e contínuas práticas, você será capaz de separar você mesmo de seu corpo. Desenvolve-se um hábito. Assim que você silenciar o pensamento e acalmar a mente, o hábito mental de sair do corpo físico acontece automaticamente. Não haverá qualquer dificuldade. A mente entra em um novo ritmo e aparece em um novo palco, ou plataforma.

º º º


Publicado pela Divine Life Society, Uttarakhand

Traduzido por Mariângela Carvalho

[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Saturday, September 28, 2024

A Ciência do Hamsa II

 


A Ciência do Hamsa está explicada em diversos Upanishads e outras Escrituras. Nessa seção, vamos explorar alguns versos a respeito e seus significados.

º º º

----- Yoga Sikha Upanishad -----


A grande Maha Yoga, que é única, foi dividida em quatro partes chamadas Mantra Yoga, Laya Yoga, Hatha Yoga e Raja Yoga. O prana sai com o som “ham” e entra com “sa”, e todos os seres naturalmente cantam este mantra, “Hamsa, Hamsa”, enquanto inspiram e expiram. Este mantra é recitado no [canal] Sushumna após ser ensinado pelo Guru de maneira invertida - Hamsa invertido é Soham. A recitação do mantra “Soham, Soham (eu sou Aquele)” é chamado de Mantra Yoga. O sol é a letra “Ha” e a lua é a letra “Tha”. A junção do sol com a lua é a Hatha Yoga. Devido à Hatha Yoga, a tolice, que é a causa de todos os doshas [defeitos], é engolida. Quando a fusão de Jivatma e Paramatma acontece, a mente se dissolve e desaparece. Apenas o ar do prana permanece. Isso é chamado de Laya Yoga. É por causa de Laya Yoga que o sagrado Swathmananda Sowkhya (o bem-estar da alegria da própria alma) é alcançado. No grande templo no meio da yoni (o órgão feminino), o princípio da Devi, que é vermelho como uma flor de hibisco, reside como rajas em todos os seres. A fusão de rajas com o princípio masculino é chamada de Raja Yoga. Como resultado da Raja Yoga, o Yogi obtém todos os poderes ocultos, como o Anima [um dos principais poderes ocultos, chamados siddhis, no qual o praticante consegue reduzir seu próprio tamanho]. Deve-se compreender que esses quatro tipos de Yogas não são nada além da fusão de prana, apana e samana*. 


[N. do T.: *Três dos cinco tipos de ar vital existentes no corpo físico. Prana refere-se ao ar (energia) vital obtido através da respiração; corresponde ao elemento ar no corpo. Apana é o alento vital e está associado aos processos de exalação e eliminação, ou seja, tudo aquilo que é colocado para fora do corpo; corresponde ao elemento terra. Samana é o ar que propicia o equilíbrio energético e a digestão de alimentos e emoções; corresponde ao elemento fogo no corpo.]


Traduzido para o inglês por P. R. Ramachander.
Publicado em www.celextel.org
Traduzido para o português por Mariângela Carvalho
[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]
º º º

Este trecho esclarecedor do Yoga Sikha Upanishad explica que a Grande Yoga, ou Maha Yoga, ou seja a maior junção do eu inferior com o Eu superior, começa com a respiração impreterível do Hamsa Mantra. Novamente, é citado dentro dos Upanishads como este mantra se manifesta durante a vida de todas as almas individuais (Jivas) e como ele leva ao conhecimento do Vasto (o aspecto Bhuman de Brahman). 


A Grande Yoga começa com Mantra Yoga devido ao papel fundamental que a recitação do Hamsa Mantra tem na existência de todos os seres. Perceber a respiração como o ar vital (o prana) que entra e sai do corpo é lembrar que Deus soprou a energia (ar) vital para dentro do ser humano, dando-lhe vida. A Bíblia faz alusão ao sopro divino quando traz em Gênesis 2:7: “Então o Senhor Deus formou o corpo humano do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego (ar) da vida, e ele tornou-se um ser vivo”; no evangelho de João 20:20-22, após Cristo ressuscitar e aparecer para os discípulos, Ele abençoou-os da seguinte maneira: “E, dizendo isso, lhes mostrou as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram ao ver o Senhor. E Jesus lhes disse outra vez: ‘Que a paz esteja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio’. E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebam o Espírito Santo’”.


A prática da meditação no Hamsa Mantra é perceber, a cada respiração, a presença de Deus dentro do próprio ser. Este ar soprado por Deus, que dá a ignição ao ser humano, deve ser contemplado e investigado. O sopro de Deus é o próprio espírito, é o combustível da vida. Não por acaso, a palavra hebraica ruach carrega como significados “vento, ar, fôlego, sopro, espírito”, o que demonstra, para além do hinduísmo e do sânscrito, a correlação entre o Mantra Hamsa e o estado de comunhão com Deus.  


O exercício de respirar consciente no Hamsa Mantra aproxima o praticante da realização divina sem intermediários: este mantra não precisa ser dado por um mestre realizado, como acontece com o mantra de uma iniciação, pois ele já pertence a todos e a cada um.

Sunday, September 22, 2024

Nirvana Shatkam

 


O Nirvana Shatkam, ou também chamado de Atma Shatkam, é o renomado texto em seis versos onde Adi Shankaracharya utiliza o método Neti Neti (“não isso, não isso”) para diferenciar o Atma eterno da natureza (o corpo) material. Compreendendo-se o que não é, chega-se ao que é: conhecimento e bem-aventurança eternos. Por se tratar de um texto atribuído a Adi Shankaracharya, há inúmeras versões do mesmo, com adendos e diferenças de significados dependendo do tradutor e época, assim, optamos por utilizar a versão traduzida pelo respeitado cientista e indólogo P. R. Ramachander.

Baixe em PDF aqui.

º º º

Nirvana Shatkam

Por Adi Shankaracharya


Eu não sou a mente, nem a inteligência,

Nem o ego, nem o pensamento.

Eu não sou os ouvidos ou a língua ou o nariz ou os olhos,

Nem sou a terra ou o céu, o ar ou a luz.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu não sou o movimento [que surge] devido à vida,

Nem os cinco ventos [os ares vitais], nem os sete elementos [que compõem o corpo].

Eu não sou os cinco invólucros [do corpo],

Nem sou a voz ou as mãos ou os pés ou outros órgãos.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu jamais tenho inimizade ou amizade,

Nem tenho vigor ou sentimento de competição.

Eu não tenho posses ou dinheiro ou paixão ou salvação.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e bem-aventurança.

Eu não tenho méritos ou deméritos, ou prazer ou dor,

Nem tenho cânticos sagrados ou água sagrada ou livros sagrados ou sacrifício do fogo.

Eu não sou o alimento, nem o consumidor do alimento.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança. 


Eu não tenho morte, nem dúvidas ou distinção de castas,

Eu não tenho pai ou mãe, ou sequer nascimento.

Eu não tenho quaisquer relacionamentos ou amigos ou mestres ou discípulos.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.


Eu não tenho dúvidas, não tenho forma,

Devido ao conhecimento [do Atma], não tenho relação alguma com meus órgãos.

Estou para sempre em redenção.

Eu sou Shiva, eu sou Shiva, da natureza do conhecimento e da bem-aventurança.

º º º

Traduzido para o inglês por P. R. Ramachander

Traduzido para o português por Mariângela Carvalho


[N. do T.: As informações em colchetes são adendos do tradutor.]

Devi Upanishad

  Na ocasião deste Navaratri, enquanto aguardamos a chegada de Durga e celebramos suas nove principais manifestações, podemos nos aproximar ...